sábado, 4 de março de 2017

Chamem a polícia... mas para quê?

"Estranho País este que consente a perseguição aos árbitros em nome dum Estado que se acha no direito de fingir não ver e não saber.

O século XXI não trouxe ao futebol português qualquer tipo de modernidade civilizacional. Perseguidos como, há séculos, os católicos jesuítas no Japão, tão bem retratados pelo filme Silêncio, os árbitros portugueses continuam a ser pressionados, ameaçados, humilhados e ofendidos em pleno século XXI, porque o Portugal democrático, livre e moderno, suspende a lei, suspende a honra, suspende o direito de cidadania quando se trata de futebol.
O futebol, em Portugal, permite a excepção e a subversão dos poderes. Há gente que age criminosamente e que sente o conforto da impunidade. Dizem que são coisas da bola e com essa displicência e desresponsabilização permitem um clima de intimidação e de ameaças sérias a árbitros e suas famílias.
Não queremos ser exaustivos, mas lembremos apenas alguns casos conhecidos e publicados de intimidação e de ameaças sérias a árbitros e suas famílias.
Jorge Coroado, que já deixou a arbitragem foi, neste início de século, dos primeiros a queixar-se de ameaças de morte. Seguiu-se uma agressão registada e anunciada a Bruno Paixão. Em 2009 e 2010 o árbitro internacional Jorge Sousa foi ameaçado e as paredes de sua cada alvo de vandalismo. Poucas épocas depois, o árbitro Duarte Gomes, a conselho policial, viria a ser obrigado a mudar de rotinas e, neste última quinta feira, no programa da BolaTV, 'Quinta da Bola' trouxe-nos a informação de que, durante um largo período de tempo, a polícia acompanhou, como medida de protecção, a sua filha menor quando estava no colégio, porque as ameaças recebidas foram consideradas muito credíveis. Entretanto, aquele que foi considerado o melhor árbitro do mundo, Pedro Proença, fora insultado e agredido no Centro Comercial Colombo, em Lisboa Seguiram-se as acções de vandalização do talho pertencente ao árbitro Manuel Mota e as graves ameaças ao árbitro João Capela. No dia 5 de Janeiro deste ano de 2017, o árbitro Artur Soares Dias foi ameaçado dos árbitros, na Maia. Agora, e pela segunda vez num curto espaço de tempo, o restaurante do pai do árbitro Jorge Ferreira foi vandalizado. O árbitro confessa-se assustado e especialmente preocupado com a integridade dos seus familiares mais próximos.
Em todos estes casos, foi feita queixa na polícia. De resultados dessas queixas, apenas de conhece uma acção da Policia Judiciária que deu conta de nove adeptos benfiquistas que em Maio de 2010 (há sete anos) foram acusados de ameaças a árbitros.
Os casos são recorrentes, têm um padrão definido e comum, inserem-se num reiterado comportamento criminosos e conhecem-se factos que os tornam aparentemente fáceis de serem resolvidos, levarem à imediata descoberta dos seus autores, ao apuramento de quem foram os seus mandantes e de serem levados a tribunal. Porém, parece haver um intransponível bloqueio na acção policial, uma ausência de comprometimento do Ministério Público, um manifesto desinteresse do Ministério da Administração Interna. Ninguém parece preocupado em apurar responsabilidades ou, pelo menos, apurar as razões da inquietante ineficácia da investigação.
Haverá uma assumida preocupação em não envolver o Estado nas questões do futebol, mesmo quando se tratam de actos criminosos. O critério, é o de tolerar a existência de um pequeno país do futebol, dentro do país Portugal, onde os sistemas de poder político, legislativo e judicial são outros e dominados por interesses privados.
E, de tudo isto, o que mais me impressiona é a dócil, submissa e resignada reacção dos árbitros.
(...)"

Vítor Serpa, in A Bola

PS: Pois é, numa sociedade moderna, livre, não é só a Polícia e o MP que tem responsabilidades na denuncia de actos criminosos... os jornalistas, também têm essa responsabilidade! Ou não o fazerem, seja por acção cúmplice, seja por inacção... vai dar ao mesmo!!!

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