quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Sortes e sorteios (e queixinhas) empate não empata

"Houve bom sendo no Conselho de Disciplina e a queixinha foi para o galheiro, apesar do perigoso precedente aberto (...)

Quatro jornadas das 34 de todo o campeonato. Ou seja, 12 por cento. Antigamente, havia o campeão de Inverno e o Natal do Sporting. De algum tempo a esta parte, há o campeão à 4.ª jornada que, como as estatísticas revelam neste tetracampeonato do Benfica, nunca foi o... Benfica. Particularmente o rival lisboeta rejubila com entradas de leão e uns pontecos perdidos pelos encarnados. Assim sendo, a quarta jornada foi uma festarola de outro lado da Segunda Circular. Não comento a deselegância de dizer que o primeiro milho é dos leões (creio até que não apreciam tal cereal), pois é bem meritório este início do Sporting que se reforçou significativamente. Só espero que não se entusiasmem tanto com um singelo empate do Benfica...
Não foi um jogo muito conseguido, o do Benfica em Vila do Conde. Teve uma primeira parte por demais discreta e, verdadeiramente, só atinou na última meia-hora, que até poderia ter dado o triunfo. Há um aspecto que não entendo: na Luz são os primeiros 30 minutos que contam para resolver a contenda, fora da Luz são os últimos 30 minutos (em Chaves com sucesso, mas contra o Rio Ave não). Por que será? Manda a justiça dizer que o Benfica não ganhou também por mérito do adversário, contra o qual assim jogando não vai ser fácil ultrapassá-lo. Lastimo a falta que Fejsa e Sálvio fizeram.
Para além de uma boa chance para marcar, o Rio Ave não ameaçou a baliza de Bruno Varela, a não ser na infelicidade do autogolo. No fim do jogo, houve um certo sentimento de frustração tendo em conta 3 soberanas oportunidades do Benfica, defendidas brilhantemente por Cássio. Não fora o guarda-redes, dirão alguns... Não concordo com esta constatação, muito comum no nosso quotidiano futebolístico, de considerar o guardião quase como se fosse o poste ou a barra. Ele é um dos onze jogadores e se, em regra, exaltamos com um jogador que marca, manda o bom sendo e a justeza que assinalemos, do mesmo modo, um que evita golos.
Uma última nota: mais duas lesões musculares. Já lhes perdi a conta, num mês e pouco de actividade. Repete-se o ano anterior. Agora foram Jardel e Pizzi, sem substitutos à altura. Amanhã termina o prazo das transferências, logo o tempo para reforçar o eixo central da defesa, ora constituído pelo notável Luisão (mas já são 36 anos), o algo irregular Lisandro e o debilitado Jardel. Sim ou não, fico aliviado com o término desse obsceno prazo para compras e vendas, que só serve os intermediários e negociantes. Isto chegou a tal ponto que um jogador pode ter estado numa equipa eliminada nas competições europeias, para, uns dias depois, mudar para a equipa que eliminou a sua.

O videoárbitro à medida dos infalíveis
não há paciência para certas atitudes de uns oficiais falantes dos rivais dos SLB. Tudo isto por causa de penálti a favor do Benfica por falta sobre Jonas. Infracção escusada, mas evidente. Os justiceiros reagiram sobre não sei quê, confesso. Erro do árbitro, do VAR ou só uma pateta pressão sobre a arbitragem? Talvez fosse bom lembrar um tal penálti sobre uma fita de Bas Dost que, no fim, deu a vitória ao SCP contra o V. Setúbal. Aí caladinho, pois claro, o sempre loquaz comunicador leonino. Em circunstâncias similares, umas vezes, o VAR é óptimo (para SCP e FCP, entenda-se), outras vezes é criticável (no caso do SLB, evidentemente). Uns verdadeiros arautos da verdade e da ética desportiva.
Eliseu - já o disse aqui na semana passada - foi imprudente no jogo com o Belenenses e deveria ter recebido cartão vermelho. Percebe-se que não houve intenção de magoar o adversário, mas foi demasiado descuidado na abordagem do lance. Entretanto, por via da recorrente queixite sportinguista, o caso subiu aos órgãos disciplinares. Todavia, houve bom sendo no Conselho de Disciplina e a queixinha foi para o galheiro, apesar do perigoso precedente procedimento de uma tal douta Comissão de Instrutores da Liga! Se o recurso leonino tivesse tido provimento ter-se-ia aberto uma nova a insidiosa caixa de Pandora. Nos jogos do Benfica, passaria a haver vários juízes: os árbitros de campo, o VAR e o Sporting! Os primeiros ficariam ao sabor do último e o tão requisitado videoárbitro entraria num delicado limbo.
Mas como se não fosse suficiente, o SCP insistiu e quis expulsar 3 vezes Eliseu no jogo em Vila do Conde, talvez sugerindo que, no futuro, o jogador fosse irradiado ou, então, jogasse sentado. O descaramento é tal que nem olharam para Battaglia que, no jogo com o Estoril, e nos primeiros 30 minutos, deveria ter sido expulso em duas ocasiões. Os tais lances de Eliseu ao pé destes foram angélicos. E porque não reclamaram sobre a agressão sem bola de Brahimi no jogo em Braga? Miserável, cretina,, incendiária, irresponsável é o mínimo que se pode dizer desta tentativa (frustrada) da nova vaga pós-VAR!

Sorteio da Champions
Benfica e Porto ficaram em dois grupos, onde tudo é possível. Quero dizer, ou passarem aos oitavos de final ou ficarem até em primeiro lugar do respectivo grupo (mais difícil no caso do Benfica), ou serem relegados para a Liga Europa ou, ainda que com hipóteses bem mais remotas, ficarem em último, até porque não há daquelas equipinhas tipo Qarabag que tem nome de marca de airbag. Já o Sporting não tinha por onde escolher, estando no chamado pote 4. Vai lutar pela Liga Europa com os gregos. Não se pode ter sempre sorte, depois de se ter salvo in extremis de apanhar uma equipa forte no play-off e de lhe calhar no sorteio um muito fraco segundo classificado do outrora conceituado futebol romeno (76.º do ranking).
Há um ponto que merece ser reflectido: o da constituição do pote 1 que, agora, é o dos clubes campeões dos países com melhor ranking nas provas por equipas. Bem sei que na Champions, temos potes para todos os gostos. Só que, como diz o povo, nem com tanta fome ao prato, nem com tanta sede ao pote. Este ano, ficaram assim (equipas e ranking):

Pote 1
Real Madrid - 1
Bayern - 4
Chelsea - 13
Juventus - 5
Benfica- 10
Mónaco - 21
Spartak Moscovo - 105
Shakhtar Donestsk - 18

Pote 2
Barcelona - 3
Atlético Madrid - 2
PSG - 7
Dortmund - 8
Sevilha - 6
Man. City - 9
FC Porto - 12
Man. United -16

É facilmente constatável que era preferível estar no pote 2 do que no pote 1. Em suma, ser cabeça-de-série não significa necessariamente ser cabeça-de-série. Até pode acontecer que acabe com o pote na cabeça.
Uma nota, ainda, sobre a UEFA sempre renitente e resistente a mudanças nas regras do jogo. E, pelos vistos e por outras razões, também resistente a aumentar o encaixe dos clubes participantes nas provas europeias. Nesta época, o seu valor é o mesmo, não obstante o aumento considerável das receitas que lhe dão suporte. É só enfardar.

Contraluz
- Confusão
Agora que as principais provas ciclistas têm magnificas transmissões televisivas (incluindo a nossa), não percebo a confusão de dorsais que leva a que quase não se reconheça o camisola amarela ou vermelha (no caso da Vuelta). Lembro-me do tempo em que de amarelo só o primeiro, não sendo permitida cor semelhante às equipas concorrentes.
- Número. 25
Foi o número de anos que Francesco Totti que agora terminou a carreira aos 40 anos, jogou na AS Roma (786 jogos). Não teve lhe tivesse sido difícil jogar num plano mais elevado (apenas foi campeão um ano). Atleta completo, correcto e dedicado. «Il Re di Roma» é caso único no reino dos mercenários.
- Acontecimento.
Fernando Pimenta é campeão do mundo em canoagem. Parabéns! Portugal está na moda desportiva. Campeão europeu de futebol, mundial feminino em 50 Km marcha, agora na canoagem, campeão europeu de hóquei e outras vitórias em triatlo e não só representam uma excelente evolução.
- Frase.
«Os desportos não constroem o carácter. Revelam-no»
(Heywood Brown, escritor americano, 1888-1939)"

Bagão Félix, in A Bola

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