"Faça um exercício: feche os olhos e diga o nome do primeiro jogador do Moreirense que lhe vem à cabeça. Difícil? Então venha para sul e pense em alguém do V. Setúbal, Estoril, algum? E que tal o Belenenses? E do Tondela? Do Paços de Ferreira? Do Chaves? Do Aves? Se tem dificuldade em seleccionar um nome ou só se lembrar do fulano que marcou ou fez aquela finta engraçada contra a sua equipa (parto de pressuposto de um que torce por Benfica, Sporting ou FC Porto) não fique chateado: faz parte da maioria. Daqueles que seguem o futebol de uma forma interessada mas sem ler todas as notícias, sem se interessar muito por tudo o que não diga respeito às cores dominantes. Que sabe o onze do Chelsea mas não o do lateral-direito do quinto ou sexto classificado da Liga. Ou sequer do guarda-redes.
O futebol português está, infelizmente, como o país. Um Portugal que hoje chora o longo eucaliptal. Porque seca como sempre e arde como nunca. Os três grandes cada vez mais concentram as atenções e tudo à volta também definha. Há sempre um SC Braga, um V. Guimarães, um Marítimo e um Rio Ave a lutar por algo mais, mas as desigualdades são cada vez maiores. A desertificação do nosso interior podia ser transportada para o campeonato. Oito dos 18 clubes não gastaram dinheiro no verão em contratações e outros quatro nem chegaram a um milhão de euros de investimento. É verdade que os nossos treinadores são muito bons, mas sem dinheiro não há qualidade. E sem qualidade o campeonato torna-se numa prova incapaz de se vender para fora. Muita táctica mas pouco virtuosismo individual. A descentralização de direitos televisivos explica a clivagem, mas pedia-se mais criatividade de quem gere a prova. Nem uma promo, um media open day obrigatório, um rasgo qualquer. Na última jornada europeia as cinco equipas portuguesas perderam. E no regresso ao campeonato quatro delas ganharam e outra empatou. Não é por acaso."
Fernando Urbano, in A Bola
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