"Preocupante a forma como o videoárbitro não serviu, na maior parte das vezes, para esclarecimento inequívoco das dúvidas, até com benefícios evidentes para a selecção nacional que conquistou o terceiro lugar nesta Taça das Confederações.
Chove sobre a cidade, agora que o Portugal-México, a contar para esse sempre irritante e meio incompreensível jogo para definir o terceiro e o quarto lugar desta Taça das Confederações, Rússia 2017, chegou ao fim é é tempo, ao fim de quinze dias passados a saltar entre Kazan, Moscovo, São Petersburgo, e depois Kazan e Moscovo outra vez, de regressar a casa com a ideia clara de que, apesar de tudo, a selecção nacional ficou um bocadinho (não grande, mais ainda assim um bocadinho) aquém das expectativas que nela foram depositadas, sobretudo sendo, como é, a campeã da Europa em título com todas as responsabilidades que isso, evidentemente, acarreta. Vitória final dos alemães, com golpes de uma jovem cavalaria, sempre capaz de tirar proveito dos erros alheios, e de que maneira!
Cinco jogos disputou Portugal - aí o máximo possível - e não tendo enchido o olho aos que seguiam a equipa de perto e com entusiasmo (os russos trouxeram-na, positivamente, nas palminhas, tirando, vá lá, o último jogo com o México), como aliás é apanágio do tal pragmatismo que o seleccionador, Fernando Santos, implementou desde o seu primeiro dia no cargo, fez o suficiente para estar entre os quatro melhores de um torneio que serviu, principalmente, para testar a organização que levará a cabo o empreendimento de pôr a funcionar a próxima fase final do Campeonato do Mundo, daqui a um ano. E, quanto a isso, só há que retirar ilações positivas. Estádios regularmente cheios - muito à custa de convites, mas tudo bem, afinal os testes fazem com estádios compostos e não às moscas -, uma forma clara de responder às questões colocadas, rapidez e método em qualquer problema que foi preciso resolver na área da imprensa, que é a que me diz mais directamente respeito.
Uma despedida rija!
O terceiro lugar de Portugal, depois da desilusão chilena de Kazan, aguentada até aos penalties à custa de muita fortuna e boa estrela, que foi desde a bola dupla ao poste e à barra de Rui Patrício, ao penálti claro perdoado a José Fonte, acabou se afirmar à custa de um México que até tinha sido ligeiramente superior à equipa de Fernando Santos no jogo de estreia desta prova. É um facto que, tal como aconteceu com a selecção portuguesa, a mexicana se apresentou sem alguns dos seus nomes mais sonantes. Isso não invalidou que tivéssemos assistido a um jogo rijo, de peito a peito, como se, afinal, estivesse em causa bem mais do que a consolação do triunfo na final dos pobres. A vitória lusitana não sofre contestação por aí além, baseou-se mesmo num folgo final meritório quando já tudo parecia perdido e com nova sessão perdulária de remates à baliza de Ochoa, que se deu ainda ao luxo de defender um penálti.
Beneficiaram, na generalidade, os nossos compatriotas do recurso ao videoárbitro. Que começou nesta competição, como uma epidemia e terminou, felizmente como uma mera constipação: deixando de ser um recurso constante.
Por acaso, ou talvez não, e vou bem mais pela segunda hipótese, ambos os jogos das meias-finais não foram interrompidos para opiniões televisivas. E confesso: não senti falta desses intervalos maçadores de expectativa irritante. Sobretudo depois de ter visto a forma dúbia como os foras-de-jogo são tratados com recurso a esta nova técnica: é fácil repor a situação de um lance ilegal que deu golo (volta-se ao local de partida), mas é impossível repor a situação de um lance anulado por um off-side mal assinalado, já que não pode desenhar-se o movimento outra vez. Talvez fosse bom repensar a forma de intervir. Sob o risco de entrarmos num tempo de injustiças informáticas.
No entanto para o terceiro e quarto lugares, o fraquinho árbitro da Arábia Saudita foi buscar aos ecrãs o penálti de Rafa Marquez sobre André Silva (que foi, de facto), mas não exerceu essa vantagem em outros casos e em prejuízo do México. Não se livrou, por isso, de um final de partida embrulhado em confusões, com muitos insultos e meia-dúzia de 'chinga-te!' à mistura. Na final, outra macacada: o árbitro foi ver na pantalha a repetição de uma agressão de um jogador chileno para depois lhe mostrar um amarelo. Ridículo! Para não dizer grotesco. É preocupante imaginar o charivari que se vai espalhar pelos campos de futebol de Portugal na próxima época, com adeptos a reclamarem do uso do não uso do videoárbitro por tudo e mais alguma coisa, razão porque, na minha opinião, e só minha, a imposição desta regra é manifestamente precipitada.
Aquilo que se viu durante a Taça das Confederações a que assistimos, ao vivo, nas cidades russas pelas quais Portugal passou, não oferece quaisquer garantias nem de isenção absoluta nem de diminuição dos erros arbitrais. Quanto muito passarão a ser escalpelizados praticamente, em directo ao invés de termos de esperar pelos programas da noite.
Fecha-se um capítulo. Outro se abrirá no próximo Verão. Até lá, regressa o futebol muito lá de casa."
Afonso de Melo, in O Benfica
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