"A última AG da Liga foi o exemplo da real capacidade dos clubes para se autorregularem. Pelos vistos a maioria já se esqueceu dela.
Ponto prévio: sou, e já o escrevi muitas vezes, a favor de ver fora das mãos dos clubes o poder de escolherem os regulamentos por que se regem as competições profissionais. Não me chocou, por isso, que dois grupos parlamentares (no caso do PSD e CDS-PP) tenham tentado introduzir proposta de alteração legislativa que previa a passagem desse poder para a esfera da Federação Portuguesa de Futebol. Sim, deu muito barulho. E deu gritaria. E houve gente que ficou muito ofendida, como se dali tivesse saído um ataque mortal aos poderes da Liga e ao futuro do futebol português. E porque em Portugal se tem a ideia de que gritar muito é o mesmo que ter razão, logo houve quem se congratulasse por a iniciativa ter morrido à nascença. Tenho dúvidas se é razão para nos congratularmos. E tenho dúvidas que a ideia tenha morrido, de facto, à nascença.
Vamos por partes. Entendo a reacção de Pedro Proença e da Liga. Se é como diz, que a proposta foi introduzida à má fila, sem sobre ela se ouvir as partes interessadas quando todas foram chamadas para debater outros assuntos, tem razões para se sentir atacado. E tem motivos para responder, passando ao ataque, ou para congratular-se ao saber que a proposta fora retirada. Foi, para a Direcção da I Liga, uma vitória. Nada, pois, a dizer quanto a isso. O pior foram mesmo as reacções de outros quadrantes (oficiais, não oficiais e mais-ou-menos-oficiais), que num instante deram cor - neste caso vermelha - a uma iniciativa de deputados da Nação e a transformaram em vil tentativa de um clube para tentar controlar o futebol português. Por isso repito as palavras com que iniciei este mesmo espaço há uma semana: «Não há qualquer medida séria que se tome (acrescento agora que se tente tomar) no futebol português que não seja de imediato atacada pela clubite». É assim há anos. E talvez continue a ser assim por mais alguns, pelos vistos para alegria de muitos. Não venham é depois queixar-se e dizer, que está tudo mal.
Quanto à medida em si. Repito: sou a favor. Posso até estar errado, mas não digam que a proposta não merece, pelo menos, ser discutida. Que tem de ir para o fundo de uma gaveta, ficar lá fechada a sete chaves e nunca mais ver a luz do dia. Que tudo tem funcionado às mil maravilhas, que os clubes são uns santos e que sabem o que é melhor para o futebol português. Que se podem autorregular de uma forma tão brilhante que não merece sequer contestação. Não é verdade, como de resto de percebeu (ou pelos menos percebeu quem quis) na última Assembleia Geral da Liga, destinada precisamente a debater o novo Regulamento Disciplinar para o futebol profissional. Sim, aquela de onde saiu a decisão de considerar comportamento indigno o facto de «fumar ou usar cigarro electrónico nas zonas técnicas ou expelir fumo ou quaisquer outras substâncias, tais como saliva, na direcção de dirigentes, jogadores ou quaisquer outros agentes desportivos». «Isto é uma palhaçada, uma indignidade», reagiu então o Sporting. E bem, porque se tratava de um ataque evidente a Bruno de Carvalho. E quem anulou tamanho disparate? A Federação Portuguesa de Futebol, a quem os tais deputados queriam (aparentemente com interesses ocultos...) dar o poder regulamentar, suscitando um tsumani de indignação, desde o Dragão até Alvalade.
Já se esqueceram todos? Têm memoria de peixe? Afinal aquela Assembleia Geral para aprovar o Regulamento Disciplinar foi, ou não, uma palhaçada?
Com tão triste exemplo do real poder de autorregulação dos clubes, é normal que alguém com um pouco de tino (e poder para isso) tenha entendido ser hora de mudar as coisas. Não foi agora, mas as bases estão lançadas. E aos clubes, e sociedades desportivas, fica o aviso: nem todos estão a dormir, há quem esteja atento. Ou atinam, ou passam a jogar com regras decididas por outros. Como acontece em todos os sectores da sociedade."
Ricardo Quaresma, in A Bola
PS: O jornalista aparentemente também se esqueceu que o ano passado a AG da Liga aprovou um medida, especifica, para impedir a presença de Rui Gomes da Silva num programa de televisão!!! Não me recordo de ouvir ou ler alguma 'indignação'...!!!
O scp nao cumpre a lei tem manuel Fernandes no play off.
ResponderEliminarO Sporting não cumpre nada. O presidente está "suspenso" ?!?!?! o Diretor de Comunicação está "suspenso" ?!?!?!
EliminarNão cumprem nada.
O texto da regulamentação pode ser infeliz. A medida pode ter sido porque um dirigente é parvo e devia ser mais castigado e enfiaram o chapéu...
ResponderEliminarMas alguém pode ser contra cuspidelas? Alguém pode ser contra fumar seja o que for nunca zona onde passam atletas?
E se a FPF tem a palavra final para que serve a alteração? Já se viu que a federação padece da mesma clubite que afeta a liga e por isso nada mudará!
Permanece mais actual do que nunca a tirada do General romano Galba. Enquanto assim for nada feito.
ResponderEliminarLegislar contra nós? Mas que raio...