quarta-feira, 31 de maio de 2017

Números elucidativos

"Terminou a época dos clubes, ainda que o futebol continue por via das selecções. Com o Benfica a erguer a Taça e o Vitória a ser um honroso vencido. Agora é o defeso, com noticiários abundantes sobre aludidas transferências e mudanças de treinadores. Até ao lavar dos cestos, 31 de Agosto, vai ser um fartar de vilanagem.
Por hoje, limito-me a referir estatísticas a propósito de alguns mitos urbanos-futebolísticos que acompanharam este nosso campeonato no que aos três grandes diz respeito, e que deram azo a muitas análises e serviram de aparente justificação para desaires.
O primeiro desses mitos relaciona-se com os penalties marcados. Os perdedores sempre se queixando da raridade dos mesmos. Às dezenas, diga-se de passagem. Pois aí estão os números finais. A favor, o campeão foi o Sporting com 13, seguido do FC Porto com 9 e o Benfica com 7. E não se culpem os árbitros de o Sporting ter falhado 4 (31%), o FC Porto 2(22%) e o Benfica nenhum.
Na época anterior muito se falou de o Benfica acabar muitos jogos com mais um jogador em campo do que o adversário. Este ano, os mesmos observadores ficaram mudos. Eis os eloquentes números: expulsões a favor, FCP 9 (total de 284 minutos, portanto mais de 3 jogos completos, em superioridade numérica!), SCP 2 (100 minutos) e SLB 1 jogo (e 1 minuto)!
Já ao contrário - expulsões das equipas dos grandes - o Benfica esteve 50 minutos em inferioridade numérica (2 expulsões) e o Sporting e FC Porto (apesar de 3 expulsões) apenas tiveram mesmo um jogador em campo 26 e 5 minutos, respectivamente.
Tudo culpa do Benfica, evidentemente. Qual a dúvida?"

Bagão Félix, in A Bola

PS: O consócio Bagão, compreensivelmente 'enganou-se'!!! A 'conversa' de o Benfica jogar em superioridade numérica, não aconteceu na época anterior... a 'narrativa' do colinho, já tem 2 anos, foi na época 2014/15 (o bicampeonato)! Desde então, o Benfica não tem nenhum minuto 'útil' em superioridade numérica!!! Março de 2015, no Benfica 2 - 0 Braga, Tiago Gomes expulso, com duplo amarelo, ao minuto 59...
Nunca mais, aconteceu algo parecido!!!

Fim de época...

Sporting 25 - 23 Benfica
(14-8)

Não foi o Benfica que entregou o campeonato aos Lagartos, foram os vários 'desaires' dos Corruptos que lhes 'retiraram' o título... a 'começar' pelo recente empate na Madeira!!! O Benfica, nesta recta final, deu tudo o que tinha... mas no final, os 'orçamentos' mandaram! A diferença é brutal... Hoje, as duas equipas em campo, que lutaram pelo resultado até ao final, estão separadas por um múltiplo de 5!!!

Em relação ao jogo de hoje, voltámos a ter um período muito mau (2.ª parte do 1.º tempo!!!), estivemos a perder por 9 golos de diferença... no resto da partida equilibrámos, e até fomos superiores em vários momentos...

Além da troca de treinador (o problema do Benfica nunca foi o treinador... que aparentemente até pode ir para o Sporting!!!), já existem alguns rumores sólidos para a próxima época... e parece-me que vamos ter um plantel mais forte! Pessoalmente, penso que precisamos de alguns 'retoques', não muitos, principalmente na 1.ª linha, mas apesar das diferenças orçamentais, julgo que com a qualidade dos nossos jovens, vamos ter equipa para lutar pelo título... Aliás, este ano, se não tivesse sido duas 'brancas' com equipas do fundo da tabela, e teríamos chegado à Fase Final a lutar por muito mais...!!!

PS: Se o sistema de play-off's se tivesse mantido, o Benfica estaria neste momento a lutar pelo título... seguramente!

Era uma vez 200 milhões

"Na última segunda-feira, com kick-off às três da tarde, defrontaram-se em Wembley, perante 76.682 espectadores, Huddersfield Town e Reading, na disputa pelo derradeiro lugar de acesso à Premier League de 2017/18. O triunfo sorriu, no desempate da marca de grande penalidade, ao Huddersfield Town, clube histórico, tricampeão de Inglaterra entre 1923 e 1926 (treinado pelo mítico Herbert Champman), onde militou o virtuoso Denis Law nos últimos anos da década de cinquenta do século passado. Ao sair de Wembley vencedor, o Huddersfield Town, que não jogava entre os maiores há 45 anos, ganhou 200 milhões de euros em direitos televisivos, uma verba entendida como suficiente para se preparar e manter viva a competitividade da Premier League, afinal o segredo de um negócio bem-sucedido. Portimonense e Desportivo das Aves, os nossos promovidos, vão receber cerca de 50 vezes menos...
De facto, não temos nada a ver com os valores praticados não só em Inglaterra mas também nos outros quatro que compõem os big five, nem nos aproximamos, em vil metal, de campeonatos como os da Turquia, Ucrânia e Rússia. Por tudo isto, aos clubes portugueses é exigida criatividade financeira e malabarismo aritmético para manterem as naus a navegar sem risco de naufrágios. E mesmo assim... Não estranhemos, pois, acompanhado por algum desencanto, com as vendas a superarem exponencialmente as compras e com os treinadores a terem de baralhar e dar de novo. E por falar em treinadores, a única coisa que o bom senso aconselha a dizer que quase nada é completamente certo."

José Manuel Delgado, in A Bola

Uma questão de confiança “no” e “do”... “mental coach”

"Confesso que, ao pensar no título deste artigo, o primeiro insight foi colocar palavra "psicólogo" no lugar de "mental coach", mas, atendendo a que existem um conjunto de outras áreas distintas, a promover serviços na área do treino de competências psicológicas para a performance (convido-vos, nesta etapa a reler este artigo, para melhor entendimento), entendi que esta designação seria mais abrangente.
O tema desta semana surge a propósito duma mesa redonda onde tive o prazer de participar na passada sexta-feira, naquele que foi o 4.º Congresso Internacional de Treino de Guarda Redes.
O propósito da mesa previa a partilha de diferentes perspectivas, acerca das necessidades do desporto de alto rendimento, no caso, o futebol profissional - para o efeito, estiveram presentes na mesma mesa, os guarda-redes Moreira e Helton.
O debate foi, naturalmente, muitíssimo enriquecido pelo cruzamento de uma perspectiva científica face aos relatos dos dois profissionais e, como seria de esperar, debateram-se aspectos relacionados com as competências psicológicas associadas a desporto com elevados índices de stress, associados a uma performance que se pretende de elevadíssimo nível.
Da discussão, e para o efeito deste artigo, um dos temas mais pertinentes a questão da confiança e, em dois sectores que agora se apresentam, por achar que, de facto, este é um tema de interesse geral.
Devemos confiar ou não no "mental coach" que se encontra no clube?
Este é, de fato, um tema complicado, na medida em que, à partida, pode haver, de facto, um conflito de interesses latente, na medida em que atletas/treinadores e "mental coach" acabam por ter a mesma entidade patronal, a quem prestam serviços.
Dois argumentos (a título de exemplo) podem, no entanto, salvaguardar esta situação:
a) se existir uma cláusula de confidencialidade que proteja a actuação do "mental coach", face aos clientes internos com que possa trabalhar garantindo, a estes últimos, a possibilidade de responsabilizar legalmente o mesmo, no caso de fuga de informação (na realidade, e desconhecendo a legalidade desta hipótese, por certo seria, antes de mais, uma medida de credibilidade para os próprios profissionais);
b) uma medida mais "qualitativa" que passa pela maturidade e segurança que o próprio "mental coach" demonstra, uma vez que, com a experiência/maturidade acresce normalmente mais competência em gestão de informação - fundamentais para garantir a confidencialidade entre os diferentes clientes - e, menos necessidade de protagonismo e validação externa, muitas vezes, a principal razão das ditas "fugas de informação".
Devemos confiar ou não nos "mental coachs" que, agora, inundam o mercado? Ou, por outras palavras, como escolher um "mental coach"?
Esta é, de facto, uma questão complexa, na medida em que, em Portugal, de repente parece que, agora, "temos" esta área... quando, na realidade, há profissionais a trabalhar, seja em contexto de terreno ou de investigação, há mais de 40 anos em Psicologia do Desporto.
Há, no entanto, um conjunto de directrizes que podem ser úteis para escolher o profissional "certo": 
1. Identifique claramente as suas necessidades.
2. Identifique 3 ou 4 profissionais com quem alguém seu conhecido tenha trabalhado (e que tenha gostado) - peça referências.
3. Investigue essas pessoas na internet
4. Que certificações possuem?
5. Há quantos anos trabalham no terreno? Que argumentos possuem para serem considerados "especialistas"?
6. Existem artigos/livros da sua autoria? Faça uma revisão dos mesmos.
7. Solicite uma sessão de teste para ouvir os diferentes profissionais e tentar definir com qual deles(as) se sente mais "alinhado(a)", seja em termos de pensamento, seja em termos de "energia" (não se comprometa imediatamente com o primeiro, avalie todas as possibilidades antes).
8. Exija um acordo de confidencialidade acerca do conteúdo das suas sessões por escrito.
Acima de tudo, desconfie de promessas de melhoria rápida de performance e/ou qualidade de vida - esta é mais uma área de treino e, da mesma forma que não se transformou em "atleta" numa semana, a elevação dos seus níveis de "mental skills" não ocorrerá de um momento para o outro.
De facto, resultados rápidos (e, muitas vezes, inconsistentes) revelam, muito mais frequentemente, a instalação de uma relação de dependência entre "mental coach" e cliente e não a verdadeira aquisição de skills, por parte deste último (o atleta/treinador, etc.).
Por último, e em jeito de "brincadeira":
Se nos detemos horas a investigar e recolher informação sobre o telemóvel, a casa, o carro ou as férias que pretendemos fazer...
O que diria que deve fazer... para escolher o profissional que irá (desejavelmente) ajudar a impulsionar a sua vida?"

Rui Vitória na SIC



PS: Já nem sequer me surpreende!!! O Benfica continua a ter uma política de relações com a comunicação social muita estranha!!! Não consigo compreender como é que o Benfica continua a 'entregar' audiências, a pessoas e organizações, que passam a época toda a destratar o Benfica e os seus funcionários... mas pronto, eu não mando no Benfica, sou um simples sócio!

​Chegar ao triplete

"Este desfecho foi também a afirmação de um trabalho construído na base de muito empenho e muita capacidade profissional e, por acréscimo, o reconhecimento de um grupo de qualidade orientado por um técnico de excelente craveira.

Correspondendo a previsões instaladas no país do futebol, o Benfica encerrou ontem a temporada arrebatando o último troféu, a Taça de Portugal.
O adversário, o Vitória de Guimarães, embora perdendo, não saiu apoucado do embate do Estádio Nacional, onde perdeu pela diferença mínima, após um jogo muito prejudicado pela forte bátega de água que fustigou o Vale do Jamor durante uma boa parte da tarde.
Não tivemos o jogo de qualidade que se esperava e justificava, dada a qualidade das equipas em presença. Só que, em circunstâncias como esta, há muitas razões que justificam por vezes um maior empenho no resultado do que propriamente na qualidade.
E foi isso que aconteceu. Tivemos uma primeira parte que praticamente não aconteceu, e um arranque fulgurante do Benfica no segundo tempo que lhe valeu um golo logo aos três minutos e a repetição da dose seis minutos depois.
E aí ficou instalada a sorte do jogo, ainda que a doze minutos do fim, o Vitória tenha conseguido reduzir a diferença. Ficou assim reposta uma boa parte da verdade do jogo, ganho com justiça pelo já campeão nacional.
Este desfecho foi também a afirmação de um trabalho construído na base de muito empenho e muita capacidade profissional e, por acréscimo, o reconhecimento de um grupo de qualidade orientado por um técnico de excelente craveira, capaz de unir uma equipa e mantê-la coesa até ao derradeiro pontapé na bola.
Só por manifesta má vontade não serão compreendidos e aceites os sucessos do Benfica na época que agora termina.
E, cremos, há também boa razões para que a concorrência mais directa não se distraia e, muito menos, deixe adormecer."

Watford? What for?

"Houve um tempo não muito distante em que o FC Porto perdia treinadores para o Chelsea, mas só depois de vencer na Europa e batidas as respectivas cláusulas de rescisão.
Foi assim com José Mourinho, em 2004, após conquistar consecutivamente Taça UEFA e Liga dos Campeões; tal como foi com André Villas-Boas, em 2011, na sequência do triunfo na Liga Europa – ambos foram também campeões nacionais, mas isso para os azuis e brancos chegou a ser quase tradição.
Mourinho e Villas-Boas saíram para um projecto ambicioso não só em termos financeiros mas também desportivos, mesmo assim sob a incompreensão de largos sectores de adeptos portistas, indignados, exclamando que, com exceção do orçamento (e projecção, vá), os blues de Londres eram em tudo inferiores aos da Invicta.
Agora, apesar de versões contraditórias, dá-se a novidade de que o FC Porto terá perdido um treinador para o Watford.
Watford?! What for?
Ao longo da última semana, boa parte da opinião pública tentou justificar por A mais B a lógica de um treinador preferir lutar pela manutenção na Premier League a lutar pelo título de campeão em Portugal e disputar a Liga dos Campeões.
Lamento discordar.
Espantar-me-ia se Jorge Jesus fosse alguma vez tentado a trocar o Sporting pelo Burnley ou se Rui Vitória estivesse a considerar uma proposta, vá lá, de um clube um bocadinho mais a meio da tabela, do género do Stoke City – ao qual, para não perdermos o devido enquadramento, o FC Porto emprestou Martins Indi ou despachou Imbula.
Mesmo considerando os mais de 100 milhões de euros que o FC Porto terá de encaixar para cumprir o fair-play financeiro e o previsível grande investimento em contratações que fará o Watford (e de todos os seus concorrentes, sublinhe-se), previsivelmente os dragões continuarão a ter um plantel de nível muito superior ao do clube inglês.
O que motiva então esta aparente opção? Provavelmente, o grau de exigência do Dragão para Vicarage Road.
Ao fim de quatro anos de seca de títulos e perante a impaciência dos adeptos, no Porto Marco Silva teria conviver com a pressão de ser campeão, tendo previsivelmente menos argumentos em relação pelo menos a um dos candidatos ao título. Além disso, teria de alguma forma de «dar o peito às balas» e arriscar a sua boa imagem cá na terra, comprometendo um eventual regresso a médio prazo a Portugal – por outra porta, evidentemente.
Marco Silva tem toda a legitimidade para definir as suas opções de carreira; tal como, deste lado, cada um de nós tem a possibilidade as analisar publicamente.
O problema está sobretudo no FC Porto, que não deveria sequer considerar como hipótese um treinador que ficasse inclinado a assumir um clube de fundo da tabela, por mais encanto que tenha a Premier League.
Se Marco Silva é cerebral, calculista até, Sérgio Conceição é sanguíneo e portanto mais propenso a arriscar trocar o conforto de três anos de contrato com o Nantes (que não só salvou da descida como guindou até ao 7.º lugar da Ligue 1) pela oportunidade de treinar o FC Porto.
Há também como hipótese Paulo Sousa, que tem sérias reservas por parte de um largo espectro de adeptos, justificadas pelo afastamento do futebol português, pela falta de afinidade com o clube e sobretudo pela facção interessada na sua contratação.
A cadeira de sonho, onde qualquer um se arriscava a ser campeão, perdeu a estabilidade, como agora tivesse o encosto partido e uma perna bamba.
No entanto, nesta amálgama de cogitações e dúvidas, acentuadas por uma semana inteira de indefinição, o FC Porto poderia, ainda assim, optar por alguém experiente, com um discurso ponderado, que já provou ser capaz de colocar equipas a jogarem bom futebol. Alguém conhecedor do clube e da realidade do futebol português, capaz de apostar em jovens e fazê-los crescer.
Mais até do que Pedro Martins, o FC Porto poderia optar por alguém como Luís Castro – que levou a equipa B portista à conquista da II Liga na época passada.
Independentemente de meia oportunidade numa época já perdida (2013/14), qual é então o problema do homem da casa?
Depois de quatro anos de fracasso desportivo, equívocos e escolhas falhadas não há força por parte de quem dirige para impor um nome que não seja minimamente sonante aos adeptos, cada vez mais desconfiados.
Esta fragilidade nas decisões, após erros sucessivos, a perda de influência no futebol português e o vislumbre de um beco sem saída em termos de alternativa tornam o contexto num problema bem mais profundo, que está para lá da simples escolha de um treinador.
Para encontrar soluções, mais do que falar da cadeira, há que, cada vez mais, olhar para o cadeirão."

Só Vieira tem um projecto

"No FC Porto, Pinto da Costa parece renitente em admitir que há um dia para sair, enquanto no Sporting não se enxerga quem manda mais, se o presidente se o treinador.

O triunfo na Taça de Portugal, uma competição que o Benfica se desabituara de ganhar desde a viragem de século (2004, 2014 e 2017), é mais um elemento de prova em favor da política seguida pelo Benfica, decorrente do gigantesco e ambicioso projecto de Luís Filipe Vieira.
Ainda integrado na equipa directiva de Vilarinho, ajudou a reunir os cacos e a salvar das cinzas o pouco que restava do clube. Já como presidente eleito, estabeleceu como primeira prioridade a recuperação da credibilidade perdida. levou avante a construção do novo estádio em conjuntura desfavorável, uma empreitada de muito arrojo e depressa classificada por amigos e inimigos como uma aventura destinada ao fracasso.
Apesar dos perigos e das armadilhas, dada a situação instável, tão ousado desafio mais pareceu uma miragem para fazer rir às gargalhadas os adversários. É verdade que partiu atrasado em relação aos concorrentes mais fortes, mas, mesmo assim, chegou primeiro, proclamou a sua razão e devolveu a força de acreditar à nação benfiquista, a qual se deu conta que estava em marcha um processo de mudança irreversível e de amplitude incalculável.
Dando passos seguros, embora com necessários recuos e alguns tropeções que não puderem ser evitados, o presidente benfiquista foi reforçando os alicerces para abraçar o futuro sem receio do desconhecido.

A cabeça de Vieira é uma espécie de máquina calculadora em permanente laboração. Além de fazer contas e gerar lucros é uma abundante fonte de onde brotam ideias com o mesmo entusiasmo do primeiro dia. Revela ainda uma espantosa capacidade de evolução para manter o clube na linha da frente em todas as vertentes. Por isso, nasceram o complexo adjacente ao estádio, a zona comercial, o museu e o centro de treino do Seixal, modelar à escala mundial e, só por si, um foco de permanente de inovação.
A revolução tecnológica que aproximou as Casas do Benfica foi outra das medidas tradutoras do espírito pioneiro da governação de Vieira: a dimensão universal da instituição precisava de uma resposta adequada no sentido de diversificar os locais de votação em cenários eleitorais.
Com o emblema da águia unido e em paz, deparou-se-lhe, então, a oportunidade para atacar a terceira fase do projecto, porventura a mais aliciante e volúvel por não depender da vontade uma pessoa ou de um presidente: recolocar o futebol profissional no lugar europeu que lhe pertenceu em passado de reconhecida e apreciada glória desportiva.
O percurso é demorado e vai sendo cumprido. Talvez o clube pudesse estar nesta altura em fase mais adiantada, mas os erros também têm ajudado na consolidação estrutural porque de todos eles se extraem ensinamentos e se enriquece a experiência.

Trapattoni foi rampa de lançamento com sucesso, mas sucedeu-lhe um vazio apenas interrompido cinco anos mais tarde por Jorge Jesus. A que se seguiu outra travessia no deserto, de mais quatro anos, que teria sido suficiente para provocar uma derrocada geral não fossem invulgarmente resistentes as bases de sustentação de um desígnio preparado para resistir a ventos e marés.
Vieira, tal como treinadores e jogadores, igualmente cresceu como presidente e sem que fosse preciso segredar-lhe ao ouvido o que devia fazer, no recato do gabinete tomou decisões inadiáveis e determinantes. Era preciso alterar o rumo, iniciar outro ciclo. Fê-lo com a discrição, a firmeza e a segurança que definem os líderes de verdade.
Não hesitou na hora de mudar, convicto de que o caminho não era por ali. No entanto, não faltou quem tivesse prenunciado a desgraça, como se pudesse permitir-se a uma qualquer personalidade megalómana sobrepor-se ao interesse da instituição Benfica.
A todos os reparos Vieira reagiu com o silêncio e a tranquilidade de quem compreendeu o alcance da campanha lamurienta, recusando, porém, dar-lhe alimento na praça pública. Pelos vistos, com razão:
1. Hoje, o Benfica soma 75 títulos nacionais (36 Campeonatos + 26 Taças de Portugal + 7 Taças da Liga + 6 Supertaças), o FC Porto 63 (27 + 16 + 0 + 20) e o Sporting 42 (18 + 16 + 0 +8).
2. Hoje, o Benfica justifica por a mais b que foi acertada a opção por Rui Vitória, enquanto o Sporting se imobilizou num beco sem saída ao convencer-se de que Jorge Jesus seria o remédio para todos os problemas.
3. Hoje, é irrecusável que, dos três grandes, o único presidente que verdadeiramente tem um grande projecto e luta por ele é Luís Filipe Vieira. No FC Porto, o seu presidente, apesar de acumular crédito notável, através de valiosa carteira de títulos desportivos, parece renitente em admitir que há um dia para sair, enquanto no Sporting não se enxerga quem manda mais, se o presidente, se o treinador..."

Fernando Guerra, in A Bola

O exemplo inglês

"Nos anos 80 o campeonato inglês andava pelas ruas da amargura.

Em Inglaterra mora uma das melhores Ligas do planeta. Por lá joga-se um campeonato em que todos, todos sem excepção, são profissionais. É, neste momento, uma das competições mais valorizadas. Uma das mais vistas. Uma das mais mediáticas. Parte significativa dos seus jogos são transmitidos por oitenta redes de televisão em mais de duzentos países.
A Premier League é das que mais adeptos coloca nos estádios. É também uma das que mais jogos realiza, em cada época. É uma das que mais dinheiro dá aos clubes. Os direitos de televisão estão centralizados, não são negociados individualmente. Rendem um bilião de libras por ano. Em euros... é fazer as contas.
Por lá, todos os dirigentes vêem o jogo como um produto que valioso, que é e deve ser prioridade de todos. Porquê? Porque há muito que já perceberam que quanto mais valorizada for a sua competição, mais benefícios terão.
Neste contexto torna-se óbvio porque motivo atrai patrocinadores e investidores. Hoje, jogar na Premier League não é apenas actuar num campeonato estrangeiro: é o concretizar de um sonho.
Mas as coisas nem sempre foram assim. Nos anos 80, o campeonato inglês andava pelas ruas da amargura. O futebol tinha uma dimensão menor e mais pior, um problema gravíssimo com os seus adeptos.
O hooliganismo teve o seu expoente máximo nas tragédias de Heysel Park (1985), e Hillsborough (1989). Pouco depois da primeira, a UEFA decidiu banir, por cinco anos, todas as equipas inglesas de participarem nas suas competições. A Liga inglesa bateu então no fundo.
Mas a essa travessia no deserto, responderam com planeamento, inteligência e eficácia. Com atitude e firmeza.
A Sra. Margaret Thatcher foi chamada à razão pelos responsáveis do futebol e o poder político foi forçado e intervir. Naquele contexto, o mero apelo ao fair-play era inaceitável. Finalmente tinham percebido que as ameaças, a violência e a criminalidade nos estádios e em torno deles não era apenas um problema desportivo mas antes um drama nacional, com consequências incalculáveis para o país.
Foram então feitos investimentos no sentido de tornar o futebol num lugar mais seguro. A identificação dos que iam à bola para destruir, vandalizar e bater passou a ser prioridade e foram tomadas medidas para que os incidentes no interior dos estádios acabassem. Em pouco tempo, a maioria dos delinquentes estava sinalizada e identificada. As punições passaram a ser exemplares e erradicaram dos recintos desportivos todos os energúmenos que estavam a mais no futebol.
Nos anos 90 e já numa fase crescente, os clubes ingleses decidiram separar-se da Federação Inglesa. Foi então criada a FA Premier League (hoje Premier League). O aumento de receitas televisivas e melhores patrocínios sustentou a decisão.
Foi um verdadeiro Jackpot!
Hoje, a Liga Inglesa é um caso de sucesso absoluto e não há quem o negreserva e promove a sua imagem, pela positiva, como ninguém. Para isso, pune de forma exemplar qualquer comportamento que ponha em causa o bom nome do seu produto. Pune igualmente quaisquer actos violentos ou palavras caluniosas/ofensivas.
Para a próxima época, uma Comissão formada por um ex-árbitro, um ex-treinador e um ex-jogador vão analisar lances de simulação e, em caso de unanimidade, passarão a punir os infractores com jogos de castigo e multa pesada. Ali o não à batota é levado a sério!
Vista daqui, a Premier League parece estar a anos-luz, mas a verdade é que Inglaterra está apenas a duas horas de Portugal.
Por vezes, mais do que improvisar ou criar, basta seguir as boas práticas. Não é plágio. É inteligência. Ou não?"


Duarte Gomes, in A Bola

Nudez da verdade, manto da fantasia

"Morreu a velha época, viva a nova época. Foi sempre assim e sempre assim será. O futebol tem, pois, uma virtude vital: renova-se nos encantos e nos desencantos. A uma época perdida sucede a esperança de uma época ganha. Daí, a natureza perdurável do negócio. Daí a razão de ser desse milagre da transformação da lástima em crença, da desolação em convicção de sucesso.
É também por esta tão irrazoável racionalidade que os presidentes e os treinadores perdedores apagam tão facilmente da memória de todos projectos e promessas por cumprir. Na ideia de futuro, o que conta, para os adeptos antes desiludidos e decepcionados não é, como escreveu o Eça na 'Relíquia', a nudez crua da verdade, mas o manto diáfano da fantasia.
Porém, há uma altura em que a repetição falhada da ideia de esperança e de sucesso de torna letal. Penso que Pinto da Costa e Bruno de Carvalho têm a consciência de que entraram em zona de perigo, caso o Benfica chegue ao penta.
Para o presidente do FC Porto, preso a um complexo emaranhado de soluções económico-financeiras para evitar o colapso desportivo, a perda do próximo campeonato torna-se-ia dramática; para o presidente do Sporting, atado de pés e mãos a uma jura de títulos no imediato e continuação do insucesso desportivo levá-lo-ia ao universo de um simples pantomineiro.
Julgo que tanto Pinto da Costa como Bruno de Carvalho têm a exacta consciência da delicadíssima situação em que se encontram e sabem que a questão decisiva do momento será a de como conseguir ganhar. Sendo certo que não podem ganhar os dois."

Vítor Serpa, in A Bola

terça-feira, 30 de maio de 2017

Tic-tac de um relógio infalível

"Patrocinada pela indústria de Grenchen, cidade suíça do Cantão de Soluthurn, a Uhren Cup vai ter, no próximo mês de Julho, a participação do Benfica. Jogos contra o Young Boys e contra o Neuchâtel Xamax. O troféu é quase igual à Taça dos Campeões.

Uhr: dizem que é o relógio infalível! Diz que o fabrica, claro está. E, já agora, perguntareis vós que tendes a infinita paciência de me ler, semana após semana, que raio venho eu para aqui falar de relógios? Eu explico. Eu explico.
Uhren Cup: eis a razão.
E o Benfica, como está bem de ver.
Benfica e Uhren Cup, pela primeira vez. Ou, se preferirem, o Benfica no torneio dos tais relógios infalíveis.
Vai ser no próximo mês de Julho. Entre os dias 10 e 15. Adversários: Young Boys, de Berna, e o Neuchâtel Xamax. Suíços, pois claro.
Geralmente, a Uhren Cup disputa-se entre Grenchen e Biel. Cantão de Solothurn e Berna, respectivamente.
Mas falemos da prova que já é antiga e faz parte da história dos torneios internacionais de Verão que se disputam um pouco por todo o mundo como pequeninos campeonatos avulsos.
Começou em 1962, logo no ano em que o Benfica foi campeão europeu.
Organizadores: representantes da indústria relojoeira de Grenchen.
Lá está: tic-tac-tic-tac. As rodas dentadas começavam a enganchar-se, rolando a um ritmo irrepetível.
Daí para cá, todos os anos, a Uhren Cup foi-se disputando, uma vezes mais suíça (a maioria das vezes), outras vezes mais internacional. Só em 1967, 1974 e 2012 não houve torneio. O que faz dele um dos mais resistentes de sempre.
Começo popular
A primeira edição da Uhren Cup contou com a presença de dois clubes suíços, o FC Grenchen e o FC Biel-Bienne, um belga, o Cercle Brugge, e um italiano, o AC Como. Foi um sucesso. Acreditem! Mais de 20 mil pessoas encheram os estádios entusiasmadas com as partidas. Motivo mais do que suficiente para que, no ano seguinte, a taça avançasse, impante, para a sua segunda edição, desta vez com um representante da Inglaterra, o Ipswich, que não por acaso se sagrou vencedor. Estávamos na fase mais segura da competição. Seguem-se convites: o Sparta de Roterdão, da Holanda, o Karlsruher, da Alemanha, o Nimes, de França, o Lanerossi Vicenza, de Itália, o Maccabi de Telavive, de Israel, o Sochaux, da França.
O objectivo era conseguir sempre uma participação estrangeira de forma a que o torneio não perdesse a sua aura internacional.
A partir da época 1967/68, no entanto, uma machadada profunda abalou os alicerces da Uhren Cup. O Grenchen desceu de divisão. E a prova passou a ser praticamente cem por cento suíça.
Partizan de Belgrado (Jugoslávia), Górnik Zabrze (Polónia) e FC Koln (Alemanha) passaram por lá como cometas.
2003 foi novo ano de mudança. Para melhor.
Algumas empresas da região resolveram apostar na Uhren Cup e devolver-lhe algum do brilho anterior.
Com mais dinheiro, passou a haver a possibilidade de convidar clubes de maior nomeada. Assim foi.
O torneio atingiu sua fase de maior prestígio. Como se pode ver pelos nomes que por ele passaram: Schalke 04, Kaiserslautern, Borussia Dortmund, Koln e Bayer Leverkusen (Alemanha); Celtic (Escócia); Deportivo da Corunha (Espanha); Shakhatar Donetsk (Ucrânia).
Estranhamente segui-se um hiato. Em 2014 e 2015 não houve Uhren Cup.
Em 2016 o Galatasaray sagrou-se vencedor e arrecadou o troféu.
O Museu Cosme Damião fica, agora à espera dele. Palavra aos jogadores do Benfica.
Espreitam-na. É quase igual à Taça dos Campeões."

Afonso de Melo, in O Benfica

'Ou ganho ou morro!'

"O português que, tal como Fidípides, foi vitima da corrida de maratona. Este, porém, não chegaria a gritar 'Vencemos!'

Reza a lenda que, no ano 490 a.C. após a vitória grega sobre os persas na Batalha de Maratona, o soldado grego Fidípides foi incumbido de correr até Atenas para dar a boa nova.  Ao chegar, apenas terá tido fôlego  para gritar 'Vencemos!' e, exausto, caiu morto. Séculos depois, a corrida de maratona vitimaria um português. Este, porém, não chegaria a gritar 'Vencemos!'.
No verão de 1912, Portugal fez-se representar pela primeira vez nos Jogos Olímpicos. Rumo a Estocolmo, na Suécia, onde teve lugar a V Olimpíada Internacional, navegaram seis atletas lusos 'destinados a fazer brilhar lá fora o nome português'. Entre eles, Francisco Lázaro, antigo atleta do Benfica, que antes de embarcar declarou: 'Ou ganho ou morro!'.
Francisco Lázaro (1988-1912) havia vencido a maratona nacional no mês anterior, com 'uma das melhores marcas mundiais conhecidas'. Era a grande esperança portuguesa para as Olimpíadas, tanto que, na cerimónia inaugural dos Jogos, lhe coube à honra de empunhar o estandarte de Portugal.
A prova de maratona foi agendada para a manhã do dia 14 de Julho. Estava um 'calor asfixiante'. Alguns dos médicos do evento sugeriram que se adiasse a prova para o final do dia. Em vão, 'o tiro de partida foi às 13.48 horas'. Devido ao calor, muitos dos inscritos não responderam à chamada e, dos 71 que começaram a corrida, só 43 a terminaram. O atleta português não ganhou, mas fez o seu nome e o da sua pátria correr o mundo.
Francisco 'tinha partido atrasado do pelotão da cabeça, mas, pouco a pouco, foi ganhando terreno'. Já havia alcançado os lugares cimeiros quando, próximo do quilómetro 30, 'caíra (..) esgotado'. A corrida que, na Antiguidade, se revelou fatal para Fidípides, voltava a fazer vítimas: Francisco viria a falecer na madrugada seguinte.
Ainda hoje se especula sobre a causa da sua morte. Sebo? Emborcação? Estricnina? Na certidão de óbito dirá apenas 'meningite causada pela insolação'. Não interessa. A causa não anula o facto de ter sido o primeiro atleta a morrer nos Jogos Olímpicos. Se, em vida, foi popular 'como jamais algum desportista português conseguiria até então', o seu infortúnio garantiu-lhe a glória eterna.
No Museu Benfica - Cosme Damião, na área 4 - Momentos únicos, pode assistir a um vídeo com imagens únicas de Francisco Lázaro durante a prova, em Estocolmo."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

VAR #1 Jamor



Ao contrário daquilo que já li na Gloriosasfera, acho que o VAR teve uma estreia positiva.
Acompanho à muito tempo a NFL e o uso das imagens, li com bastante atenção os protocolos do VAR no futebol... e talvez por isso, as minhas expectativas, não eram demasiado altas... e assim, mesmo não concordando com tudo, acho que as decisões do VAR no Jamor, foram boas...

- Primeiro, uma decisão do VAR, para alterar uma decisão do árbitro de campo, só pode ser tomada, se as imagens forem evidentes. Em caso de dúvida, mantém-se a decisão do campo!
- Nos dois lances onde a 'bola vai à mão' de defesas do Vitória, parece-me 'mão na bola'. No segundo é evidente que é um ressalto, não existe acto deliberado, nem aumento da volumetria... No primeiro lance, é parecido com a jogada do Ailton no Estoril-Benfica ou a jogada do Lahn no Bayern-Benfica, mas nesta jogada o braço está a apoiar o corpo, e não está estendido na relva... no limite é um daqueles lances 'duvidosos' que na minha opinião o VAR deve sempre manter a decisão do árbitro principal...
- No lance entre o Lindelof e o Marega, discordo da 'dúvida', pois existe uma clara falta do Marega sobre o Lindelof e no entanto, aquilo que foi analisado pelo VAR é se havia ou não penalty!!! Este é um dos potenciais 'problemas' do VAR... Analisar-se uma falta, esquecendo que existe uma falta anteriormente...!!!
- No Jamor pedi a expulsão do Marega, vendo as imagens aceito o Amarelo... é essencialmente uma entrada imprudente, ele acaba por não 'ferrar' os pitons...

Agora, nunca pensei que o VAR fosse 'anular' todos os erros do árbitro... e este jogo é prova disso!
Foram vários os Cantos mal assinalados contra o Benfica...
- Houve um logo nos primeiros minutos...
- E no Canto do golo do Guimarães, parece-me que não era Canto: o Samaris desvia ligeiramente a bola, e o Teixeira acaba por rematar 'de lado' na bola... Se todos os golos são analisados, este Canto no 'limite' também devia ser analisado pelo VAR...
- Outra limitação do VAR, são os Amarelos: o protocolo fala somente dos Vermelhos... e os Amarelos do Grimaldo e do Samaris são ambos mal mostrados!!!
- E aquela última falta marcada nos descontos contra o Benfica?!!!
Um corte 'limpo' do Samaris, deu um livre lateral, com bola despachada para a área do Benfica (e poucos segundos antes pareceu-me existir uma falta sobre o Felipe Augusto...). O protocolo do VAR não permite o uso nestes lances...
E se fosse golo, já poderiam verificar se a falta existiu ou não?!!! Parece-me que não o vão fazer...

Sendo que todas estas situações, poderiam ser rectificadas, se as equipas tivessem a oportunidade de 'protestar' as decisões. Na NFL e no Ténis, existe um numero limite de 'protestos'... e creio que mais tarde ou mais cedo, isso também será aplicado no Futebol...
Mantendo a premissa que o VAR só pode alterar uma decisão de campo, com imagens inequívocas, e com um limite de 'protestos' - que seguramente as equipas iriam gerir para chegar aos últimos minutos das partidas, com todos os 'protestos' disponíveis - creio que teríamos um VAR com mais 'eficácia'...

Com o actual protocolo, haverá alguns decisões alteradas (poucas), creio que a maioria vão ser golos em foras-de-jogo, e naqueles penalty's descarados (ou simulações vergonhosas, ou faltas óbvias não assinaladas), mas muitas outras formas de 'errar' vão continuar...
Agora, creio que irá haver um impacto positivo, na 'atitude' dos jogadores, pois sabem que estão a ser vigiados... e mesmo nos protestos, o árbitro poderá sempre 'passar' a responsabilidade para o VAR...!!!

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Este é o ciclo do Benfica. Até quando?

"Nas últimas quatro épocas o Benfica venceu onze em quinze troféus em disputa em Portugal.

O Benfica, com o triunfo de ontem sobre o Vitória SC, de Guimarães, juntou o nome a um número restrito de clubes por essa Europa fora que terminaram a temporada com uma dobradinha: Juventus, Celtic, Basileia e Shakhtar. Porém, o sucesso benfiquista não deve ser aferido apenas pelos êxitos mais recentes, merecendo alguma reflexão aquilo que aconteceu nas últimas quatro épocas. Em Portugal, disputaram-se três troféus (as Supertaças Cândido de Oliveira) e doze competições (quatro edições do Campeonato Nacional, da Taça de Portugal e da Taça da Liga), tendo o emblema da Luz vencido onze. O Sporting conquistou uma Supertaça e uma Taça de Portugal, o FC Porto garantiu uma Supertaça e o Moreirense uma Taça da Liga. No mesmo período de quatro anos, o Benfica esteve numa final da Liga Europa e acedeu aos quartos de final e a uns oitavos de final da Liga dos Campeões.
É impossível olhar para este registo e não ver um padrão associado, que se traduz em estabilidade e revela um patamar de competitividade muito razoável no âmbito internacional e dominante no registo interno.
Pode dizer-se, agora, com uma certeza fundamentada em dados, que estamos perante um novo ciclo hegemónico no futebol português, construído com base em padrões que foram capazes de conjugar a paixão e a emoção - a média de espectadores no Estádio da Luz na I Liga superou os 56 mil - com o rigor e o profissionalismo. Luís Filipe Vieira escolheu os colaboradores mais próximos com base na capacidade profissional e na lealdade; e alguns deles nem remotamente eram adeptos do Benfica. Isso, porém, não foi obstáculo para a sua contratação e os bons resultados estão à vista, apontando o caminho a outros clubes que pretendam trilhar um rumo de modernidade e progresso.
A partir de hoje abre-se o mercado de verão e muita coisa vai mudar nos plantéis dos clubes candidatos ao título em Portugal. Parece inquestionável, porém, que o Benfica parte em vantagem, podendo consolidar a hegemonia se assinalar não o penta, mas o hexa, como marco histórico e alcançar. O FC Porto debate-se com problemas geracionais e o Sporting tem-se desperdiçado em batalhas estéreis. Quanto mais esta situação se prolongar, melhores serão os prognósticos benfiquistas...

ÁS
Rui Vitória
Desde que assumiu o comando técnico do Benfica, disputou oito competições nacionais e venceu cinco. A dobradinha conseguida ontem no vale do Jamor foi a cereja no topo do bolo para este treinador que conjuga um low profile com uma liderança firme e que parece muito confortável na relação com o clube da Luz. Parabéns.

REI
Pedro Martins
Teoricamente, começou o campeonato na quinta posição terminou no quarto posto, superando o rival histórico, o SC Braga. A este feito, somou uma presença na final da Taça de Portugal, onde lutou pelo troféu até ao derradeiro apito. Confirmou em Guimarães tudo aquilo que de bom prometeu no Marítimo e no Rio Ave.

REI
Emílio Peixe
Portugal, um pouco à imagem do que aconteceu há um ano em França, apurou-se para os oitavos de final do Mundial de sub-20 de forma sofrida. A partir de amanhã, no mata-mata com a Coreia do Sul, tudo é possível para uma selecção que ainda não encantou mas tem em Diogo Dalot e Diogo Gonçalves dois nomes com futuro.

A fasquia fica muito alta na baliza do Benfica
«Provavelmente, este foi o meu último jogo pelo Benfica»
Ederson, guarda-redes do Benfica
O Benfica contou, nos últimos anos, com dois guarda-redes jovens, Oblak e Ederson, que cedo identificou e trabalhou, e que constam já da lista dos melhores do mundo. Oblak está em Madrid e Ederson está a caminho do Manchester City. O que, respeitando a qualidade garantida por Júlio César, coloca responsabilidade na escolha do próximo senhor das redes...

Pinto da Costa e Arsène Wenger
O que mantém Pinto da Costa e Arsène Wenger na crista da onda? A gratidão, um sentimento nobre, que une FC Porto e Arsenal, relativamente a quem muito lhes deu mas, provavelmente, já está para além do prazo de validade. Com que linhas vai escrever-se o futuro imediato? Um segredo, para já, bem guardado...

Adeus Totti
Ontem despediu-se dos relvados, aos 40 anos, um monstro sagrado do futebol, Francesco Totti, mito da Roma - 620 jogos na Série A e campeão do Mundo em 2006 pela Itália - onde permaneceu por mais de um quarto de século. Nos dias que correm já não há muitos jogadores como Totti, que se confundem com um clube e são referência para as novas gerações. Maldini, no AC Milan, Michel, no Real Madrid, Gerrard, no Liverpool, Terry, no Chelsea, ou Luisão, no Benfica, são alguns daqueles que ainda dão sentido à expressão 'amor à camisola'."

José Manuel Delgado, in A Bola

Imperou a lei do mais forte

"Só depois do intervalo o Benfica conseguiu soltar-se da asfixia e desbloquear o jogo.

Sem inspiração
1. Primeira parte com jogo fechado tacticamente, com as equipas a limitarem as iniciativas ofensivas do adversário, tornando o encontro pouco atractivo e sem situações claras de finalização. A natural imprevisibilidade inerente à idiossincrasia do jogo de futebol, a ser acentuada pela queda aguda da chuva, tornando a relva pesada, o jogo menos fluído e pejado de choques e duelos individuais. Maior responsabilidade para o favorito Benfica, demasiado ausente, talvez resquícios da embriaguez do sucesso recente, com pouca inspiração de Jonas e companhia, permitindo que o Vitória, com o seu duplo pivot no meio campo - Rafael Miranda e Zungu - tapasse todos os canais de ligação entre os sectores e garrotasse o habitual carrossel encarnado. Os movimentos dos jogadores dos corredores do Benfica pareciam demasiado padronizados e previsíveis, excepção para Cervi. Percebia-se que o Vitória posicionava-se de forma a travar as investidas dos homens da Luz, para depois soltar as suas motas do ataque.

Peso das lesões
2. As oportunidades escassearam ao longo de toda uma primeira parte equilibrada e marcada pelas lesões de Fejsa e Hurtado, saídas que implicaram alterações nas dinâmicas dos dois conjuntos, com o Vitória a fazer entrar Celis, adiantando ligeiramente Zungu, o que elevava os índices de agressividade e capacidade de recuperação da bola à equipa, mas retirou criatividade e ligação ofensiva ao seu jogo.

Jonas apareceu
3. Quanto ao Benfica, depois de uma primeira parte triste e menos conseguida, reentrou na partida com outra intensidade e rapidamente fez dois golos em dois momentos onde resolveu aparecer - as alterações ocorridas perto do intervalo no meio-campo vitoriano deram alguma liberdade ao brasileiro - e a vida ficou complicada para os pupilos de Pedro Martins, obrigados a mudarem o perfil da sua abordagem ao jogo. Mas nem as mudanças promovidas pelo técnico trouxeram mais arte ao conjunto vimaranense, incapaz de reagir e chegar com propósito perto da baliza de Ederson. A tentativa de tornar a sua equipa mais ofensiva, com as entradas de Teixeira e Sturgeon, retirou alguma solidez e organização defensiva ao conjunto vimaranense, libertando espaços para que os homens mais ofensivos do Benfica se projectassem e fossem criando oportunidades.

Muita alma
4. Mesmo com dificuldades em ter critério no seu jogo ofensivo, o Vitória empurrado pela sua inesgotável alma, conseguiu reduzir e reentrar na partida, aproveitando algum abaixamento dos níveis de vigilância dos jogadores encarnados e trazendo incerteza ao desfecho da partida. Mas a lei do mais forte imperou e o jogo não conheceu mais golos, permitindo ao Benfica ganhar a final com todo o mérito e fazer a dobradinha."

Daúto Faquirá, in A Bola

Sinais da bola

"O Duende Verde
Antigamente vinham os paraquedistas, com as bandeiras dos clubes e a bola do jogo. Outros tempos. O esférico trouxe-o, ontem, um militar surfando num drone, qual Duende Verde do Homem-Aranha. O brinquedo é giro mas não tem o encanto de uma queda dos céus.

Execução orçamental
António Costa falou muito com Luís Filipe Vieira na tribuna. E o presidente do Benfica ter-lhe-á dado boas novas: vêm aí novas vendas. Mais exportações, portanto. O primeiro-ministro agradece porque os números ajudam à execução orçamental. Já como benfiquista...

Então, pá?
Jiménez marca, põe a máscara e festeja com os adeptos. Hugo Miguel mostra-lhe o amarelo e Rui Vitória não esconde o desagrado. «Estamos numa final, pá!», disse ao juiz. Mas este explica-lhe por gestos: o amarelo fora pela máscara. Aubameyang passou pelo mesmo.

Afectos e um 'choca aí'
Marcelo Rebelo de Sousa mais uma vez genuíno: abraços aos jogadores do V. Guimarães, aqueles que mais precisavam. O presidente quebra tanto o protocolo que os jogadores olham-no como um deles: Salvio, por exemplo, cumprimentou-o com um choca aí. E chocou.

Um caso de estudo
As lágrimas do presidente do V. Guimarães, na entrega das medalhas aos seus jogadores, foi uma das imagens da tarde. O exemplo do que é sofrer por um clube. Um clube único, com um público especial que é um caso de estudo em Portugal."

Fernando Urbano, in A Bola

Benfica: uma hegemonia que se acentua


"O defeso traz um grande desafio para os dirigentes encarnados.

O Benfica junta a Taça ao Campeonato, e soma a 11.ª dobradinha da história. Se na Liga os encarnados deixaram que o FC Porto se aproximasse até ficar, posteriormente, um forte travo de falta de comparência do rival nos encontros decisivos, a Taça foi ganha igualmente num registo mais racional e num encontro mais equilibrado do que a diferença de argumentos fazia prever.
Se a forma então pode ter deixado um pouco a desejar, a verdade é que a dupla-conquista, em ano de tetra, sublinha a distância de consistência considerável que FC Porto e Sporting ainda têm de sprintar para se colocarem a par.
O campeonato esteve, como já disse, nivelado por baixo. O Benfica quebrou até ficar ao alcance dos rivais, quando chegou a ter uma vantagem valiosa, e estes, por sua vez, falharam. Foram ainda piores.
A expectativa era maior em Alvalade, mas também o projecto Espírito Santo, sobretudo na meta imposta a curto prazo, falhou. O treinador foi despedido, e chegarão outra cara e, eventualmente, outras ideias. O plantel, que tem qualidade, embore precise obviamente de maior tempo de maturação e diversos ajustes, será colocado também no banco dos réus.
No Dragão, a dúvida cai agora sobre a política desportiva que se segue: será de nova rotura ou de continuidade?
À margem do campeonato, a equipa de Rui Vitória chegou mais longe do que FC Porto e Sporting nas restantes competições nacionais e só teve rival na Europa nos portistas, com eliminação de ambos nos oitavos de final da Liga dos Campeões.
Portugal vai agora entrar no defeso, e acredito que será aqui que se jogará grande parte do sucesso na nova época. No momento em que se fecha a actual, o emblema da Luz aparenta ainda superioridade e deter o estatuto de maior candidato a novo título, agora um eventual penta. Apresenta uma estrutura competente e sóbria, um treinador que procura consensos, uma boa base para um plantel a continuar sólido e o moral de quatro anos sucessivos de sucesso. Terá igualmente os rivais debilitados pelos anos de fome.
Há, contudo, um mercado pelo meio, que pode voltar a baralhar contas. Os influentes e estruturais Ederson, Lindelof e Nélson Semedo serão os mais apetecíveis para os maiores clubes europeus, mas, num clube declaradamente vendedor como o Benfica, outros como Grimaldo, Pizzi, Raúl Jiménez e o próprio Jonas também poderão ser assediados. Até as declarações daquele que poderia ser de novo número 1, o brasileiro Júlio César, estão por explicar.
O clube tem sabido antecipar saídas nos últimos anos, e este parece não ser excepção. Kalaica tem estado em banho-maria na equipa B, Pedro Pereira chegou em Janeiro, ao mesmo tempo que Hermes, embora o lateral-esquerdo tenha passado muitos meses sem jogar, e Filipe Augusto. Seferovic já confirmou que irá representar o Benfica e há ainda nomes que poderão subir da formação, como João Carvalho ou Diogo Gonçalves, por exemplo. Faltará um guarda-redes, a acreditar que Augusto e Horta conseguiriam entrar numa rotação com Pizzi, ou eventualmente substituí-lo em caso de saída.
Só o tempo dirá o que vai acontecer, e confirmar se existirá, ou não, uma reaproximação de forças entre os três grandes de Portugal.
Os números mostram que a hegemonia do Benfica tem-se acentuado. A inversão do ciclo iniciou-se não há quatro anos, mas em 2009-10, no primeiro ano de Jorge Jesus na Luz. Seguiram-se, é verdade, três épocas de títulos para o FC Porto, mas o constante empobrecimento do plantel azul e branco, cada vez com menos referências, só resultaram no fecho do tri com um autêntico milagre: aquele remate de Kelvin, que deu o bicampeonato a Vítor Pereira.
Se na temporada de André Villas-Boas, não houve discussão sobre a superioridade portista total, nos dois anos seguintes o Benfica deu a sensação de ter perdido o que os portistas tinham acabado de ganhar. Ou seja, que houve grande responsabilidade sua nos festejos do rival. Vítor Pereira terá apenas adiado o que se seguiria.
Desde a época de 2009-10, o Benfica conquistou 15 troféus em 31 possíveis. O FC Porto arrecadou nove, o Sporting dois, tantos quantos o Sp. Braga. Académica, V. Guimarães, Moreirense os restantes.
A tendência é esmagadora se formos apenas aos últimos quatro anos, os do tetra. São 11 em 15 possíveis para os encarnados, falhando duas Taças de Portugal (Sp. Braga e Sporting), uma Supertaça (Sporting) e a Taça da Liga deste ano (Moreirense).

O ciclo de hegemonia do Benfica:
2009-10 – Liga; Taça (FC Porto); Taça da Liga; Supertaça (FC Porto); 1/4 LE (Liverpool)
2010-11 – Liga (FC Porto); Taça (FC Porto); Taça da Liga; Supertaça (FC Porto); 3º LC, 1/2 LE (Sp. Braga)
2011-12 – Liga (FC Porto); Taça (Académica); Taça da Liga; Supertaça (FC Porto); 1/4 LC (Chelsea)
2012-13 – Liga (FC Porto); Taça (V. Guimarães); Taça da Liga (Sp. Braga); Supertaça (FC Porto); 3º LC, final LE (Chelsea)
2013-14 – Liga; Taça; Taça da Liga; Supertaça; 3º LC, final Liga Europa (Sevilha)
2014-15 – Liga; Taça (Sporting); Taça da Liga; Supertaça (Sporting); Grupo LC
2015-16 – Liga; Taça (Sp. Braga); Taça da Liga; Supertaça; 1/4 LC (Bayern)
2016-17 – Liga; Taça; Taça da Liga (Moreirense); 1/8 LC (Dortmund); Supertaça por decidir

Muito pode obviamente mudar em meses, e o futebol da equipa esteve longe de ser exuberante durante a maior parte da última temporada. Ao dia em que acaba a época, a diferença é notória e uma boa base para o que aí vem.
Caberá à direcção encarnada responder com qualidade às saídas e às lacunas que o grupo encarnado mesmo assim mostrou. Ou a próxima Liga ainda começará ainda mais nivelada, sobretudo se os rivais finalmente corresponderem.
O desafio não é fácil, mas em teoria o problema terá começado a ser resolvido há meses. Veremos se de forma correta."


Luís Mateus, in MaisFutebol

PS: Os expert's às vezes gostam de 'complicar'! Esta 'moda' de incluir as Supertaças no curriculum da época anterior não faz nenhum sentido!!! Os jogadores apresentam-se ao serviço no início de Julho, com um plantel diferente da época anterior... portanto se o Benfica vencer a Supertaça de 2017/18, que se vai realizar no dia 6 de Agosto com o Guimarães, esse título pertencerá à época 2017/18...!!!

O segredo da hegemonia

"A temporada 2016/2017 acabou como começou: com o Benfica a ganhar. Para a época ser perfeita para o clube da Luz faltou apenas a Taça da Liga, perdida no momento de menor fulgor, ainda assim incapaz de impedir a confirmação daquilo que já ninguém pode esconder: mora na Luz o novo dono da hegemonia do futebol português. Os últimos quatro anos não deixam espaço para outra leitura - basta dizer que o Benfica venceu onze dos quinze títulos nacionais em discussão nesse período. Ontem, no Jamor, frente a um inexcedível Vitoria de Guimarães, Rui Vitória ergueu o quinto troféu em dois anos de banco da águia. É obra.
Tem (mesmo que alguns possam não querer reconhecer-lho) enorme mérito o treinador. E os jogadores. Mas boa parte do sucesso deste Benfica, dominador como há muito não se via, mora na estabilidade. Chamem-lhe estrutura ou outra coisa qualquer. O facto é que na Luz continua a ganhar-se, apesar das mudanças no comando técnico (foram só duas, convém realçar) e dos jogadores que todos os verões rumam, super valorizados, a outras paragens.
Este ano, já se percebeu, não será excepção. Sairão Ederson e Nélson Semedo, é provável que o mesmo aconteça a Lindelof e a alguns outros. E ainda assim está à vista de todos que o Benfica parte já em vantagem para 2017/2018. Porque numa altura em que os seus principais adversários tentam resolver os enormes problemas internos, o clube da Luz ataca-os com mais um título e, em tranquilidade absoluta, começa a preparar a nova temporada. Chega para garantir já o penta? Não. Mas ajuda."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Cadomblé do Vata

"1. Tetra campeões e 11.ª dobradinha da História, com presidente da Liga apoiado pelos rivais, direcção do Conselho de Arbitragem eleito pelos rivais e video árbitro pedido pelos rivais... como isto anda, até podem colocar o Inácio na Presidência do SLB que nós ganhamos na mesma.
2. Nos últimos 4 anos ganhamos 11 das 16 competições nacionais disputadas... o SLB ganhou mais prata em Portugal nestas 4 temporadas do que os Conquistadores espanhóis na América do Sul em 4 séculos. 
3. O Vitória de Guimarães viu o SLB ganhar-lhes debaixo do nariz o Tetra e a Taça...isto para o Pedro Martins foi como cumprir um estágio intensivo para treinador do Sporting.
4. Luisão conquistou hoje o 19.º título de Águia ao peito e empatou com Nené na liderança da tabela dos Craques Mais Titulados Pelo Glorioso... aposto que ele quando se olha ao espelho pensa "ahh se eu tivesse um cabelo por cada troféu conquistado pelo SLB...".
5. Jimenez disse no final que os festejos foram homenagem a um wrestler de nome Sin Cara... a mim não me enganas Raúl, um wrestler com máscara de felino azul e branco no final desta época, só se pode chamar Sin Nada."

(...) nomeia Pizzi como ministro da basculação antes de fazer uma ode ao seu argentino preferido

"Ederson
Meia dúzia de defesas seguras e uma saída algo distraída num canto que quase acabava em golo. Nem parece dele. Deve ter-se esquecido de fazer o check-in para Manchester. Quem nunca. Enfim. Fez uma época extraordinária e só o voltaremos a ver através da televisão ou das redes sociais, onde nos dedicará uma canção de forró quando o Benfica se sagrar pentacampeão nacional. Valha-nos isso.  
Nélson Semedo
Muito bem a simular o corte aos 29’, provocando o pânico na equipa técnica do Bayern Munique, que anda escaldada depois da contratação de Renato Sanches. Rapidamente sossegaria os seus futuros patrões, excepção feita a dois ou três lances em que foi comido de cebolada por Rafinha. Bom, o mais importante é que já recebemos comprovativo de transferência.

Luisão
Um dos poucos jogadores que não se despediu dos adeptos hoje tem 36 anos de idade. É este o estado em que se encontra o plantel do Benfica. Ainda a recuperar dos festejos do tetra, Luisão pareceu algo enferrujado perante a robustez física dos porteiros de discoteca que compõem a frente ofensiva do Vitória de Guimarães. Conseguiu ainda assim manter a calma e evitar um arraial de pancadaria digno de capa do Correio da Manhã. Só não evitou o segundo golo, num lance em que o capitão julgou ter ouvido Ederson dizer “deixa que é minha”. Na verdade, tudo não passou de uma partida pregada pelo vento. Por essa altura já Ederson seguia num Uber a caminho da Portela.

Lindelof
A análise individual de hoje parece um daqueles placards do aeroporto com a hora de embarque. Lindelof até podia ter jogado mal hoje que continuaríamos a pedir a sua permanência no plantel, mas o sacana quis fazer mais uma exibição segura, polvilhada aqui e ali com aquela típica insegurança sueca de quem já passou tempo suficiente no sul da Europa. Na mala levará muitos títulos, a receita da caldeirada de peixe do Barbas e demasiadas peças de roupa impróprias para o clima britânico. Ao seu lado, encostada à janela, irá Maja, estranhamente circunspecta. Lindelof perguntar-lhe-á por que suspira, quando deveria dizer: "Não chores, Maja. Um dia o destino voltará a juntar-nos, num qualquer empréstimo com opção de compra".

Grimaldo
Tarefa ingrata a de ocupar o lugar de Eliseu nesta fase da vida do clube. Ainda não pode aspirar ao museu como o seu colega de flanco, mas continua a fazer exibições de uma estranha sobriedade, demonstrando que nem todos os laterais modernos têm que ser uns estouvados que entram pelo relvado adentro com uma Vespa.

Fejsa
Não teve tempo para grandes proezas. Assim que Fejsa abandonou o relvado devido a lesão, o comentador da RTP explicou que ele e Samaris eram "jogadores diferentes", um eufemismo que chega a ser amoroso. Agora é esperar que a lesão não seja grave ou, caso haja clubes interessados, que ele regresse melhor do que nunca daqui a 6 meses.

Pizzi
Melhor em campo, mas de longe. É uma das pessoas mais esclarecidas em Portugal neste momento. Se Mário Centeno é o Ronaldo do Ecofin, Pizzi é o Ronaldo da transição defesa-ataque. Devia ser ministro da basculação. Hoje assistimos a mais uma demonstração cabal de que o Benfica tudo deve fazer para o manter no plantel. Sugiro que nos transformemos num principado livre de impostos. Seríamos o maior principado do mundo. Enfim. Não me tiram a garrafa da frente e ainda falta meia dúzia de jogadores. Lembrei-me de outra coisa. Há poucos dias vimos um conjunto de pessoas eleger Bas Dost como melhor jogador do campeonato. Seria uma discussão válida se todos começássemos por dizer o que é que bebemos antes de expressar as nossas opiniões. Eu estou a beber Monte da Peceguina tinto. E eles?

Salvio
É complicado. Lembram-se quando queríamos muito vender o Salvio e ele partiu um braço ou lá o que foi? Pois bem, a venda foi ao ar e nós ficámos com um argentino aparafusado, cheio de ilusión e a ocasional lesión. O tempo foi passando. Enchemos a barriguinha de títulos e habituámo-nos a ver Salvio no meio da festa, como se tivesse desistido de sonhar com mais. E agora a pergunta que nos faz pensar: quantos argentinos que passaram pelo clube nos últimos anos declararam amor eterno ao Benfica? O Gaitán não conta, está agora a arrumar as cadeiras do Vicente Calderon. Quantos desistiram das suas ambições internacionais por nós? O Bossio também não conta. Esse desistiu da carreira antes mesmo de chegar a Lisboa. Salvio continua a decidir jogos. Continua a fazer-nos acreditar, mesmo depois de 10 lances individuais que só ele julgava possíveis. E não parece interessado em ir a lado nenhum. Talvez seja altura de comprar aquele T3 em Telheiras, inscrever os miúdos no São João de Brito e deixar crescer a barriga. Uma barriguinha cheia de títulos. Mais que não seja porque o seu contrato de arrendamento termina em Julho e o senhorio está a pensar pôr a casa no Airbnb.

Cervi
Apetece-nos fazer que nem uma betinha com 20 mil followers no Instagram quando partilha uma foto no ginásio, e citar Rihanna: work, work, work, work, work. Pelo que temos visto nas notícias, o futebol simultaneamente perfumado e raivoso de Cervi ainda não surgiu nos radares dos grandes europeus. Podíamos fazer mais uma piada sobre a altura do nosso pequeno génio, mas seremos superiores a isso.

Jonas
Neste momento, o Quim Berto está na RTP a explicar o que se passou. É por isso uma boa altura para declararmos mais uma vez o nosso amor ao Benfica, um clube enorme que viveu connosco, nas palavras certeiras do Pedro Ribeiro, um autêntico Vietname. E que bom é ter sobrevivido a esses anos de ração de guerra para hoje besuntarmos os dedos em filet mignon. Ver Jonas em campo é, em muito, semelhante à sensação que tivemos quando vimos Pablito Aimar com a nossa camisola. A qualquer momento, em qualquer zona do terreno, arriscamo-nos a ver um tratado futebolístico. Por pouco não marcou num belíssimo lance com Grimaldo, mas deu a marcar com um remate mal defendido que colocou Jiménez na cara de Miguel Silva.

Jiménez
Agora que Jiménez se prepara para entrar na história do clube, deixamos apenas um conselho: lavem a máscara antes de a exibir no museu. É que tirar uma máscara de lucha libre das cuecas e colocá-la na cara é muito semelhante a despir as próprias cuecas e colocá-las na cara. Aconteceu-nos uma vez em Albufeira e prometemos não repetir a façanha, nem por amor ao Benfica. Já agora, imaginem que o homem não marcava e chegava ao balneário com uma máscara dentro dos calções, ainda por estrear. Felizmente os seus pés habilidosos evitaram essa situação altamente embaraçosa.

Samaris
Este gajo não estava suspenso? Que escândalo! Ainda por cima jogou bem. Aquela entrada ao Celis é de um descaramento sem igual. Então um jogador do Benfica que deveria estar suspenso por quatro jogos enfia uma fruta num jogador emprestado pelo seu clube, quase atirando o adversário para o estaleiro? Que bonita é esta vida repleta de contradições. Carrega Andreas!

Rafa
Mostrou sérias dificuldades em manter o penteado que tinha preparado para o jogo de hoje.

Felipe Augusto
Entrou para segurar Marega e companhia, mas quando deu por isso já Marega tinha tropeçado nos próprios pés e o árbitro apitado para o final.

Nota final: Adeptos do Vitória de Guimarães Gigantes. Mereciam mais uma taça. São um dos poucos clubes fora do círculo dos três grandes que enche o seu estádio. O futebol português precisa de mais clubes e adeptos assim. Quero muito o penta, o hexa e o hepta, mas se esse ciclo tiver de ser interrompido que seja por uma equipa como esta. Sairíamos todos a ganhar."

Rui Vitória e Benfica, um casamento quase perfeito

"Os casamentos entre os treinadores e os seus clubes não têm que gerar sempre vitórias. Até porque temos vários exemplos de bons casamentos e sinergias entre treinadores nos seus clubes que não geram títulos, mas sim estabilidade, vendas, estratégias e objectivos bem definidos e alcançados. Mas num clube como o Benfica, os objectivos e as estratégias necessitam de títulos e de vitórias regulares. É verdade que temos exemplos de que nem sempre as vitórias – mesmo nos três grandes em Portugal – significaram sinergias entre os clubes, ambiente e treinadores que resultassem numa paz saudável de trabalho.
Voltando a Rui Vitória, o treinador vindo de Guimarães ‘caiu’ no Benfica de modo bastante natural. Provavelmente existem sempre adeptos descontentes. Que consideram que para além de vencerem deveriam fazê-lo de outro modo. Mas de um modo geral, assim que Rui Vitória passou para a frente na Liga 2015/16, passou a estar melhor alinhado com a forma de estar do clube. Com algum grau de certeza, Rui Vitória afirmaria a esta minha frase que continua o mesmo, mas eu considero que existiu uma evolução e adaptação – natural em todas as profissões – que o levou a compatibilizar e tornar mais eficientes as suas intervenções. E hoje, o estado de espírito deste casamento aos olhos de fora, é que a estrutura e o treinador se potenciam um ao outro.
Será desnecessário discutir-se quem faz mais por quem, até porque os deveres e direitos de ambas as partes são diferentes. Hoje, o treinador português consegue responder aos desafios do clube do modo como o clube definiu previamente que deveriam ser correspondidos. Seja através de uma maior comunhão, seja através da formação, de estar mais preparado para a perda de jogadores nucleares, Rui Vitória responde a esses obstáculos como algo que, não sendo de todo bom, é o que tem de ser. Jorge Jesus sempre teve de aceitar a perda de jogadores. Teve de refazer plantéis após perdas de jogadores nucleares todas as épocas. Onde parece que este casamento é mais aprazível é na aceitação da formação como algo de orgulho e positivo, e na vontade das duas partes aceitarem o modo de ser do outro. E isso faz toda a diferença na estrutura + treinador.
Rui Vitória e Benfica sabem que não vão vencer sempre. Isso não existe! E é também isso que faz com que os clubes e os treinadores estejam sempre em alerta. Serem exigentes, não se deixarem acomodar. Mais do que o fim que é vencer, o meio como o atingem é provavelmente o foco do Benfica e outro qualquer clube em encontrar um treinador que se encaixe naquilo que é o modo de estar e ser dos respectivos clubes. E será assim quando Rui Vitória sair do Benfica."