"Os nossos clubes de futebol são um exemplo para Portugal, porque têm tudo o que o País precisa para conseguir crescer e desenvolver-se.
A Academia do Seixal fez 10 anos de existência e o Benfica assinalou a data com um conjunto de iniciativas para as quais fez convites e diversas entidades que incluiu - e bem - os três jornais desportivos portugueses, numa sadia manifestação de inclusão e de sentido de responsabilidade de uma instituição com a grandeza e a notoriedade do clube.
Em condições normais, ou seja, num país normal e numa sociedade normalizada, a referência poderia parecer despropositada, de tão óbvia razoabilidade, pois é evidente que os jornais desportivos são parceiros no desenvolvimento e no crescimento dos clubes.
No caso português, porém, nem sempre existe o reconhecimento da liberdade crítica dos órgãos de comunicação, em especial, em matéria tão exaltante quanto é o futebol profissional.
Enfim, não é propriamente desse tema - apesar de interessante e sempre actual - que me interessa aqui e agora falar e desenvolver.
Não é apenas a do Benfica. A Academia de Alcochete, que o Sporting criou com tão expressivos e importantes resultados foi, aliás pioneira. É ma fonte e uma escola de grandes futebolista, tal como também sucede com o Centro de Treinos e Formação Desportiva do FC Porto, em Gaia.
O SC Braga já arrancou com o conceito e com as novas instalações para a formação, sendo curioso dizer que o Vitória Sport Clube, de Guimarães, foi o primeiro a lançar as bases destes projectos de formação com o então presidente Pimenta Machado.
Haverá, certamente, outros exemplos espalhados pelo país, falo dos que conheço e que, de alguma forma, acompanho. São, todos eles, centros de formação de altíssima qualidade e que emprega técnicos da mais elevada competência. Formam atletas, projectam o futuro, criam sustentabilidade financeira dos clubes e, muito especialmente, formam e educam homens para a vida.
Na voragem dos resultados de fim de semana, na inquietação dos discursos mais inflamados e nem sempre sábios, na irracionalidade do sectarismo de uma cultura desportiva cega, surda, mas só muito raramente muda, poucas vezes os portugueses se dão conta de que os centros de formação de jogadores, ou academias, são, hoje, exemplos de sucesso nacional para qualquer outro sector da sociedade e, apesar disso, nem sempre devidamente reconhecidos e elogiados.
Admira-se muitas vezes o país de ter um futebol de topo, um futebol farto em jogadores, treinadores e até dirigentes de elite, todos eles ao mais alto nível da Europa e do Mundo. Surpreendem-se os mais distraídos com o facto do nosso futebol estar entre os melhores, apesar de muito longe de poder acompanhar financeiramente os mais ricos. A explicação é, afinal, bem mais simples do que muitos pensam: trabalho, planeamento, criatividade, organização, competência e acção.
É espantoso: tudo o que parece faltar ao país para crescer e de desenvolver tem o seu futebol. E esta é uma realidade, a um tempo, indiscutível e perturbadora. Indiscutível, porque está à vista de todos. Perturbadora, porque desmente a vulgaridade, o desinteresse e a incompetência dos portugueses em matéria de trabalho e de profissionalismo.
Que os clubes de futebol portugueses são um exemplo para Portugal, disso não tenho a mais pequena dúvida. Em especial estes que, como o Benfica, têm escola e fazem escola porque sabem que só assim podem ser cada vez melhores e maiores no futuro."
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Vítor Serpa, in A Bola