quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

"Chupa, betão", diz (...) sobre a exibição de Ederson, num jogo em que Pizzi cumpriu com dignidade as instruções de não morrer

"(Preâmbulo)
Rui Vitória, ao intervalo
Rapazes, tenho uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que por milagre não estamos a levar na pá. A má notícia é que ainda faltam 45 minutos. Podia agora fazer uma comparação entre a minha condição miserável e a situação em que vocês se encontram, mas sinceramente a minha vida é bastante porreira, acabei de renovar e isto não é o Any Given Sunday. Uma coisa posso dizer-vos: se fosse fácil não era para nós. Estou a brincar. Já ninguém consegue ouvir essa. Até eu estou farto.
É assim. Eu prometi à minha família que só fazia esta barba se ganhássemos a uma equipa alemã, ou se algum dia tivesse todo o plantel disponível. Neste momento, parece-me mais provável o Grimaldo entrar para o lugar do Eliseu do que vencermos este jogo. Mas, nem eu nasci para usar estas pilosidades capilares, nem vocês estão cá para levar baile. Vamos lá comê-los vivos. Antes de voltarem lá para fora, só algumas indicações.
Ederson, pára de pontapear adversários.
Nélson, seguiste o Bayern no instagram, não foi? Porreiro. Experimenta seguir os adversários. 
Lindelof, nem acredito que vou dizer isto, mas estiveste bem. Luisão, a direção já avisou os jornais que o teu jogo 500 afinal é só no próximo domingo. Isto assim não é nada.
Eliseu, é isso mas em bom.
Fejsa, parece que levaste uma injeção de estrogénio e estás jogar de saltos altos.
Salvio, um dos teus lances individuais terminou na Casa do Artista. Levanta a cabeça.
Rafa, pareces o filho de um jogador do Benfica que entrou para fazer número.
Carrillo, a jogar assim nem os chineses te pegam.
Mitroglou, eu sei. Estamos todos a sofrer. Eu também queria que ele estivesse aqui.
Filipe Augusto. Porque é que tens dois nomes? Que raio de ideia. Ninguém te deu uma alcunha no Brasil? Veste lá a camisola e calça-te. Tenho aqui uma táctica muita simples para ti: vais andar ali perto do Fejsa e do Pizzi e fazes o contrário do que eles fizerem.
Só mais uma coisa. Alguém sabe do Pizzi?

Análise Individual
Ederson Moraes
Incansável. Melhorou no único capítulo em que tem demonstrado inexperiência, já que desta vez não enfiou os pitons no adversário. O árbitro reconheceu a boa fé do pontapé em Dembélé e mandou seguir. Ederson olhou para Nicola Rizzoli, contemplou o céu, e decidiu que iria confundir a decisão errada do árbitro com uma intervenção divina - graças a Deus que assim foi. A partir daí, avançou decidido para uma exibição inesquecível, que justificaria comparações com um muro de betão não fosse esta uma matéria com muito menor maleabilidade, total inaptidão para fazer a mancha, incapacidade para defender penalties, e muito menos possuidora dos mesmos reflexos. Chupa, betão. 

Nélson Semedo
Entrou em campo com a tranquilidade de quem vai pendurar meias no estendal, mas rapidamente a normalidade se esfumou quando percebeu que o adversário de hoje não era o Portimonense. Aos 35 minutos foi visto a duvidar das suas capacidades para vingar no futebol alemão, mas um berro de Luisão devolveu-o à realidade, onde por acaso um individuo em roupa fluorescente já surgia desmarcado. Passou o resto do jogo a recuperar deste rude despertar e terminou em bom plano, tendo no final agradecido aos adeptos, a Rui Vitória e a Carlo Ancelotti pela confiança depositada.

Luisão
Tudo se encaminhava para ser o mais deprimente jogo 500 de qualquer jogador que tenha feito 500 jogos num só clube, mas felizmente houve mais 45 minutos e portanto esse galardão continuará à espera do Rui Patrício. Não que tenha sido dos piores na primeira parte, mas a sua exibição após o golo foi, piadas à parte, uma das coisas mais bonitas que vimos neste novo Estádio da Luz. Luisão sempre foi líder e capitão nos maus momentos, mas a sua capacidade de somar energia e uma aura de invencibilidade aos melhores momentos da vida do clube merecem o maior dos agradecimentos, e estão inscritos no código genético daquilo que são hoje o orgulho e a mística benfiquista. Luisão trabalha no Benfica há quase 14 anos. Porra. São 14 anos a partilhar o balneário com alguns dos melhores jogadores do mundo e com alguns dos piores. 14 anos em que nunca foi dos que se limitavam a picar o ponto. O contrário: passou uma carreira inteira preocupado em chegar a horas ao lance seguinte, ao seguinte, e ao seguinte. Já perdemos a conta à quantidade de vezes que celebrámos desarmes seus como se fossem golos, mas, sempre que a memória nos parece trair enganada pelo BI do nosso capitão, ele regressa para nos mostrar, como hoje, 14 anos depois, exactamente ao minuto 78, como é que se vencem jogos de futebol e porque é que isto é tão importante para nós. 14 anos. A maioria dos miúdos hoje não aguenta 14 dias sem exigir o lugar do director-geral. Amanhã voltaremos às piadas, mas hoje é altura de dizer: Muito obrigado, capitão. 

Victor Lindelof
Uma das melhores exibições da época. Mostrou níveis de atenção que não lhe víamos desde que recebeu a proposta salarial do Manchester United.

Eliseu
A sua primeira intervenção no jogo foi uma fruta descomplexadíssima num alemão. Parecia um bom presságio, mas rapidamente se percebeu que aquelas rabias manhosas dos alemães na zona central tinham como finalidade apanhar Eliseu a sonhar com carne maturada e fazer a churrascada nas suas costas. A coisa só não correu pior devido a uma combinação de eventos espácio-temporais que Stephen Hawking, na sua famosa conferência de Geneva, descreveu como “uma sorte dos diabos”.

Ljubomir Fejsa
Nota-se que foi pai há pouco tempo. Só na segunda parte conseguiu adormecer o bebé e lá foi tentando dominar as circunstâncias em que se encontra, com um pé junto à canela dos adversários e outro a abanar a espreguiçadeira, não vá o gajo acordar.

Pizzi
Rui Vitória tinha instruções muito específicas para Pizzi na partida de hoje. Pediu-lhe essencialmente que não morresse. Pizzi cumpriu com toda a dignidade. Agora é levantar a cabeça e pensar no próximo jogo.

Carrillo
Exibição muito apagada do peruano. Foi substituído ao intervalo e recebido em apoteose no regresso ao banco de suplentes.

Toto Salvio
Começou o jogo com vontade de fintar meia equipa do Borussia Dortmund, e assim o fez, quase sempre indiferente ao facto de sobrar outra meia equipa para lhe tirar a bola. Esta espécie de narrativa paralela Toto vs. mundo, que tantas alegrias já nos deu, foi pouco consequente e serviu para expôr algumas fragilidades da nossa construção de jogo, mas fez milhares de adeptos acreditarem que era possível ganhar o jogo. Terminou por isso no lado certo da história.

Kostas Mitrolgou
Heróico. Sobreviveu a este dia de São Valentim longe do seu amor Jonas, que torcia por si na cama de um osteopata qualquer. Foi o único indivíduo em campo que teve oportunidade de se dirigir a uma câmara de tv para fazer um coraçãozinho ridículo com as mãos, mas soube ser superior a isso.

Rafa Silva
Foi uma das histórias do jogo. Ao intervalo, já no seu balneário, o defesa Bartra encontrou Rafa num bolso dos calções. Felizmente, o fair-play dos alemães imperou e o jogador foi devolvido a Rui Vitória. Dizem que a barba faz o homem, mas nem assim o miúdo fez esquecer Jonas.

Filipe Augusto
À hora em que escrevemos isto, Filipe Augusto continua no relvado da Luz a perseguir furiosamente a bola, e já avisou que vai a correr para casa.

Aubemayang
Que grande benfiquista."

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