quarta-feira, 10 de maio de 2017

Quando o medo mata a possibilidade de superação

"Já passaram alguns anos desde que Michael Jordan, um dos maiores ícones do basquetebol norte-americano, apareceu num anúncio comercial para a Nike que tão bem ilustrava a relação directa que existe entre o erro (ou a "coragem" de errar) e o sucesso.


De facto, de uma forma muito clara e inequívoca, o atleta partilha connosco dados estatísticos que, comummente, são deixados em bastidores por serem, frequentemente, associados a desempenhos de nível inferior - principalmente, se os olharmos numa perspectiva a curto (imediato) prazo (mais de 9000 cestos falhados, mais de 300 jogos perdidos, 26 ocasiões onde, tendo podido dar a vitória à sua equipa, falhou o ultimo cesto que lhe foi confiado...).
Curiosamente, o atleta em questão atribuía sua carreira de sucesso aos inúmeros "erros" que foram sendo cometidos.
Este tipo de análise é algo que, em Portugal, não reúne ainda muitos "adeptos".
De facto, a nossa tolerância ao erro (cometidos por nós próprios ou pelos outros) é tão baixa que, a tendência generalizada a que se assiste é, por esta mesma razão, a de nem sequer tentar para não nos confrontarmos com a possibilidade dos nossos esforços não serem suficientes para o "resultado desejado".
Por outras palavras, o medo de que o nosso comportamento evidencie que não somos suficientemente bons (seja lá o que isto queira dizer) é tão avassalador que, demasiadas vezes, nem sequer se tenta alcançar o que se deseja. Opta-se, em alternativa, por dedicar o tempo a um conjunto de raciocínios elaborados ou de "razões válidas" para justificar a nossa (entenda-se: da sociedade actual) procrastinação.
E, com isto, todo e qualquer processo de especialização (de um futebolista, de um violinista, de um aluno do ensino superior, de um gestor ou médico) vai por água abaixo...
Há muitos anos, um proeminente Psicólogo canadiano (John Hogg), passou pelo Instituto onde me especializei (ISPA), e partilhou durante uma palestra um princípio fundamental que muito bem elucida este tipo de fenómenos:
a emoção de Medo e de Desafio são, na realidade, dois pólos de um mesmo contínuo e, o ser humano, quando confrontado com as exigências do meio, ora reage com Medo (evitamento de acção) ou com Desafio (procurar superar as suas dificuldades).
Na realidade, quase todas as nossas acções poderiam ser explicadas através desta "dicotomia": 
Alguém que tenta, e tenta, e tenta... direcciona a sua atenção para a superação e, por esta razão, entende o erro como uma fonte de informação útil que permite corrigir e optimizar as suas escolhas, acções, gestos... É, de resto, alguém que está mobilizado para o sucesso e, por essa razão, é praticamente incansável nas repetições que executa até alcançar o "resultado" (na pratica, o nível de especialização que, de forma consistente, pretende conseguir actuar).
Alguém que, após os primeiros ensaios, enraizados numa cultura ela própria muito pouco tolerante ao erro, logo com pouca paciência para resultados a "médio prazo", manifesta pouca tolerância ao erro, relacionando-se com o mesmo como uma não validação da sua competência global, ao invés da necessidade de correcção de uma acção especifica, acaba por, muito facilmente, acelerar processos de desistência.
Mas esta não é uma "realidade" do indivíduo... esta é uma "prática", uma "cultura" enraizada nas escolas, nos clubes, nas empresas e em todos os contextos de Performance em geral - é, na realidade, uma "aprendizagem" que tem passado de pais para filhos... como se, do medo do fogo se tratasse. 
Urge por isso, a bem da promoção dos resultados desportivos, dos resultados académicos e desse motor de toda a sociedade em geral que é a performance humana, uma mudança clara de paradigma onde não se destaque o "resultado" imediato (esse sim, muitas vezes resultante de um conjunto de variáveis não controláveis) mas sim se premeie o esforço continuado e a coragem de errar e arriscar, em busca de soluções, mais criatividade e o desafio de se superar a cada instante.
Ou não fosse, o sucesso e resultado de um conjunto de erros bem sucedidos!"

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