"Em dia de festa, um desaguisado entre Jimmy Hagan e os jogadores ditou o fim do percurso do inglês no Clube.
Em 1970 aterrava em Lisboa um antigo capitão do exército inglês na II Guerra Mundial, com ar sério e austero, que viria revolucionar o futebol português. Confuso? O seu nome era James Hagan, Jimmy para os amigos, e vinha treinar o Benfica.
Avançamos agora até 25 de Setembro de 1973. Temos um Benfica na crista da onda, tricampeão, e em dia de festa: o Estádio da Luz vestia-se de gala para homenagear Eusébio. Era dia de festa para o Clube, era também dia de festa para os jogadores que, dias antes, até foram para a Baixa vender bilhetes do evento, mas nunca para Jimmy Hagan, para quem todos os dias eram bons dias para treinar afincadamente. Mesmo em dias de jogo, como era o caso. O momento alto da noite seria um amigável entre a equipa do Benfica e a Selecção do Resto do Mundo, composta por nomes tão importantes como Bobby Charlton, Blankenburg ou Netzer.
Nessa manhã, o treino consistia numa série de voltas ao campo, contornando por fora as bandeirolas colocadas nos cantos. Dizem as más-línguas que alguns jogadores fizeram o percurso por dentro, o que, parecendo que não, facilita o trajecto, e a certa altura se deixaram ficar para trás e usaram o tempo restante para se alongarem, pois não há nada pior que uma contratura ou uma cãibra violenta por falta de alongamento. Para Hagan aquilo foi uma afronta. O resultado? Toni e Humberto Coelho, dois dos infractores, não foram convocados. 'Avisei-os que se não trabalham, não jogam' explicou em declarações à imprensa, dias depois. O sucedido chegou aos ouvidos de Borges Coutinho, que tentou pôr água na fervura. Afinal aquele era um dia importante e todos os jogadores deveriam fazer parte da festa. Hagan cedeu, contrariado, mas manteve-se fiel ao sui generis feitio britânico: não orientou a equipa frente à selecção mundial, não assistiu ao desafio e, no dia seguinte, demitiu-se! A isto se chama sair em grande.
Três dias depois, Fernando Cabrita, até ali adjunto, foi apresentado aos jogadores como o treinador principal. Um déjà-vu, já que em 1966 também passou para primeiro plano ao substituir Béla Gutmann e em 1968 tomou o lugar de Fernando Riera, tornando-se um dos adjuntos que mais vezes substituiu técnicos contratados.
Pode saber mais sobre o percurso dos treinadores do Benfica na área 25 - Mestres da Bola, do Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Furtado, in O Benfica
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