segunda-feira, 14 de novembro de 2016

E assim tiraram tijolos ao muro

"Como pegando no exemplo solidário dos jogadores de Estados Unidos e México se chega à história de Guilherme Espírito Santo...

Sempre entendi que o desporto e a política não se devem misturar, correndo cada um em pistas necessariamente paralelas. Os maus resultados da promiscuidade são mais do que conhecidos e como não há almoços grátis e conta chega sempre no fim. Porém, ma coisa é manter o primado da separação de águas, outra é a intervenção civilizacional, que em muitas circunstâncias é obrigação dos desportistas. A participação em causas solidárias só enobrece quem as acolhe, o sentido da dávida é um dom precioso e usar a visibilidade social para ir ao encontro das necessidades dos mais desfavorecidos constitui uma das facetas mais interessantes de muitos desportistas, envolvidos em fundações ou mesmo em organizações supranacionais.
Vem estes introito a propósito do que aconteceu antes do jogo entre os Estados Unidos e o México (1-2), que teve lugar imediatamente após a eleição de Donald Trump. Numa altura em que a construção de um muro entre os dois países está na ordem do dia (e ainda ontem, em entrevista à CBS, Trump reafirmou o que prometera em campanha...), os jogadores dos dois países decidiram enviar uma mensagem solidária, formando juntos e intercalados, sem divisões e em plano de igualdade.
Com esse gesto - que não contestou a legitimidade presidencial de Donald Trump - os internacionais dos Estados Unidos e do México foram mais eficazes do que todas as manifestações folclóricas a que o mundo tem assistido. E mostraram urbi et orbi que quem anda no desporto, onde todos são iguais, não tolera a segregação.
Há muitos anos, na década de trinta do século passado, o Benfica deslocou-se à Madeira. Chegados ao hotel, foi dito à comitiva encarnada que um dos jogadores Guilherme Espírito Santo, o primeiro negro a vestir a camisola das águias, teria de ficar no anexo. Os restantes jogadores protestaram sem sucesso e acabaram por decidir que se um deles tinha de ficar no anexo, então ficariam todos, como veio a acontecer. É esse o desporto em que me revejo, nobre, solidário e igualitário. Num campo de futebol ou numa pista de atletismo, numa piscina ou num pavilhão, a diferença faz-se pela aptidão e pelo talento, nunca pela cor, condição social, poder económico, credo religioso ou orientação sexual. Sem muros...
(...)"

José Manuel Delgado, in A Bola

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