quarta-feira, 19 de julho de 2017

Primeiras impressões

"Teria preferido que pelo menos o guarda-redes e o defesa-direito permanecessem mais um ano no plantel.

Em jeito de 13 pinceladas (o meu número da sorte), escrevo sobre o meu vestibular estado de alma benfiquista, em pleno defeso. Assim:

1. Não gosto de perder em circunstância alguma. E muito menos ser goleado. Bem sei que se tratou de um jogo de preparação contra uma razoável equipa suíça, em fase mais avançada de treino e pronta a iniciar as competições. Também sei que entraram 21 (!) jogadores e que os últimos golos do Young Boys tiveram lugar quando o Benfica jogava com um onze de young boys absolutamente improvável e com alguns atletas que não ficarão no plantel.
Mas que diabo, Benfica é Benfica e se se compreende a menor capacidade nos primeiros jogos, há que acautelar a parte reputacional do clube e o respeito pelos indefectíveis adeptos emigrantes. Sinceramente, penso que uma coisa é um jogo de preparação, outra é um jogo de experimentação. Para estes últimos, há outras soluções dentro de casa, que bem nos podem evitar estes ensaios à porta aberta e no estrangeiro.
Adiante e que sirva de lição.

2. Dir-me-ão: daqui a uma semana já ninguém se lembrará desta copiosa derrota. Talvez seja assim, mas que, ao menos, tenha (boas) consequências. Ao sabor do teclado, neste preciso momento, lembro-me de um jogo de pré-época em 2012, por sinal a sempre cativante Eusébio Cup, em que o Benfica cilindrou o Real Madrid por 5-2. Claro que os merengues, então treinados por José Mourinho, jogaram desfalcados e sem Cristiano Ronaldo. E o Benfica treinado por Jorge Jesus não foi campeão. Mas lá que foi saboroso foi, e que foi penoso para os madrilenos também. Desta vez o clube suíço de Berna saboreou e os benfiquistas penaram.

3. Apesar de tudo, nos dois jogos já disputados, houve jogadores que me agradaram. Gostei do internacional suíço, Seferovic, que creio vai ser um atacante muito útil durante a temporada, possante, maduro e rápido. Fiquei com vontade de ver jogar mais vezes o jovem Diogo Gonçalves, tecnicamente evoluído, agradavelmente bem integrado e veloz.

4. Com a provisoriedade de juízo tendo em conta os poucos minutos de futebol que já se viram, não me parece que o brasileiro Hermes tenha arcaboiço para estar no plantel, sobretudo a defender. Pedro Pereira, do outro lado da defesa, ainda precisa de provar por que é que o Benfica pagou caro à Sampdoria o seu resgate.

5. Falta um mês e meio para este período de transferências chegar às 24 badaladas de 31 de Agosto. Por isso, ainda muita água (leia-se: liquidez ou falta dela) vai passar debaixo das pontes (e respectivos engenheiros de comissões). Naquele último dia, os tão prestimosos Cadernos de A Bola correm cada vez mais o risco de serem um bom documento quase histórico, porque editados umas semanas antes.

6. Assim sendo e por agora, quanto ao plantel que vai lutar pelo pentacampeonato, a definitividade vira provisoriedade, assim se ilustrando capas e capas de jornais e revistas e se esticando, em jeito de pastilha elástica, programas televisivos sobre transferências e inferências.

7. No dia de Julho em que escrevo, o que mais me preocupa é o sector defensivo do Benfica. Por boas razões a montante, é certo. Saíram Ederson, Linfelof e Nélson Semedo (aqui com uma palavra de gratidão para Maxi Pereira que, com a sua saída, destapou um magnífico jovem) por maquias bem consideráveis. Mas, como dizem os entendidos, os ataques ganham jogos e as defesas ganham (longos) campeonatos. Parece-me imprudente mudar tão radicalmente o sector. Volta Garay!

8. Tenho pena destas saídas e teria preferido que, pelo menos o guarda-redes e o defesa-direito permanecessem um ano mais no plantel. A saída era certa, mas o tempo é uma variável e não uma imposição. Compreendo e aceito as razões financeiras, mas vender as três pérolas ao mesmo tempo envolve risco. Sobretudo, refiro-me a Ederson, guardião de inegável valor e primeiro atacante da equipa. Qualquer alternativa é pior, sem pôr em causa a duradoura classe de Júlio César. Mas não é a mesma coisa e acontece que, neste caso, o factor financeiro não seria assim tão impossível de resistir. O Benfica recebe metade do valor da transferência e o empresário recebe 8 milhões pelos 20% que detinha do passe... Quem terá pressionado mais a venda?

9. Com Luisão na recta final e mais um ano de carreira, tenho esperança de ver um Jardel de novo em pleno. Espero que Grimaldo fique por cá e não pondo em causa o profissionalismo e polivalência de André Almeida, receio que as alternativas defensivas actuais não sejam suficientemente fortes.

10. Do meio-campo para a frente e mesmo dando de barato a saída de Raúl Jiménez ou de Mitroglou e também de Samaris, o plantel é valioso e estável. Com a revelação de Diogo Gonçalves, haverá a possibilidade de sair um ala. De todos, escolheria Carrillo. Mas não Salvio, que é não só um notável atleta como já um símbolo de êxitos e carisma. Tenho expectativas muito positiva quanto a Krovinovic e gostaria que João Carvalho pudesse agarrar esta oportunidade e André Horta tivesse a época que no ano passado prometeu e não concretizou por lesões. E como sonhar não paga imposto, bem gostaria de ver Renato Sanches a voltar à sua alegria contagiante de jogar no Estádio da Luz...

11. Compreendo e aplaudo a estratégia do presidente Luís Filipe Vieira na redução gradual e sustentada do passivo. E tenho a consciência que é complexo fazer convergir a qualidade do plantel e o saneamento do balanço. Todavia, nos últimos anos, foi categoricamente possível avançar nos dois tabuleiros. Para tal, muito contribuíram três factores:
a) maximização das oportunidades de transacções de mercado; 
b) planeamento e scouting de elevadíssima qualidade que permitiram reconstruir plantéis de época para época com a mesma eficácia e resultados;
c) a aposta na formação de jovens jogadores (quer nas camadas etariamente inferiores, quer através da gestão da equipa B), com condições técnicas, operacionais e logísticas que podem meças por esse mundo fora.

12. Muitas coisas se têm feito sobre o produto das alienações realizadas nos últimos tempo. Este jornal elencou-as no passado sábado. No ano civil de 2017, já foram facturados 160 milhões de euros! É obra! Interessante é verificar que, com Rui Vitória no comando da equipa, quatro jogadores vindos da formação e por ele lançados (Renato, Ederson, Lindelof, Nélson Semedo) renderam 140 milhões, a quem bem poderemos juntar mais 30 milhões relativos a Gonçalo Guedes que, verdadeiramente, só com ele se impôs.

13. Tudo considerado, o objectivo de penta (e consequente única ida segura à Champions), talvez devesse ter levado a uma maior moderação de saídas fundamentais e a uma projecção de um ano, não direi de retrocesso na redução do passivo, mas intercalar ou sabático de compromisso entre vitórias desportivas e saneamento do balanço.

Contraluz
- Palavra: Canoa
Ouro e prata para portugueses, num feliz casamento de canoa e seu anagrama nação.
- Número: J44
Depois de CR7, outro grande driblador em peladinhas.
- Frase:
«Chegaram onde nenhuma equipa feminina portuguesa conseguiu chegar»
(Marcelo Rebelo de Sousa, ao receber a equipa de futebol feminino que jogará no Europeu). Então, por exemplo, o hóquei em patins e o atletismo não contam?
- Acontecimento:
O inigualável Tour de France e o melhor torneio de ténis, Wimbledon.
- Pensamento:
«O melhor psicólogo do atacante é a rede do adversário»
(Galvão Bueno)"

Bagão Félix, in A Bola

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