quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Pontas goleadoras !!!

Benfica 41 - 20 Ac. São Mamede
(21-12)

Excelente adversário (último classificado do campeonato), após as emoções do último domingo. Jogo tranquilo como se esperava, deu para rodar todo o plantel, e fazer descansar os jogadores a necessitar de mais cuidados...
Nota de destaque para os nossos Pontas, marcaram 23 dos nossos golos!!! O Rakovic é mesmo reforço...

À volta da Luz

"O Benfica voltou a marcar 3 golos, mas desta vez sem sofrer outros tantos. É a 9.ª vitória em 11 jornadas da Liga. Nesta altura na época transacta, sucedia quase o antípoda pontual do que agora: menos 7 pontos do que Sporting e 5 do Porto. Nos últimos 37 jogos para a Liga, o Benfica venceu 34 vezes, com um saldo 102-20. Aproximam-se 4 jornadas pré-natalícias (Marítimo fora, Sporting na Luz, Estoril fora e Rio Ave de novo em casa) que muito podem ditar sobre o futuro desta temporada.
Com o Moreirense, 56.000 espectadores, bem acima do recorde absoluto batido em Alvalade contra o Real Madrid (cerca de 50.000).
Eliseu magoou-se. Creio que é o 20.ª jogador encarnado a lesionar-se esta época. Salvo erro, só me lembro de dois jogadores titulares ou perto disso que ainda não passaram pelo 'Hospital da Luz' (não me refiro ao dos chineses): Nélson Semedo e, hélas, Eduardo Sálvio! Rui Vitória (sem Manéis) não se queixa e vai cerzindo o conjunto com mestria e serenidade. Já o Sporting, praticamente só com um lesionado (Adrien), carpiu lágrimas perante tal fatalidade. É a diferença entre o 'não deixa-andar' e o 'queixa-andar', parafraseando Mia Couto.
Tem-me surpreendido a debilidade do FC Porto. Sobretudo fora do seu reduto, uma equipa sem confiança. Depois da forma de ilustração desenhada em directo, pelo seu correcto treinador, do modo como a equipa deveria estar em campo, cinco empates, um golo marcado e outro sofrido e apenas uma boa exibição contra o Benfica (alguém me dizia, maliciosamente, que o Porto até vem jogando como as equipas pequenas que sempre se agigantam quando defrontam o SLB)."

Bagão Félix, in A Bola

O 'fair play' não é uma treta

"Os acidentes de aviação acontecem, equipas das mais variadas modalidades deslocam-se em grande número e com inusitada frequência pelos ares e o resto explica-se através da estatística e da lei das probabilidades.
Da tragédia que vitimou a equipa brasileira da Chapecoense - um exemplo de que ainda é possível subir a pulso a corda do sucesso - resultaram algumas atitudes que, pela dignidade que encerram, merecem aplauso.
Do ponto de vista formal, será expectável que a Conmebol que superintende o futebol sul-americano, decrete que em 2016 não se atribua o título de campeão da Taça Sul-Americana, a segunda competição continental de clubes. Porém, o Atlético Nacional, o outro finalista, já veio solicitar oficialmente que a Chapecoense seja declarada vencedora. Trata-se de um atitude nobre, que nos reconcilia com o princípio do desportivismo, tão maltratado nos dias que correm.
Depois, e seguindo a filosofia do Marquês de Pombal aplicável ao day after das tragédias, há que «tratar dos vivos e enterrar os mortos». Quer isto dizer que a vida continua e há que criar condições para que, neste caso, o emblema enlutado possa prosseguir a sua actividade. Os clubes brasileiros (e alguns estrangeiros, entre os quais o Benfica) já propuseram ceder jogadores à Chapecoense, custeando os salários. E ainda propõem, à imagem do que foi feito em Itália com o Torino, após a tragédia de Superga, a criação de um tempo de carência de três anos e que a equipa de Chapecó não desceria de divisão, independentemente da classificação que obtivesse.
Afinal, o fair play não é uma treta."

José Manuel Delgado, in A Bola

“O Caio era como meu filho”

"Caio Júnior, treinador da Chapecoense que morreu no acidente aéreo na Colômbia, jogou em Portugal no Vitória de Guimarães, no Estrela da Amadora e no Belenenses, nos anos 90. E houve um denominador comum nestes três clubes: o treinador João Alves. “ Se ele fosse mais explosivo, com maior condição física, teria sido um dos melhores jogadores do mundo”, recorda

Quando é que conheceu o Caio?
Cheguei a Guimarães no final da época [1990/91], já era o terceiro treinador. Quem tinha começado lá era o Paulo Autuori, que depois foi substituído pelo Pedro Rocha, que tinha saído do Sporting, mas o Guimarães continuava numa situação muito aflitiva na tabela. Fui então o terceiro treinador dessa época e quando cheguei a Guimarães só conhecia superficialmente os jogadores, de assistir a jogos. Só quando cheguei lá é que percebi verdadeiramente a equipa que lá estava era uma equipa frágil, com muitos lesionados, ainda por cima. O Caio Júnior era de facto o grande jogador daquela equipa naquele momento. Foi uma peça muito importante para nos safarmos [da despromoção] na penúltima jornada, embora tenhamos ficado em 9º lugar, as equipas ficaram muito próximas umas das outras em termos pontuais e isto foi numa altura em que desciam cinco equipas, porque havia 20 equipas.

E depois o Caio continuou com o João.
A partir daí, o Caio trabalhou sempre comigo. Ele tinha chegado a Portugal há dois anos, vindo do Brasil, porque o Vitória de Guimarães, por tradição, é um clube que sempre teve muitos brasileiros - e continua a ter. Mas o Caio era um rapaz, ainda era um jovem, com muito talento, mas fisicamente frágil e era um jogador que precisava de ser trabalhado. E assim foi. Progrediu, progrediu, progrediu e tornou-se num grande jogador. A partir daí, no ano seguinte, no Vitória de Guimarães, formei uma grande equipa, com o Paulo Bento, com o Pedro Barbosa, com o Frederico, o Ziad, que era um tunisino, e andamos até ao final da primeira volta em primeiro lugar e na segunda caímos um bocado e fomos classificados para a Liga Europa [na altura Taça UEFA], em 5.º lugar. Foi aí que comecei a criar uma relação de amizade muito especial com o Caio e é assim que no final dessa época, com a disputa da Liga Europa em perspectiva, fui convidado pelo Estrela da Amadora para ir para lá, porque acabava contrato com o Vitória de Guimarães. Aceitei o convite e passei de um clube que ia às provas europeias para outro que estava na 2.ª divisão. E o Caio acompanhou-me. Como gostava muito dele, como jogador e como homem, é evidente que fiz uma grande pressão para ele vir. E ele trabalhou em Portugal sempre comigo

Como é que o convenceu a passar para a 2.ª divisão?
[ri-se] Claro que não é fácil para um jogador, mas ele confiava muito em mim e acreditou naquilo que eu lhe transmiti na altura sobre o clube. É muito importante ver que no futebol às vezes há relações entre os treinadores e os jogadores, de uma certa cumplicidade, porque as pessoas confiam umas nas outras e acreditam e pronto, criam uma relação de amizade que até ultrapassa outros interesses. Sinceramente na altura a mim também me tocou bastante que ele tivesse saído do Guimarães, que ia às competições europeias - qualificação na qual ele ajudou e de que maneira -, para entrar num projecto de 2.ª divisão. Mas felizmente fomos logo campeões e subimos à 1.ª divisão - e depois ele continuou a carreira na 1.ª divisão, mais tarde levei-o também para o Belenenses.

Foi mais fácil convencê-lo aí.
Sim, claro que sim. Havia uma cumplicidade muito grande entre nós, eram relações, pronto, como tenho não com todos os jogadores, mas como tive com uma série deles, como o Paulo Bento, o Pedro Barbosa e tantos mais, esses miúdos do Guimarães. O Caio é um desses que faz parte de um naipe de jogadores que são como meus filhos, as carreiras deles estão ligadas à minha. O Paulo Bento, por exemplo, estava na 3.ª divisão.

O Caio chegou a dizer que o João Alves foi o treinador mais marcante na carreira dele. Ouvir isso é como se fosse um título para um treinador?
Evidentemente que é exactamente isso: é um título, é. Posso dizer-lhe mesmo que são títulos que às vezes têm mais valor do que aqueles títulos que têm taças na entrega. Porque um treinador, ao fim ao cabo, é um condutor de homens, é um formador, e aquilo que me dá muito prazer e me dá orgulho é ver ex-jogadores meus como treinadores da 1.ª divisão, por exemplo, como o Lito Vidigal e o Quim Machado, fui eu que os lancei na 1.ª divisão. E tantos outros.

É normal um treinador ter essa relação de amizade com os jogadores? Vão jantar fora juntos, por exemplo?
Quantas e quantas vezes almocei e jantei com o Caio e com outros jogadores, e respectivas famílias. Sem qualquer tipo de problema, bem pelo contrário, isso é muito importante. Os jogadores sentem-se totalmente amparados pelos treinadores quando as coisas funcionam desta forma. Não digo que esta será a forma perfeita, há outras formas também, há treinadores que são distantes dos jogadores, mas o meu caso nunca foi esse. Tive um treinador que me marcou muito, que foi o José Maria Pedroto, o mister Pedroto, e foi ele que me transmitiu isso. Há sempre um treinador que é especial na nossa carreira, naqueles momentos decisivos de um jogador. Quantos e quantos jogadores que nunca chegaram ao patamar de craques exactamente por falta de apoio de alguém? O relacionamento entre treinador e jogadores é muito importante, por muito que o futebol esteja cada vez mais sofisticado e a mexer cada vez mais dinheiro, tornando-se um espectáculo desportivo, a verdade é que há sempre lugar e deverá sempre haver lugar para as questões sentimentais, para a moral e bons costumes.

Viu-se isso após esta tragédia.
Exactamente, todas estas decisões e medidas de apoio ao clube demonstram que realmente ainda há muita gente boa no mundo do futebol. É evidente que também há gente má, que dá cabo do nome do futebol e cria uma má imagem do futebol. Há pessoas que querem ganhar seja como for, nem que seja à custa da queda de um avião, haverá gente assim e é cruel o que estou a dizer, mas há pessoas assim, exagerando um bocadinho, pessoas que querem ganhar a qualquer preço. A grande resposta que realmente o mundo do futebol dá é esse amparo ao clube, é uma lição de dignidade, desportivismo e fair play. Surge no momento certo porque o futebol atravessa uma crise de valores enorme.

Para quem não o conheceu, como era o Caio enquanto jogador?
Tecnicamente era um jogador fabuloso, muito inteligente a jogar. Jogava mais ou menos na minha posição, embora eu fosse mais um médio-avançado e ele um avançado-médio, fazendo a comparação. Era um jogador muito criativo, ainda que não fosse muito rápido. Se ele fosse mais explosivo, com maior condição física, teria sido um dos melhores jogadores do mundo, disso não tenho dúvidas. Tecnicamente era fantástico, inventava futebol.

Podíamos compará-lo com quem, hoje em dia?
Ora deixe-me pensar, pelas características...

Um Jonas?
Ora exactamente, era precisamente isso. Tinha exactamente as mesmas características que tem o Jonas.

E ainda mantinha contacto com ele?
Sim, claro. Enquanto se formou como treinador houve uma ou outra vez em que veio a Portugal e encontrávamo-nos e falámos. Mas isto no mundo do futebol, como é óbvio, cada um segue caminhos diferentes. Estive na Suíça durante seis anos, ele andou na China, pelos países árabes... De maneira que umas vezes dava para nos encontrarmos, outras não. Mas há uma coisa que é verdade: os amigos verdadeiros, independentemente da distância e do tempo em que estamos sem contacto... [emociona-se] Como é que hei-de dizer? Estamos sempre juntos. Pronto. [pausa] Agora tocou-me no sentimento."

'Soft skills' ou 'critical skills'. Como aprendê-las?

"As designações de hard skills ou soft skills encontram-se fortemente dissiminadas na área empresarial e referem-se, em traços gerais, a: conhecimentos específícos, referentes a uma dada área profissional/técnica (ex: programação, finanças, engenharia, psicologia - frequentemente associados à área de especialização de cada pessoa), e competências ou atributos da nossa personalidade, como sejam, inteligência emocional, comunicação, cooperação, entre outros.
Fazendo um paralelismo com a área do desporto, estaríamos a falar, por exemplo, num dado nível de especialização de um treinador, no que respeita às áreas técnico-tácticas (hard skills) ou, a sua capacidade em dinamizar o grupo, fazê-lo evoluir, mantê-lo comprometido com o objetivo da equipa, através de competências específicas de comunicação e liderança (soft skills).
Curiosamente, alguns autores defendem que esta designação se encontra "trocada", na medida que que estas soft skills são, claramente, as mais dífíceis de desenvolver.
De facto, apesar de existir um enormíssimo número de estudos (nomeadamente, longitudinais, ou seja, que acompanharam os sujeitos do estudo desde o ano em que saíram da faculdade até 10 anos depois) que defendem que as ditas soft skills (que, para facilitar a sua compreensão, passaremos a designar, de uma forma mais abrangente, como Inteligência Emocional - ou seja, a minha capacidade em lidar comigo próprio(a), com o outro e com o mundo, de forma eficaz) estão sobejamente associadas ao sucesso que alcançamos (ou não) ao longo da nossa vida, em detrimento das competências "técnicas"...
Onde as podemos aprender?
Já em 1918, quando foi realizado o primeiro grande estudo nesta área (dados da National Soft Skills Foundation, EUA), foi identificado que as competênciais associadas à inteligência emocional, seriam responsáveis por 85% do sucesso alcançado e, quase 100 anos depois, num estudo realizado em 2010, foi identificado que as empresas investiam apenas 27,6% do seu plafond anual de formação, no desenvolvimento deste tipo de competências (dados referentes a empresas de cultura anglo-saxónicas onde, ainda assim, se observa uma maior tendência para apostar neste tipo de formação).
Por cá a realidade não é muito diferente.
Comummente, qualquer que seja a palestra que se assista sobre liderança (por exemplo), quando se questionam os especialistas sobre os fatores críticos de sucesso, muito antes de se verem referidas competências técnicas, encontram-se quase sempre destacadas competências como motivação, paixão, espírito de missão, autenticidade, capacidade de sacrifício, superação, determinação, paixão e, se calhar por isto mesmo, não será tão pouco usual assim assistirmos a processos de liderança atuados por pessoas que, dominando muito pouco o conhecimento científico da área em que operam, possuem um conhecimento exímio em mobilização e compromisso de pessoas.
No contexto de alta competição, por exemplo, recorrentemente se fala da determinação, capacidade de trabalho e superação de um dado atleta com muito mais frequência do que da sua "perícia" - aliás, a um dado nível de excelência, é sem dúvida a sua capacidade de auto-regulação emocional que vai determinar "aquele 1%" a mais na performance que irá determinar a vitória/o sucesso.
Rafael Nadal, Djokovic, Phelps, Simone Biles, Iniesta, entre tantos outros deram igualmente o seu testemunho acerca da importância das competências emocionais para o seu desempenho.
Mesmo no contexto académico, temos inúmeras provas de que o fenómeno é idêntico - alias, a Universidade do Minho realizou um estudo acerca da performance dos nossos alunos, no que respeita à performance nos exames em matemática (supostamente, havia uma preocupação com o facto de estarmos "na cauda" na Europa) e concluiu que, afinal, não somos menos "aptos" (ou seja menos inteligentes) mas sim mais ansiosos (logo, com menor inteligência emocional).
Então, uma vez mais, onde as podemos aprender?
Se são, efetivamente, assim tão determinantes para o sucesso (pessoal, profissional), qual poderá (ou deverá) ser o papel das Escolas? Dos Clubes? Das Empresas?
Será uma questão de "terminologia"? E, se em vez de as designarmos de soft skills, usássemos o termo de critical skills, como alguns autores sugerem?
É porque toda a informação aponta nesse sentido:
são efetivamente críticas para alcançarmos sucesso e níveis superiores de felicidade e bem-estar! 
Atuaríamos de forma diferente? Levaríamos este tema mais a sério? Para quando, a mudança de paradigma?
E, já agora, enquanto esperamos que as instituições assumam o seu papel (ou o papel possível) no reconhecimento de que é urgente e relevante integrar esta área de conhecimento e treino, naquele que é o seu âmbito de intervenção, o que podemos fazer?
É que, o reconhecimento da importância em desenvolver este tipo de competências deve começar em nós próprios, seja pela procura de literatura ou formações especificas na área, ou simplesmente pela procura de modelos que nos inspirem."

Benfiquismo (CCCIII)

A última troca de galhardetes do Il Grande Torino

O vigilante

"Vieira funciona como segunda linha de betão, difícil de transpor. Parece ausente ou distraído, mas quase nada lhe escapa.

Como a memória é curta, e no futebol ainda mais, quando dá jeito, manda a verdade recordar que há um ano, igualmente com onze jornadas disputadas na Liga, o cenário era bem diferente daquele que hoje se regista. O Sporting, inebriado pelo efeito Jesus, que se julgava ser prenúncio de conquistas a perder de vista, liderava com mais dois pontos que o FC Porto. Em patamar abaixo, consideravelmente abaixo, a sete pontos do leão, surgia o Benfica, desconsiderado e a enfrentar ventos e marés no combate a vaga de ataques sem rosto.
De fora e de dentro do clube, o cerco crítico assumiu proporções gigantescas. Adivinharam-se terríveis prejuízos. Conjecturaram-se colapsos traumatizantes no projecto de Vieira. Deu-se como garantido o despedimento do treinador. Sentenciou-se o fim do consulado do presidente.
Enfim, gerou-se uma barulheira sem ponta de credibilidade e de uma excentricidade opinativa mal sustentada, como se alguma vez a sobrevivência de um clube com a dimensão e a história do Benfica pudesse ficar dependente dos caprichos de um treinador, por mais rico que fosse o seu currículo internacional, o que nem sequer era o caso, como é público.
Um ano depois, já sem poeira no ar, verifica-se que o Estádio da Luz continua de pé e mais concorrido do que nunca, sendo na actualidade, como li em A Bola, o oitavo da Europa com mais assistências, apenas superado, convém sublinhar, por Borussia de Dortmund, Barcelona, Manchester United, Bayern, Real Madrid, Schalke e Arsenal, não constando na lista mais algum clube português entre os 20 primeiros deste ranking. Além de, em comparação com a mesma jornada da última época (11.ª), quem lidera agora é o Benfica, cinco pontos à frente do Sporting e sete do FC Porto. As voltas que muitos juravam que isto ia dar e... não deu. Melhor, deu, embora em sentido contrário: Jesus não funcionou como se pretendia em Alvalade, Lopetegui/Peseiro marcaram passo no Dragão e Vitória teve de fazer o favor de ser campeão, permita-se-me a ironia.
As forças demoníacas erraram. Nada do que previram aconteceu. Os factos falam por si e demonstram que tudo se resumiu a uma manobra desestabilizadora de grandes proporções que Luís Filipe Vieira - entretanto reeleito com 90 e tal por cento de votos e ainda assim houve quem tivesse visto nesse resultado sinal de distanciação por parte da família encarnada - destruiu pela discrição, pela firmeza das suas convicções e, principalmente, pela mais poderosa arma que utiliza quando quer proteger de intromissões alheias a instituição a que preside: apelo à união da família benfiquista para um Benfica maior e mais forte, inovador e preparado para vencer os desafios do futuro.

Vieira pode parecer um romântico ao adoptar um estilo de presidência cordato e dialogante, em choque com a truculência partilhada pela maioria. Nem sempre procedeu com o tempero conveniente, sem dúvida, mas teve a virtude de aprender depressa e, mais significativo, de saber estar à altura da grandeza do emblema da águia.
Cedo compreendeu que ser presidente do Benfica o devia inibir de alinhar em algazarras de bairro disfarçadas de rivalidades ou dar troco a reptos futeis de quem, provavelmente, gostaria de ser como ele mas não sabe como.
Proclamou o objectivo do tri quando muito boa gente chorava baba e ranho por causa da saída de Jesus. Reflexo de bem urdida operação de maledicência que gerou embaraços na organização encarnada e interferiu no trabalho de Vitória. Sem dramas, porém. Para quem o conhece minimamente já deve ter verificado que Vieira funciona como segunda linha de betão, difícil de transpor. Parece ausente ou distraído, mas quase nada lhe escapa.

É um vigilante atento, daqueles que se for preciso não dormem. Revela especial intuição para prever as coisas a preparar soluções. De aí que decorriam ainda os festejos do campeonato que Jesus prometeu e Vitória venceu e já Vieira apontava a meta do tetra, indiferente aos outros.
Esse é, aliás, um dos seus trunfos mais valiosos, acreditar na organização que criou, saber com o que conta em termos de disponibilidade/qualidade dos praticantes e ver no seu treinador, além de elevada competência, firmes traços de seriedade e lealdade.
Por outro lado, a boa saúde da águia na fase pós-Jesus permite acreditar que o V de Vieira associado ao V de Vitória traduz uma relação destinada a ser feliz."

Fernando Guerra, in A Bola