sábado, 24 de setembro de 2016

Kaepernick

"Colin Kaepernick, jogador dos San Francisco 49ers que se tem ajoelhado quando escuta o hino dos EUA, protestando contra discriminações raciais, iniciou uma sublevação pacífica, ganhando seguidores em jogadores de várias modalidades.
Há dias, chateado com isto, o congressista republicano Lee Zeldin, depois da captura do suspeito do último atentado em Nova Iorque, twittou «Escusas de agradecer, Kaepernick...», sugerindo que as autoridades, a homeland, os símbolos, não podem ser questionados.
Este é o lado democraticamente mais quebradiço dos EUA, aquele que leva a que uma grande fatia dos americanos pareça lidar mal com críticas a polícias e militares. Sentir, pior, que tal é feito pela grande instituição que é o desporto tem um poder ainda mais sugestionável.
O lado positivo disto, diria, é a própria discussão: Kaepernick faz bem em desrespeitar símbolos da pátria - e, de acordo entendimentos de muitas personalidades, os seus concidadãos - ou teria outras formas de protesto?
Acontece que o desporto nos EUA - que tem forte alicerce nacionalista, ora pelo toque do hino em todos os jogos, ora por alguns rituais militarizados - é um meio de expressão admiravelmente livre e comunicativo. Lá, sempre houve atletas interventivos, mensageiros.
Cá - logo à partida por ser infracção prevista no Código Penal como Ultraje a símbolos nacionais - é difícil imaginar um atleta de elite afrontar assim Portugal. Mesmo em patamares abaixo, na mera expressão de opinião, os nossos atletas reduzem as intervenções políticas às meras circunstâncias da modalidade que representam, à falta de apoios e coisinhas que tais. Nada além disso.
Quis Kaepernick desrespeitar o seu país? Ou negá-lo? Eu acho que quis só questioná-lo, nos valores sociais e na aplicabilidade das leis nacionais. Essa agitação, exagerada ou não, faz sempre falta. Houvesse por aí mais Jarpernicks."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

1 comentário:

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