segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Mais-valia de jogadores na venda

"Há um jornalista televisivo de um grande canal, após a publicação do relatório e contas da Benfica SAD - individual e consolidado - que se entreteve a fazer o que mais sabe - dizer bacoradas!
Desta vez, num programa com um enorme tempo de antena, meteu-se a falar sobre as transferências do Benfica e bem vistas as coisas não foi nada ajudado por quem supostamente deveria ajudar e estar dentro da 'poda'.
Eu, que já não me chateio com muita coisa, desta vez fiquei mesmo irritado! Não tanto com o facto de o senhor jornalista estar a 'regar', mas muito com o facto de estar a falar sobre matéria de que não percebe nada e que, infelizmente, eu percebo.
A distinção entre o fenómeno financeiro e o fenómeno económico era evidente que não era apanágio do referido senhor. A distinção entre receita bruta e mais-valia contabilística também não era muito a sua 'praia'! Bem analisadas as coisas, não surpreendi nada em que fosse realmente bom!
A rubrica 12 do anexo às contas publicadas da Benfica SAD do exercício de 2015/2016 reza:
12 Amortizações e perdas de imparidades de direitos de atletas.
A rubrica de amortizações e perdas de imparidade de direitos de atletas é analisada como segue:
As amortizações de direitos de atletas compreendem o reconhecimento dos gastos incorridos com a aquisição dos direitos dos jogadores profissionais de futebol que são capitalizados, conforme analisado na nota 18. O gasto de aquisição inclui as importâncias despendidas a favor da entidade transmitente, os encargos com serviços de intermediários, os encargos com direitos de imagem de atletas (quando o pagamento não está dependente do cumprimento do contrato de trabalho desportivo do jogador) e os prémios de assinatura pagos aos atletas, assim como os efeitos da actualização financeira, tendo em consideração os planos de pagamento estipulado.
Por sua vez a rubrica 13 reza:
As rubricas de rendimentos com transições de direitos de atletas e de gastos com transacções de direitos de atletas são analisados como segue (...).
Vamos desenvolver um pouco mais o tema, reproduzindo as maiores alienações - aquelas que tanta asneira geraram.
As alienações no exercício findo a 30 de Junho de 2016, que geraram ganhos e perdas no montante líquido de 68.002 milhares de euros (conforme referido na nota 13), resultaram, essencialmente, da:
- Alienação dos direitos de inscrição do atleta Renato Sanches ao Bayern Munique, pelo montante de 35.000 milhares de euros, que gerou um ganho de 31.500 milhares de euros, após dedução de gastos com serviços de intermediação, no montante global de 3.500 milhares de euros;
É só ler o que está escrito!
- Alienação dos direitos de inscrição do atleta Nicolás Gaitán ao Atlético de Madrid, pelo montante de 25 milhões de euros, que gerou um ganho de 18.939 milhares de euros, após dedução: (i) de gastos com serviços de intermediação; (ii) do efeito da actualização financeira tendo em consideração os planos de recebimento e pagamento estipulados e (iii) do valor líquido contabilístico do direito do atleta à data da alienação, no montante global de 6.091 milhares de euros;
Também é só ler o que está escrito, mas, sim, é preciso perceber um bocadinho de contabilidade.
Damos de barato a questão da actualização financeira que é um custo efectivo, mas que até esquecemos. O que efectivamente nos interessa é isto:
'... do valor líquido contabilístico do direito do atleta à data de alienação, no montante global de 6.061 milhares de euros;'
Ora, isto é o valor contabilístico pelo qual o jogador se encontra contabilizado na conta do SNC de Activos Intangíveis e que em bom rigor é um custo contabilístico e não um custo financeiro!
Um ACTIVO (jogador) é contabilizado por um determinado valor. Em função dos anos de contrato esse valor vai sendo amortizado, pelo que o seu valor vai sendo amortizado, pelo que o seu valor de Activo vai sendo diminuído anualmente. Veja-se que este Governo até publicou agora um diploma que permite reavaliar os Activos!
Exemplo: Um atleta custou à sociedade 2 milhões e o seu contrato é válido por quatro anos. Isso significa que, em cada ano, vai-se amortizando 500.000€ no valor do atleta, o que significa que no fim do primeiro ano ele vale 1,5 milhões na contabilidade, ao fim do segundo ano ele vale 1 milhão, na contabilidade, e assim sucessivamente.
Voltando ao exemplo, temos que na contabilidade, o Gaitán estava avaliado num determinado valor, pelo que, no apuramento da mais-valia, o mesmo valor teve de entrar em linha de conta, pois pela venda são levados amortização (custo), todos os valores líquidos pelos quais o Activo está valorizado contabilisticamente.
Mas acrescentamos o seguinte.
Em 10/11/2014, o Benfica prolongou o contrato de trabalho desportivo por mais 2 (duas) épocas desportivas, ou seja, até 30 de Junho, até 30 de Junho de 2018, tendo fixado a cláusula de rescisão em 35 milhões €.
Em 9/12/2015, o Benfica prolongou o contrato de trabalho desportivo por mais 1 (uma) época desportiva, ou seja, até 30 de Junho de 2019, tendo fixado a cláusula de rescisão em 45 milhões €. Ora, isto custa dinheiro e é contabilizável!
Assim, dizer-se que o atleta foi afinal vendido por 18,939 milhares de euros é um autêntico disparate!
- Alienação dos direitos de inscrição do atleta Ivan Cavaleiro ao AS Monaco, pelo montante de 15.184 milhares de euros, que gerou um ganho de 13.684 milhares de euros, após dedução de gastos com serviços de intermediação, no montante global de 1.500 milhares de euros;
É só ler o que está escrito!
- Alienação dos direitos de inscrição do atleta Lima ao Al-Ahli Dubai, pelo montante de 7 milhões de euros, que gerou um ganho de 5.208 milhares de euros, após dedução: (i) de gastos com serviços de intermediação e (ii) do valor líquido contabilístico do direito do atleta à data de alienação, no montante global de 1,792 milhares de euros.
O mesmo raciocínio que se fez quanto ao Gaitán.
Pois é! Não estudam Matemática e depois quem paga é a verdade desportiva-financeira!
(...)"

Pragal Colaço, in O Benfica

E assim tiraram tijolos ao muro

"Como pegando no exemplo solidário dos jogadores de Estados Unidos e México se chega à história de Guilherme Espírito Santo...

Sempre entendi que o desporto e a política não se devem misturar, correndo cada um em pistas necessariamente paralelas. Os maus resultados da promiscuidade são mais do que conhecidos e como não há almoços grátis e conta chega sempre no fim. Porém, ma coisa é manter o primado da separação de águas, outra é a intervenção civilizacional, que em muitas circunstâncias é obrigação dos desportistas. A participação em causas solidárias só enobrece quem as acolhe, o sentido da dávida é um dom precioso e usar a visibilidade social para ir ao encontro das necessidades dos mais desfavorecidos constitui uma das facetas mais interessantes de muitos desportistas, envolvidos em fundações ou mesmo em organizações supranacionais.
Vem estes introito a propósito do que aconteceu antes do jogo entre os Estados Unidos e o México (1-2), que teve lugar imediatamente após a eleição de Donald Trump. Numa altura em que a construção de um muro entre os dois países está na ordem do dia (e ainda ontem, em entrevista à CBS, Trump reafirmou o que prometera em campanha...), os jogadores dos dois países decidiram enviar uma mensagem solidária, formando juntos e intercalados, sem divisões e em plano de igualdade.
Com esse gesto - que não contestou a legitimidade presidencial de Donald Trump - os internacionais dos Estados Unidos e do México foram mais eficazes do que todas as manifestações folclóricas a que o mundo tem assistido. E mostraram urbi et orbi que quem anda no desporto, onde todos são iguais, não tolera a segregação.
Há muitos anos, na década de trinta do século passado, o Benfica deslocou-se à Madeira. Chegados ao hotel, foi dito à comitiva encarnada que um dos jogadores Guilherme Espírito Santo, o primeiro negro a vestir a camisola das águias, teria de ficar no anexo. Os restantes jogadores protestaram sem sucesso e acabaram por decidir que se um deles tinha de ficar no anexo, então ficariam todos, como veio a acontecer. É esse o desporto em que me revejo, nobre, solidário e igualitário. Num campo de futebol ou numa pista de atletismo, numa piscina ou num pavilhão, a diferença faz-se pela aptidão e pelo talento, nunca pela cor, condição social, poder económico, credo religioso ou orientação sexual. Sem muros...
(...)"

José Manuel Delgado, in A Bola

William fez tremer engenheiros em Silicon Valley e Um Azar do Kralj já tem missão para André Silva em 2026

"Rui Patrício
Obrigado a defesa atenta logo aos 9 minutos. Entre esse momento e o golo da Letónia, aos 66’, aproveitou a boa visibilidade dos céus algarvios e a inépcia do adversário para tentar observar a super lua. Quando percebeu que isso é só amanhã, decidiu pôr leituras em dia e acabou a assinar uma petição para abolir a eleição do colégio eleitoral nos EUA. É de longe a pessoa menos culpada no lance do golo e na eleição de Donald Trump.

João Cancelo
Um lateral que consegue ser tão bom a defender como os seus concorrentes - Cédric e Nélson Semedo - e quase sempre melhor a atacar. Fez o que quis dos seus oponentes directos mas revelou excesso de misericórdia num ou noutro lance em que esperou que o defesa recuperasse o fôlego para lhe dar mais um nó. É titular do Valência e pretendido por Barcelona e Real Madrid. Alguns invistais afirmam que isso se deve aos dotes empresariais de Jorge Mendes. Apenas uma coisa é certa: não se deve aos dotes tácticos de Jorge Jesus.

José Fonte
Aos 26 minutos foi apanhado desprevenido em zonas mais avançadas do terreno e aproveitou para se tornar o oitavo jogador da selecção portuguesa a humilhar um letão com uma finta inconsequente. Pelas feições que apresenta, não parece ser o tipo de pessoa que prega partidas ao Renato Sanches no snapchat, o que nos deixa confortáveis.

Bruno Alves
O nosso gigolo favorito fez a vez de Pepe e até marcou, mas não esquecemos a passividade no lance do golo da Letónia. Enquanto José Fonte se esfalfava para, pelo menos, dar a entender que fizera o possível para evitar o empate, Bruno Alves acompanhou o lance com a atitude de quem sabe que vai voltar para o banco.

Raphael Guerreiro
Cristiano Ronaldo terá dito há uns dias que, a ter de escolher um jogador para reforçar o Real Madrid, seria Raphael Guerreiro. Depois da sua prestação no Europeu ao lado de Fernando Santos, ninguém duvida da seriedade desta afirmação. Para que se perceba melhor, Cristiano Ronaldo não recomendava a contratação de ninguém desde que exigiu a presença do Regufe em qualquer circunstância da sua vida. Quanto ao Guerreiro, joga por Portugal, veio lá da França, e agora que trabalha em Dortmund parece mais engenharia alemã do que Citroen. O seu futebol fá-lo parecer mais velho do que é, característica que partilha com Renato Sanches, excepto a parte do racismo. 

William Carvalho
Desconhece-se quantos empregos serão ocupados por robôs nos próximos anos, mas se William Carvalho continuar a jogar assim, o seu posto de trabalho está seguro. De longe o melhor em campo. Não só cumpriu com elevada nota artística tudo aquilo de maquinal que se espera de alguém responsável pelas operações a meio-campo, como ainda criou inúmeros lances ofensivos que fizeram centenas de engenheiros em Silicon Valley temer pelos seus empregos. Se dúvidas restassem, ainda apareceu lá à frente e marcou um golo de cabeça. Agora, digam-me o nome de um robô que tenha marcado golos de cabeça. Digam-me um! Digam-me um!

André Gomes
Costuma piar mais fininho quando joga no Barcelona e se vê remetido ao papel de André Almeida do meio-campo catalão. Hoje, porém, vimos André Gomes, o esteta, em todo o seu esplendor. Nunca negou as responsabilidade proletárias que lhe assistem e acompanhou bem William nas tarefas defensivas, mas procurou quase sempre jogar bonito numa floresta de troncos de leste. É um dos poucos jogadores portugueses que tem quase sempre uma ideia genial sobre o que fazer à bola assim que lhe chega aos pés. Como nem sempre a poesia se cumpre numa modalidade com tantos canalizadores, esperam-lhe uns 10 aninhos de amor e ódio nesta selecção.

João Mário
É um jogador que raramente demonstra qualquer tipo de emoção em campo, limitando-se a fazer aquilo que o seu quociente de inteligência dita, sendo isso 99 em cada 100 vezes suficiente para lhe assegurar a titularidade nesta selecção. Hoje pareceu-nos um pouco triste em campo. Aqui vai uma dedicatória: Esquece lá a adversidade / E vê se te pões bom João / Aproveita as gatas dessa cidade / E caga no Inter de Milão.

Nani
Todo o Cristiano tem o seu Gareth Bale, incluindo na selecção. Serve isto para dizer que a relativa pobreza exibicional de Cristiano durante a primeira parte foi compensada por um Nani irrequieto. Tal como Bale no Real Madrid, acabaria ofuscado pelo festival de golos marcados e falhados pelo seu colega de equipa. Always the bridesmaid, never the bride.

André Silva
Que maravilha de jogador. Hoje não marcou, mas fartou-se de ajudar os colegas a encontrarem espaços, tanto nos flancos como na área. Tem um problema sério de métrica, já que é conhecido pelo seu primeiro e último nome. Ora, ninguém no seu perfeito juízo consegue imaginar-se no Verão de 2018 em plena rua a cantar “e foi o André Silva que os f$%#&”. Mas o melhor mesmo é que já não conseguimos imaginar esta selecção sem o miúdo. Ainda por cima marca penáltis, algo que nos poderá dar jeito em 2026, quando Ronaldo se reformar.

Cristiano Ronaldo
Objectivamente falando, é o melhor marcador desta fase de qualificação, marcou dois golos e só não marcou mais dois ou três porque não calhou. Subjectivamente falando, sentimos que devemos ser objectivos.

Quaresma
Depois do futebol taciturno de João Mário, até os adversários terão ficado emocionalmente desgastados. Fernando Santos percebeu a oportunidade e colocou Ricardo Quaresma em campo. E o que é que aconteceu? Uma ofensiva terrestre, foi o que aconteceu. Quaresma rebentou com a pouca aptidão futebolística que se encontrava no flanco esquerdo da Letónia e contribuiu decisivamente para a vitória. No final, exibiu a já típica expressão facial de quem se limitou a fazer o que era necessário. Não, esse dobrar da língua é quando lhe apetece agredir alguém.

Gelson
Nós não queríamos nada dizer uma daquelas baboseiras institucionais, tipo presidente da federação, sobre como o Gelson, o André Silva e tantos outros nos permitem vislumbrar um futuro muito risonho para esta selecção nacional, portanto vamos ficar por aqui.

Renato Sanches
Cinco minutos em campo, três passes realizados, zero falhados e meio golo numa assistência para Ronaldo. A brincar a brincar foram as suas melhores estatísticas esta época. Não deixa de ser o maior."

Amor eterno

"Para lá do resultado, que se aceita lindamente em função da empreitada, o que mais gostei no Porto - Benfica foi o beijo que o Luisão deu na cabeça do Maxi Pereira antes de o jogo começar. Não foi um beijo qualquer, foi magia. Teve o condão de dissipar na origem a tempestade anunciada. Sim, o clássico do ódio eterno - porque, sem que ninguém o contrariasse, foi a palavra de ordem lançada pelo líder da claque Super Dragões nas vésperas do acontecimento - revelou-se um fraquíssimo desconchavo do ponto de vista do ódio eterno,esse espírito eticamente reclamado como condição sem a qual não seria possível ao Porto Vencer o Benfica.
A verdade é que não venceu, persistirão os supersticiosos e até alguns recém-douturados quando confrontados com o resultado final que foi um empate. É de crer que o próprio Nuno Espírito Santo, entre dois desenhos abstratos, tenha decidido lançar Maxi Pereira para o jogo no lugar do impecável Layun, tendo por garantido o efeito destrutivo que a presença do ex-benfiquista uruguaio em campo não deixaria de provocar entre muitos dos seus amigos e antigos colegas de equipa, mas não foi nada disso que aconteceu.
Já na última temporada tinha sido Gaitán o único jogador do Benfica que se comoveu em campo face à presença de Maxi Pereira equipado com as cores adversárias nos dois jogos para o campeonato. Como o talentoso argentino foi vendido ao Atlético de Madrid no verão passado esse problema deixou de existir. Ainda não havia um minuto de jogo no Dragão e já Cervi, justamente o substituto de Gaitán, tinha ludibriado o seu totalmente desconhecido Maxi Pereira num lance puro de velocidade a que acrescentou outros requintes de malvadez.
A culpa não foi de Nuno Espírito Santo por ter decidido meter o uruguaio a jogar contra a sua antiga equipa, recomendando-lhe que fechasse o rosto durante aquela cerimónia simples que antecede os desafios quando, um a um, todos os jogadores se cumprimentam. A culpa foi de Luisão e do amor eterno a Maxi selado com um beijo à frente de toda a gente. Aliás, é também para isto que serve um grande capitão.
Luís Figo assinou com Luís Filipe Vieira os termos de uma parceria que visa a prospecção de jovens talentos nas escolas de Lisboa. Aos 44 anos, Figo veio fazer "uma perninha" ao Benfica. Bem-vindo."