sábado, 27 de maio de 2017

Mirones

"Olhas para o lado e vês a casa do vizinho. Cada vez com mais assoalhadas, acabamentos de primeira, energias renováveis, de capa de revista. Olhas para o jardim do vizinho, impecavelmente arranjado, flores coloridas, a piscina rodeada de belas mulheres e garbosos homens, de copo na mão a viver os melhores dias das suas vidas. Olhas para a família do vizinho e tudo faz sentido: união duradoura, crianças lindas e talentosas, não há discussões e as divergências resolvem-se cara a cara sem punhaladas nas costas.
Depois olhas para a tua casa, para o teu jardim, para a tua família. E continuas sem querer entender onde é que falhaste. Tens o banco à perna, uma infiltração das grandes, no tecto da cozinha, a arrecadação está cheia de ratos, a louça suja está amontoada na bancada porque despediste a empregada, mudas de namorada todos os meses, só vês os teus filhos de quinze em quinze dias e já faltaste dois Natais à peça de teatro da escola da tua mais nova. E qual continua a ser a tua preocupação? Seres grande como os grandes...
Está tudo errado, vizinho. Continua aí empoleirado, na vedação, escondido entre os arbustos como um mirone tarado a tentar ver o que fazemos e como fazemos. Continua a invejar-nos e a querer comprar uma televisão maior do que a nossa. Como se isso fosse fazer de ti uma pessoa melhor. Impossível. Queres um conselho? Trabalha mais, fala menos e não penses nos outros.
Boa pré-época."

Ricardo Santos, in O Benfica

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