"Uma violenta invasão de campo, um Benfica-Belenenses que durou 43' e o sensato Toni que salvou a honra do convento.
Às 15h do dia 25 de Janeiro de 1970 era dado o pontapé de saída da 16.ª jornada do Campeonato Nacional. Um Benfica-Belenenses em dia de festa: Eusébio fazia 28 anos. Mas o que era para ser só mais um jogo acabou por se transformar num episódio inédito no futebol português. Tudo por causa do árbitro, João Nogueira, cuja dualidade de critérios deixou o público de cabeça perdida.
O jogo começou com as duas equipas a cometerem faltas graves, mas só os 'encarnados' foram severamente sancionados. Aos 35' Torres foi expulso por deitado ao chão um adversário e aos 43' foi a vez de Malta da Silva, que atingiu um 'azul' numa perna. Foi a gota de água. O 3.ª Anel transformou-se numa 'onda avassaladora de insensatez' que irrompeu campo adentro. Pessoas de guarda-chuva em riste convergiam para um único ponto: o árbitro, que só se apercebeu de gravidade da situação quando Toni lhe gritou 'Fuja sr. árbitro. Fuja!' e começou a correr ao seu lado, protegendo-se com o seu próprio corpo, qual escudo. 'Acompanhei-o até às escadas que conduzem às cabinas. Matavam o homem!'. A meio do sprint o árbitro ainda levou com um guarda-chuva nas costas e assim que pisou o primeiro degrau desequilibrou-se e lá foi ele aos trambolhões escada abaixo. Quando aterrou estava combalido, mas vivo! O jogo terminou ali, aos 43' com 0-0 no marcador. 'Naquele «inferno» qual era o árbitro que voltava a arriscar a vida?', atirou, já à porta do Estádio, de onde saiu protegido num carro da polícia.
O episódio caiu como uma bomba na imprensa. Dezoito países noticiaram o sucedido e durante quase um mês não se falou noutra coisa. Haveria repetição de jogo? Aceitar-se-ia o empate? A 18 de Fevereiro a Federação punha finalmente um ponto final no assunto. O Estádio da Luz ficaria interdito durante oito jogos e o resultado do Benfica-Belenenses mais curto de sempre ficava no 0-0.
Mais tarde, quando questionado sobre a sua atitude para com um árbitro que estava claramente a prejudicar o Benfica, Toni foi claro: 'Cumpri meu dever de solidariedade apenas', mas a verdade é que foi o gesto nobre e altruísta do 'Senhor Benfica' que salvou o bom nome do desporto-rei naquele tarde.
Pode conhecer esta e outras histórias na exposição Lisboa e Benfica - 20 Clubes, 20 Histórias, até 30 de Setembro na Rua do Jardim do Regedor, em Lisboa."
Marisa Furtado, in O Benfica
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