"Fernando Gomes, neste momento, está a tentar passar pelo lameirinho sem sujar as calças. No Parlamento, na quarta-feira, perante os deputados da Comissão da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto anunciou que te na mente um pacote de medidas para que, pelo menos, se desanuvie o ambiente em torno do futebol. Mudar a filosofia bacoca da indústria nacional é mais difícil. Muito mais difícil. Impossível.
Nesta sua demanda, o presidente da FPF terá sujado um pouco as calças quando deixou reparos aos programas de comentário, que de desportivo nada têm, passados pelas televisões em horário nobre e que por alguns foi interpretado como um atentado à liberdade de expressão, um dos pilares básicos e fundamentais de qualquer democracia com o qual, diga-se, os dirigentes dos clubes convivem pessimamente. O problema aqui será o da regulação, uma vez que os ditos programas apresentam-se como de informação mas de informação nada têm. Salvo raras excepções, não passam de um encontro semanal de chefes de claque um bocadinho mais polidos - não no conteúdo, mas na forma.
E este problemas de regulação pode ser a génese da questão. Os conteúdos pornográficos, por exemplo, só passam a determinadas horas e com bolinha no canto do ecrã. E estes programas, não raras vezes, não passam de pornografia clubista.
A reacção dos clubes, tal como aconteceu após a publicação do artigo do presidente da FPF, foi a esperada. Aquilino Ribeiro escreveu, na década de 40 do século passado, um retrato pungente e magnífico da vivência das gentes beirãs intitulado Quando os lobos uivam. Foi o que se ouviu. Uivos mais fortes ou mais fracos, sabendo-se que os tais lobos - leia-se os grandes - querem todos a mesma presa: o título nacional.
Já perceberam porque é que a justiça desportiva deveria deixar de ser tutelada pelos clubes?"
Hugo Forte, in A Bola
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