"Após a fantástica vitória na Taça Latina, em 1950, o Benfica parte para uma digressão enorme em África, passando por Moçambique, África do Sul, Angola e Congo Belga. Trouxe de lá o seu futuro capitão.
Falemos de um Verão, agora que este está a chegar ao fim. 1950. O Benfica acabara de ganhar a Taça Latina. Primeira grande vitória internacional do futebol português. E ainda há um ou outro pacóvio mazombo capaz, por imbecilidade ou desporto, de diminuir a importância desse feito... Enfim! 'De lombo da estupidez, fez-nos Deus esses chouriços', como diria o divino Eça.
O Benfica foi primeiro o Moçambique.
Um êxito inesquecível! Tornou-se prática cortejos de automóveis seguirem o autocarro da equipa fosse ele para onde fosse.
Depois, África do Sul.
Mais de 300 automóveis formam a caravana que acompanha a comitiva benfiquista até Joanesburgo.
Um jogo apenas, com um resultado desastroso (1-5) perante a Selecção do Sul Transvaal, e nova viagem, agora para Angola, via Léopoldville, cidade para onde estava marcado o final da longuíssima digressão.
Em Luanda repete-se o quadro de Lourenço Marques. Manifestações de alegria espontânea crescem em toda a parte como cogumelos. Uma vitória sobre a Selecção de Luanda (1-0), a abrir, e assim continuou, no Lobito, em Benguela, em Moçâmedes (agora Namibe), em Sá da Bandeira (agora Lubango), em Nova Lisboa (agora Huambo) - onde os dirigentes encarnados se queixaram de uma recepção indigna por parte dos responsáveis locais -, e Silva Porto (agora Cuíto).
Por toda Angola andou a equipa do Benfica ao longo da segunda metade do mês de Agosto. Vitórias gordas - 10-1 à Selecção de Moçâmedes, 7-0 à Selecção de Sá da Bandeira, 10-3 à Selecção de Silva Porto, 5-1 à Selecção de Benguela; outra mais à tangente, 3-2 de novo à Selecção de Luanda, num jogo que por pouco não descampou em pancadaria; um empate,1-1 com a Selecção de Nova Lisboa; e uma derrota, com a Selecção do Lobito (1-3).
Aquele rapaz inconfundível...
A Selecção do Lobito contava com alguns jogadores que já tinham actuado na Metrópole, como por exemplo Lourenço, do FC Porto, marcador do primeiro golo.
Mas contava, sobretudo, com um jovem avançado-centro felino e ágil, à beira de fazer 20 anos, e que defendia as cores do Lusitano do Lobito.
Chamava-se José Pinto de Carvalho Santos Águas!
Com ponto de exclamação.
Marca os dois últimos golos ao Benfica, e logo aí os dirigentes do clube não têm dúvidas.
Em Lisboa corre a notícia: 'Um jovem, cedido pelo Lusitano do Lobito, acompanha a nossa representação como elementos de prometedor futuro para as nossas fileiras'. E que futuro! Pouco mais de um mês depois já era titular do Benfica no campeonato nacional.
É tempo de regressar a casa. Mas, pelo caminho, o Benfica ainda joga em Léopoldville (actual Kinchasa) contra uma selecção de belgas e franceses e vence por 4-0 num estádio a abarrotar. Ponto final numa digressão enorme (de 25 de Julho a 5 de Setembro) que acaba por ter custos terríveis na época que está à beira de começar. Mas a pérola mais valiosa já não fugia: era José Águas. Levantaria a mãos ambas duas Taças dos Campeões Europeus. Nenhum outro capitão português o imitou."
Afonso de Melo, in O Benfica
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