domingo, 6 de agosto de 2017

Futebol: 2017, o ano da grande vertigem e do assalto ao futuro

"Os mais ricos da Europa, numa estratégia concertada, num liberalismo sem regras (etimologicamente selvagem), estavam convencidos que conseguiam parar o tempo, para usufruir de mordomias perenes e alargar uma corte de servos submissos (controlar, "comprar" tornou-se hábito, incluindo colaboração de ídolos com passado fantástico, mas presente pouco recomendável).
O futebol (o mundo em geral) foi-se hierarquizando em estruturas infindáveis, de complexidade extrema e poder absoluto, com lideranças inacessíveis ao serviço de grupos ocultos que praticam fervorosamente o culto de nova entidade suprema: Os milhões, muitos milhões sem fim.
Cada vez mais, com uma liberdade inusitada, o "Clube" dos muito endinheirados passou a divertir-se também com contratações de jogadores de futebol (tipo monopólio de família restrita em jogos de inflação galopante), para ver quem se atrevia a subir a parada: tipo jogo da roleta russa!
Uma parte da Comunicação Social (praticamente na dependência desses players) delirou, pois todos os dias havia notícias frescas e com garantia total de audiências planetárias. Convém recordar que as receitas e despesas dos grandes clubes europeus de futebol, com todo o esplendor dos seus milhões, são sempre notícia viciante para multidões ávidas de confronto de argumentos e de clubismos fanatizados.
O combate, a luta, como constituinte do nosso ADN colectivo, foi evoluindo e substituindo a força e coragem física, a sabedoria e a proximidade de divindades, pelo poder de riquezas, de milhões, tenham a origem que tiverem, tragam ou não vestígios de injustiça, de sangue ou de eventuais fugas à lei!
Dos 20 clubes de futebol mais ricos da Europa (8 de Inglaterra, 4 de Itália, 3 de Espanha, 3 da Alemanha, 1 de França e 1 da Rússia, entre outros sempre prontos a integrar esse grupo de privilégios) as receitas, em conjunto, atingiram este ano o valor de 7.538,1 milhões de euros!
Quantos desses clubes mudaram e vão mudar de donos?!
Em 2017, os donos e os adeptos desses grandes colossos europeus tiveram uma surpresa: A escala mudou, a escala como base de tudo agora é de outra dimensão. Até as apostas desportivas são de outra galáxia.
Os milhões aumentam, as proveniências dos recursos alargam-se a outras latitudes, outros continente, outros valores e contextos culturais e civilizacionais diversificados.
A escala, imparável, prepara-se para engolir os que até aqui dominaram o futebol, particularmente nos últimos anos. Toque a rebate, pois a questão passou a ser de "vida ou de morte" (para investidores, é claro)! Fair Play Financeiro, imposição de tectos salariais, redução do número de jogadores por planteis de clubes, criação de um imposto de luxo (jogadores comparáveis a jóias ou quadros de arte valiosos?), são algumas das medidas e estratégias de "naufrago aflito" para procurar salvar-se e não perder o controlo, mesmo que assumindo regras com as quais nunca concordou. O que se faz para não perder o lugar!
Em termos ambientais, a Terra passa pelo mesmo dilema do futebol e já com sinais de alerta evidentes e perigosamente irreversíveis, mas que são sempre desvalorizados por interesses, por tremenda ignorância e egoísmos.
Há sempre "tubarões maiores: esse é o problema da escala!
O descontrolo é evidente, os grandes do passado já eram (ou estão em vias de), os novos donos são outros, os direitos televisivos não cessam de aumentar (será possível continuar a crescer assim?) e a cultura do "pão e circo" revela indícios dramáticos de fim de império.
Cada país vai ter de criar novos quadros legislativos, com regras inovadoras para situações complexas, potenciando um contínuo caos e conflitualidade.
Os mais poderosos preparam o assalto final ao futebol.
Contudo, a história da humanidade é também uma permanente aventura de renovação, de superação, de reconstrução e de refundação sucessiva.
O Football Leaks se tivesse sido aproveitado, de imediato, para um súbito movimento de responsabilização transparente, certamente teria evitado tamanha perda de tempo e de recursos. Quem conhece e gosta de futebol não se deixa intimidar ou encantar por cânticos de sereias para "campeonatos" fraticidas e antropofágicos.
Nem todos se deixam cair nas tentações da vertigem. Muitos vão resistir com coragem e nunca abandonando um jogo em que acreditam e que desejam sempre melhor. O futuro como conquista só ganha sentido com fortes alicerces no prestígio do passado.
A começar pelos adeptos dos chamados pequenos clubes, afinal onde tudo verdadeiramente começa. O crescimento louco, sem regras, criou clubes diferentes que, com os avanços do marketing, originou um paradoxo curioso: concentração e fidelização de adeptos de todos os continentes em poucos clubes de dimensão e influência global (enormes receitas garantidas) - estratégia comercial que também pode conduzir a alienação.
Mais do que apontar unicamente os culpados (a História encarregar-se-á de os pulverizar da memória colectiva) importa valorizar o local, as realidades e proximidades, criando condições de partilha e envolvimento num amplo e forte movimento associativo.
Nesse movimento, os talentos são sempre para proteger, numa caminhada segura para o topo preservando uma saudável popularidade com afeto e sem vertigens de falsas utopias.
Ídolos com milhões e pés de barro são criações virtuais e sempre um assalto ao futuro.Reconhecer o mérito é sempre uma base essencial para evitar vertigens e aprofundar o fair play.
Façamos de 2017 o ano da renovação transparente!
(...)"

Aníbal Styliano, in A Bola

PS: Coloquei esta crónica no Indefectível, não devido ao conteúdo principal da opinião, mas devido aos 'post scriptum' que eu recuso-me a transcrever!!!
Um professor universitário, ex-dirigente desportivo, devia evitar este tipo de exposição, porque assim não passa de mais um 'macaco' com gravata!!!
Inacreditável a analise às palavras de Luís Filipe Vieira na conferência de imprensa, onde anunciou a expansão do Caixa Futebol Campus! Como é que alguém, consegue interpretar aquelas palavras, como ofensas aos outros Clubes?!!!
Eu compreendo que a 'quente', durante os 90 minutos, que as emoções tomem conta de todos... mas a frio, existem limites para a clubite... principalmente quando essa clubite não passa de um anti primário, neste caso anti-Benfiquismo!!!

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