quarta-feira, 16 de agosto de 2017

AA34

"Ontem saí de casa mais cedo e fui à pastelaria em frente beber um café. Quem me atendeu foi o André Almeida. Como precisava de fazer tempo, fui dar uma volta ao parque mais próximo e cruzei-me com o jardineiro que estava a cortar a relva. Era o André Almeida. Fez-se hora de ir à loja de costura levantar as calças que tinha deixado há dois dias por causa das bainhas. Estavam impecáveis, agradeci ao André Almeida. No regresso a casa, e por ser a caminho, fui cortar o cabelo. Não tinha marcação, nem sabia se daria, mas o André Almeida atendeu-me.
Esta pequena brincadeira introdutória levanta um pouco o véu sobre o que pretendo defender. Eu sei que o futebol é cada vez mais um desporto de craques e milhões que ofuscam operários e tostões, mas sempre tive e continuarei a ter o máximo respeito e admiração por jogadores como André Almeida. Falo dele porque acho que é um bom exemplo, mas poderia falar de muitos outros que sabem que nunca foram nem nunca serão foras de série, mas nem por isso deixam de ser competentes naquilo que fazem. Não precisam de ser os melhores para serem bons, vencendo as críticas e a desconfiança com muito trabalho.
O leitor pode chamar-me louco, mas eu consigo ver Cristiano Ronaldo quando olho para André Almeida a jogar. Não é no talento, obviamente, tão-pouco na estampa ou pujança física. É na mentalidade. Naquela garra, determinação e ambição como corre a cada bola, do primeiro ao último minuto, mesmo que, instantes antes, tenha sido ultrapassado ou tenha feito um mau centro. Isso aconteceu em Chaves, mais uma vez, e no entanto, com o jogo a chegar ao fim e o Benfica a precisar de marcar, lá andava André Almeida, a encontrar forças no fundo da alma para ir lá acima mais uma vez. E outra, e mais outra...
Sempre com a mesma disponibilidade com que me serviu um café, com que cortou a relva do jardim, com que fez as bainhas das minhas calças e me cortou o cabelo. Há muitos Andrés Almeidas neste mundo. No futebol e na vida."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

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