domingo, 10 de setembro de 2017

Não chega de bater no árbitro?

"Agora já não interessa se o árbitro decide bem ou mal. Interessa apenas quem da decisão (mesmo que acertada) tira proveito.

A arbitragem portuguesa vive, dentro do campo, o melhor momento da sua história. À quinta jornada não houve um único jogo resolvido por um erro grosseiro de arbitragem, o que torna evidentes os benefícios que a introdução do videoárbitro trouxe ao nosso campeonato - apesar de alguns continuarem a olhar para a tecnologia com desconfiança. Faz parte, nunca a mudança tem o condão de agradar a todos. Mas mesmo os mais cépticos, assumam-no ou não, já puderam perceber que com o VAR temos, todos e sem excepções, muito mais a ganhar do que perder. Só falta agora convencermo-nos de que a verdade desportiva, que durante tantos anos pedimos, vale bem umas paragens mais prolongadas ou compensa o facto de adeptos e equipas festejarem um golo que afinal não vale. É o preço a pagar - e, convenhamos, não é um preço assim tão alto. É, como em tudo na vida, uma questão de hábito.

A arbitragem portuguesa vive, fora do campo, o pior momento da sua história. Porque apesar de ninguém deles de poder queixar até ao momento, todas as semanas os árbitros (e agora também os videoárbitros) continuam sob a mira dos snipers que têm como missão disparar contra tudo o que mexe, inocente ou culpado. Agora já não interessa se a equipa de arbitragem decide bem ou mal. Interessa apenas quem da decisão (mesmo que acertada) tira proveito. Do género: 'se o VAR decide bem a meu favor, é uma evolução tremenda pela qual durante tantos anos batalhei, eu que tenho os olhos rasgados até à nuca e vejo as coisas antes de toda a gente'; 'se decide bem mas contra mim ou a favor dos meus rivais é porque o sistema continua a favorecer sempre os mesmos e o VAR não serve, como eu sempre disse que não serviria, para nada'.
E, talvez, um exagero. Mas face ao que assistimos na noite de sexta-feira, por exemplo, não anda muito longe da verdade. Se não fosse triste até dava para rir... Enquanto aqueles que têm responsabilidades na liderança dos clubes (ou na sua comunicação, vá) não souberem ser sérios, o futebol português não passará de uma brincadeira. Não de meninos, mas de gente grande. Ou pelo menos com idade suficiente para ter muito mais juízo.

Alguém precisa de meter mão nisto. Há, não podemos esconder mais, um risco elevado de as coisas se tornarem demasiado perigosas. E os árbitros precisam, é evidente, de ajuda para ultrapassarem um momento delicadíssimo - talvez o mais delicado da história de arbitragem portuguesa. Façamos este exercício: Francisco J. Marques, director de comunicação do FC Porto, denunciou, ainda antes da época começar, o nome de cinco árbitros como estando ligados ao Benfica por via de e-mails que estão, neste momento, nas mãos da Justiça. E continua a bater neles, porque entendeu o Conselho de Arbitragem continuar a nomeá-los para jogos da Liga - em que têm de arbitrar (ou videoárbitro) Benfica, Sporting e FC Porto. Poderia poupá-los a isso, é verdade, mas entenderá o organismo liderado por José Fontelas Gomes que isso seria ceder à pressão - até porque não há notícia de alguém na Polícia Judiciária ter já encontrado argumentos suficientes para dizer que aqueles cinco árbitros não deveriam apitar mais jogos dos encarnados. E como a esses nomes Francisco J. Marques já juntou, numa outra leva, Bruno Paixão (por razões que ninguém percebeu bem) e Gonçalo Martins (o tal que ontem anulou, bem, o golo que daria o empate do Portimonense na Luz), qualquer dia podíamos não ter sequer árbitros para apitar os três grandes...
É preciso encontrar forma de colocar ponto final na pressão que todas as semanas se coloca, de forma propositada e aparentemente concertada, nos árbitros portugueses. Contra o discurso de ódio, como (e bem) lhe chamou o Conselho de Arbitragem, já não chegam as palavras. É preciso agir. Depressa. E os clubes (perdoem-me os que de mim discordam, mas ainda não me conseguiram convencer do contrário) não conseguem dar o passo necessário. Precisam, pelo menos, de um empurrão.

Lapidar
«Chamem-lhe chouriço, eu chamo-lhe crença. Vi que o guarda-redes deu três passos em frente e tentei a minha sorte»
André Almeida, jogador do Benfica

«O principal segredo do nosso sucesso nos últimos anos é sabermos que não há facilidades. Às vezes tem de ganhar-se assim, com união, com determinação e com muita crença»
Rui Vitória, treinador do Benfica
(...)"

Ricardo Quaresma, in A Bola

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