"O alargado conjunto de ex-árbitros - comentadores - comentadores de ex-árbitros - ainda - não - ex entrou definitivamente no dia-a-dia do futebol. Nas televisões, vemos e lemos opiniões, doutrinas e sentenças para todos os gostos. Em consonância com programas que fazem da arbitragem o seu núcleo duro, eis agora completada, em todo o seu esplendor, na nova hierarquia comentarista do futebol:
1.ª arbitragem;
2.º polémica;
3.º 'mercado';
4.º jogo propriamente dito (se houver tempo e paciência).
Há bons árbitros - comentadores que leio com interesse, aprendendo pormenores do ofício. Há também os que, melhor preparados, tem alguma preocupação ético-pedagógica face à dúvida e ao erro, companheiros inseparáveis de qualquer juiz.
Nesta míriade de ex-árbitros há quem tenha mais coragem e isenção e há quem não saiba esconder o seu ódio (ou azia?) de estimação, desafiando evidências.
Tenho dúvidas se esta constante e pública apreciação interpares (ainda que diacrónica) será a melhor ajuda que se pode dar aos neófitos árbitros. Melhor do que nós, os árbitros-comentadores sabem a diferença entre estar no relvado, tendo que decidir entre luzes e sombras em fracções de segundo, e analisar o mesmo lance comodamente sentado, com múltiplas repetições de múltiplos ângulos, e com imagens paradas e ampliadas.
Por mais regras e recomendações que haja, a estória da intencionalidade, intensidade e gravidade das infracções continua eivada de um subjectivismo inultrapassável que nem os árbitros-comentadores conseguem dilucidar.. É que o futebol não é um jogo de computador, é jogado e julgado por pessoas. É também por isso que apaixona."
Bagão Félix, in A Bola
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