sábado, 20 de agosto de 2016

A 9 segundos de ter condições

"Sendo jornalista na área do desporto tenho obrigação de ter boa cultura desportiva. E tenho. Há, porém, determinadas matérias ou modalidades, como o taekwondo, a canoagem ou o badminton, sobre as quais eu, estando capacitado para as tratar ao nível da notícia ou da reportagem, evito em registos de opinião, como este, pois aí poderiam resultar ideias infundadas.
Posso, contudo, estruturar um juízo sobre o discurso dos atletas depois das provas nos Jogos e sobre a forma como reagem às criticas vulgares do 'vão lá para quê se não ganham medalhas' com o, também costumeiro, 'se querem medalhas deem-nos atenção e condições'. Nenhuma destas abordagens me parece certa. A exigência de medalhas em provas impossíveis é insensata, mas aos atletas cabe também a responsabilidade de evitar este refúgio fácil da falta de condições.
Peguemos no exemplo do triatleta João Pereira, admirável quinto classificado, a 9 segundos do pódio, que no final disse: «Medalhas? Tem de haver condições». Não duvido que Pereira dei o melhor. Muito menos que é atleta de elite e que merece respeito e aplauso. Mesmo sem medalhas, é o quinto do Mundo, estatuto que a maior parte de nós jamais terá no que quer que seja. Eu aspiro, com sorte, a melhor pai do Mundo.
Mas, sabendo que os casos são todos diferentes, também se pergunta: alguém que é quinto a 9 segundos do pódio terá assim fracas condições para praticar a modalidade? Uma diferença tão exígua não se justificará pelos contextos da competição? Se tivesse sido 9 segundos mais rápido, em prova de 1.45.51 horas, as condições já seriam suficientes?
Uma nota final: dos 92 atletas portugueses que foram aos Jogos, 22 trabalham no Benfica e 30 no Sporting, emblemas de ecletismo raríssimo à escala mundial. E não são clubes com más condições. Não misturemos tudo."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

Realismo

"Acredito que, como eu, existam muitos apaixonados por desporto satisfeitos com o rendimento da Missão portuguesa nos Jogos do Rio! Atleta e equipas têm respeitado, orgulhado e honrado o bom nome de Portugal, fazendo mais do que é possível e deixando tudo o que têm. No palco dos Jogos Olímpicos todos os atletas, salvo raras excepções, independentemente do estatuto amador ou profissional, dimensão geográfica ou socioeconómica têm ambição, motivação e nível de entrega no expoente máximo. Ninguém facilita! Mesmo consistente, conhecedor da realidade, das eternas e inultrapassáveis dificuldades estruturais e dirigentes do desporto de alto rendimento em Portugal continuo a ficar chocado quando oiço que existem atletas que pagam para representar Portugal nos Europeus, Mundiais e Olímpicos.
Veja-se o caso de Rui Bragança (taekwondo), com honroso 9.º lugar: «Não peço mais dinheiro aos meus pais...» Ou o desabafo de João Pereira, que após histórico 5.º lugar no triatlo, reclamou as diferenças na qualidade e quantidade de meios de preparação: «Lutar por medalhas é complicado com as condições que temos.»
Em vez de criticar/desprezar os resultados demo-nos ao trabalho de conhecer o contexto dos atletas: um País com falta de cultura desportiva, de entendimento competitivo (da formação ao alto rendimento), de planeamento estratégico, com infra-estruturas de prática limitadas, às vezes mal geridas, e com poucos atletas de dimensão olímpica.
Olhar para o exemplo da canoagem, atletismo e judo na criação de caminho colectivo consistente (mesmo com indesejáveis obstáculos internos) para aspirar lutar por medalhas e fazer apostas nos atletas certos pode ser bom caminho. Nem todos os que competem têm potencial para ganhar medalhas, mesmo que seja a sua crença! A quem aspira este nível só se pode exigir o compromisso de treino duríssimo e sem desculpas! Os que o fazem estarão às portas das medalhas, com resultados de excelência! No desporto não se mede como se começa, mas como se acaba.
Desejo que a canoagem conquiste hoje a medalha, em K4, pela qual tanto trabalhou!"

Tomaz Morais, in A Bola

Um banco muito valioso

"Até ao dia 31 de Agosto, fecho do mercado, não há plantel que possa dar aos adeptos certezas absolutas de nada. Ainda assim, o Benfica tem soluções várias, e serão os benfiquistas, entre os candidatos ao título do nosso campeonato, os adeptos menos desesperados com este fecho de mercado. Tondela mostrou isso mesmo, saltaram do banco para resolver o jogo (Lisandro e Samaris) soluções de qualidade.
Como ironizava com um amigo, vendo bem os balanços e resultados financeiros de alguns Bancos Portugueses, o nosso (banco em Tondela) com Lisandro, Carrillo, Salvio, Samaris, Raúl Jiménez, era dos mais valiosos, e passa nos testes de stress dos adeptos mais exigentes. No Sporting não se sabe quem entra e quem sai, e no Porto são evidentes algumas necessidades, que só uma Roma reduzida a 10 não tornou mais notórias. Rúben Neves chorou por não entrar, mas alguns dos que entraram prometem fazer chorar os adeptos se não saírem do onze.
Não me lembro de ter vencido fora na primeira jornada do campeonato, nos últimos 15 anos foi coisa muito rara. Foi excelente e difícil a vitória em Tondela, num jogo competitivo e com uma agressividade elevada. Todos os (4) candidatos venceram em jogos de alguns sustos. Será assim neste início de campeonato, porque decisivo é vencer, e será assim também no Domingo. O Benfica tem contra o Vitória de Setúbal um jogo que a pré-época já mostrou ser complicado.
Na próxima semana é certo que estaremos no Mónaco como cabeças de série, Pote 1, para mais uma Liga dos Campeões. Se para o ano estivermos no Pote 1, isso significa que esta época foi fantástica, pois aí estão os melhores e que venceram os seus campeonatos. Num país periférico, pobre, e cujo panorama desportivo está à mostra no Rio de Janeiro, o Benfica ser a sexta melhor equipa da Europa, de forma consistente, é motivo de orgulho."

Sílvio Cervan, in A Bola

Bom início de temporada

"Escrevo esta crónica em Amesterdão, onde o Benfica se sagrou bicampeão europeu numa das melhores finais de sempre da Taça dos Clubes Campeões Europeus, e em que, entre os apanha-bolas, constava, ainda adolescente, um tal de Johan Cruyff. Considerado um Deus do futebol, nomeadamente na Holanda e na Catalunha, notabilizou-se pelas mais variadas razões, incluindo a capacidade invulgar para a criação de máximas futebolísticas.
Das muitas que nos deixou, destaco aqui aquela em que compara as equipas ganhadoras com garrafas de água com gás. O holandês defendia que ganhar poderá representar uma ameaça no futuro imediato. É como tirar a tampa de uma garrafa de água gaseificada por breves minutos, deixa de estar 100%. Mérito, portanto, para a equipa técnica e atletas da nossa equipa de futebol que, pelo empenho demonstrado neste início de temporada, contrariam um dos maiores pensadores do futebol moderno. Pelo caminho, foram conseguidos o troféu da Supertaça e a primeira vitória fora de portas na jornada inaugural desde há doze anos, consequências do tal empenho que, geralmente, assegurada que esteja a qualidade dos nossos protagonistas, como está, faz a diferença.
Na base desta postura está a mentalidade competitiva, a vontade indómita da busca pela glória, a rejeição da acomodação, o apetite voraz por triunfos... numa expressão, a 'mística benfiquista'. E foi nela que pensei quando visitei o estádio olímpico de Amesterdão; conferi, minuto a minuto no telemóvel, o desenrolar da partida que nos opôs ao Tondela; ou ainda ao ouvir o meu pai dizer-me pelo telemóvel 'Grande golo do André Horta, ganhámos 2-0' em vez do convencional 'Olá, estás bom?'."

João Tomaz, in O Benfica

Não quero acreditar

"No momento em que escrevo esta crónica não sei se o capitão da equipa principal de futebol do SL Benfica vai continuar ou não no Clube. Ao longo dos anos já nos habituámos a notícias estapafúrdias e bombásticas ligadas ao Clube. Umas - poucas - são verdade. Outras - muitas - são quase sempre mentira, falhas de informação, resultado de pouco profissionalismo ou favores a empresários, clubes e adversários.
Todos os anos assistimos a este carrossel de entradas e saídas do clube, nomes atrás de nomes que deixam qualquer adepto confuso.
Como já escrevi, não sei se Luisão vai ou não para o Wolverhampton, como anda a ser propagado, qual foco de incêndio, mas não posso deixar de questionar a situação.
Até chegar, ou não, a confirmação oficial, tenho que agradecer o que o Girafa fez pelo SL Benfica. Tenho a certeza que Luisão sabe o que o SL Benfica fez por ele. Esta é uma relação boa para ambas as partes. Foi, tem-no sido e espero que continue a ser.
São 17 troféus conquistados, entre eles cinco campeonatos nacionais, para além de Taças de Portugal, Taças da Liga, Supertaças e duas finais da Liga Europa.
É o capitão da história do SL Benfica com mais jogos disputados com a braçadeira.
Catorze anos não são 14 meses. Seja qual for a decisão, saindo ou ficando, Luisão já não sai da História do Sport Lisboa e Benfica. Tem um lugar guardado no coração dos adeptos e o respeito de colegas e de adversários.
Tem um espaço muito importante na minha memória desde 2005, quando saltou mais alto do que as mãos do guarda-redes Ricardo para nos dar, aos benfiquistas, o título dessa época. Obrigado e até já, Luisão. Se for o caso."

Ricardo Santos, in O Benfica

Eu avisei...!!!

"(...)
“Temos que nos fazer ouvir”
Já Alípio Matos, começou por abordar algumas situações que marcaram o último Campeonato e que terão ainda repercussões no início da nova época. O coordenador da secção denunciou um "conjunto de situações caricatas e incompreensíveis", relacionadas com os regulamentos aplicados pela Federação e também com os jogos das finais da última época entre Benfica e Sporting.
Alípio Matos lembrou o caso de Bruno Coelho que descreveu como “surreal”. Recorde-se que o jogador foi suspenso pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol duas horas antes do terceiro dérbi da final do Campeonato.
“Acontece que o Bruno Coelho foi castigado um jogo, foi agredido e o Conselho de Disciplina decidiu dizer que o atleta podia ter jogado no terceiro jogo. Nesse dia, os delegados da federação mandaram o Bruno Coelho para a bancada”, explicou, mostrando indignação para os novos factos: “Pelos vistos podia ter jogado e não jogou e terá agora de cumprir esse jogo na Supertaça.”
“Estamos sobretudo tristes. Estas situações criam mal-estar. Tem de haver credibilidade no Futsal português e nós temos de nos fazer ouvir”, concluiu, manifestando ainda a sua indignação relativamente a uma decisão unânime dos clubes mas que acabou por não ser “nada daquilo que os clubes quiseram.”
“Têm acontecido algumas coisas, ao nível dos gabinetes, que nos têm desagradado bastante e que temos alguma dificuldade em conseguir entender. No início da época, 11 entre 12 clubes da Liga foram unânimes em aceitar que as equipas teriam que ter obrigatoriamente sete elementos formados localmente na ficha de jogo, onde só poderiam jogar cinco que não o eram. Benfica podia ter mais estrangeiros dos que tem agora, mas preparámos a época consoante esse limite. O que aconteceu, à posteriori, foi que as regras mudaram. Não sabemos porquê… O que fica é nada daquilo que os clubes quiseram”, explicou.
“Todas as provas oficiais tinham esta regra. Agora, pelos vistos, só há limite no Campeonato. Isto é uma situação gravíssima. Como é que é possível os juristas passarem erradamente para o papel o que estava estipulado pela direcção da Federação e pelos clubes? É inaceitável”, reforçou."


Pois é, eu avisei!!!
No final da temporada passada - quando já se pré-anunciavam milhares de contratações para os Lagartos -, que íamos ter falcatrua nos regulamentos!!! E foi isso que aconteceu...
O texto do regulamento, foi completamente desvirtuado... e deixo outro aviso ao Alípio Matos:
Mesmo no Campeonato, o regulamento não é claro, pois só fala em Multas e em Perda de Pontos, e quando chegarmos aos Play-off's não existem pontos!!!
Portanto suspeito que os Lagartos no Play-off vão usar todos os estrangeiros...

Isto vai ser muito complicado...

Benfica 1 - 1 Gil Vicente
Heri


Fomos sempre melhores, mais uma vez fomos roubados (golo mal anulado que daria o 2-0...), e depois sofremos golo do empate ao minuto 95... de forma algo infantil!!!
3 jogos neste campeonato, 3 arbitragens surreais...!!!

Vamos a eles...

João Ribeiro na tripulação do K4 1000m, com Fernando Pimenta, Emanuel Silva e David Fernandes, qualificaram-se com alguma 'facilidade' para a Final... Não são favoritos, mas estão na luta...

Ainda sobre as 'algas' na prova do Fernando Pimenta, parece que o único que não se queixou foi mesmo o Espanhol... e a diferença de velocidade naquela parte final, parece mesmo indicar que houve muita sujidade em algumas pistas!!! É inacreditável, uma situação destas acontecer numa Final Olímpica...!!!

O Pedro Isidro regressou aos Jogos Olímpicos, na prova dos 50 Km Marcha, para terminar no 32.º lugar, como melhor português, depois da desistência do João Vieira... O estreante Miguel Carvalho foi 36.º, as condições climatéricas não permitiram grandes tempos...

PS: Parabéns à Ana Cabecinha pelo 6.º lugar nos 20 Km Marcha, a Inês Henriques foi 12.ª e a Daniela Cardoso 37.ª!
A avaliação da legalidade da Marcha é sempre subjectiva, mas aquelas duas voltas finais, com as chinesas e a Mexicana ao ataque, foi uma corrida de 2 Km... mas nada foi marcado!!!

O preço

"Nunca é fácil gerir o fim de ciclo de um jogador, sobretudo de um jogador como Luisão. Exige sensibilidade e bom sendo.

Nunca será fácil, ou facilmente resolvido, o final de ciclo de um jogador de futebol. O caso de Luisão não foge, obviamente, a essa regra. Já se tinha previsto que estaria próximo o fim do ciclo de Luisão no Benfica. Normal. Já são 13 - para 14 - as épocas de Luisão na Luz, quase 500 jogos oficiais e quase 50 golos, mais 5 títulos de campeão nacional, 2 Taças de Portugal, 7 Taças da Liga e 3 Supertaças e ainda duas finais da Liga Europa.
Impossível não reconhecer que Luisão deu muito ao Benfica, como é impossível não reconhecer (sobretudo ele próprio) que o Benfica deu muito a Luisão.
É um dos jogadores mais bem pagos do plantel, é o capitão de equipa, é hoje, de longe, o que tem mais experiência do clube e isso também lhe dá um estatuto que na maioria das vezes só mesmo o tempo costuma permitir.
Dir-se-á que perante isso, Luisão ganhou dimensão de figura suficiente importante para não ser empurrado para fora da Luz, que é um bocadinho o que pode parecer esta estranha situação de que se fala que poderá levar Luisão ao Wolverhampton, da segunda liga inglesa. Pode, na verdade, não estar Luisão a ser empurrado, mas é o que parece.

Se é verdade que nunca é fácil gerir o fim de ciclo de um jogador, é sobretudo ainda mais difícil quando se trata de um jogador com o tal estatuto de Luisão, como não foi fácil gerir o fim de ciclo de Nuno Gomes na Luz, ou por exemplo o de Jorge Costa no Dragão... como estamos todos recordados, só para citar casos de jogadores-símbolos nas respectivas equipas.
Começa logo por ser difícil pela dificuldade de qualquer jogador reconhecer estar chegado o final de carreira, o que é humano e acontece certamente um pouco com cada um de nós, por mais diferentes que sejam os cenários de reforma profissional.
Além disso, para quem ganhou estatuto tão distinto, também não será fácil a um jogador assumir um novo e tão secundário plano. É a vida, e Luisão, como todos os outros, deverá saber aceitá-lo. Mas isso, por si só, não resolve tudo.

Quando quis pôr fim ao ciclo também de um capitão, o FC Porto chegou a empurrar Jorge Costa, primeiro, para o modesto Charlton, de Inglaterra (de onde seria resgatado de volta por Mourinho), e mais tarde, por fim, para o Standard de Liège, da Bélgica, onde Jorge Costa viria a terminar a brilhante carreira de jogador.
Aos 35 anos, depois de tanto jogo, de muitas glórias e algum insucesso, depois de tanta alegria e sobretudo a tristeza de algumas lesões, Luisão já não pode ser o mesmo, e não mais será certamente o mesmo que foi sobretudo há duas épocas, quando teve, então ainda sob o comando de Jorge Jesus, talvez um dos seus melhores anos ao serviço do Benfica, esgotando, por assim dizer, todos os seus limites, com a conquista do bicampeonato.
Reconhecidamente fortíssimo do ponto de vista do carácter competitivo e reconhecidamente um grandíssimo profissional (por muito que se possa discutir a sua personalidade), Luisão leva tempo suficiente de Benfica para merecer não ser empurrado de qualquer maneira para fora da Luz.
Julgará o Benfica que na impossibilidade de jogar tanto como quereria possa Luisão tornar-se mais problema do que solução, e na realidade foi possível notar na última época algum amuo por ter ficado no banco após recuperar de lesão, uma vez que o jovem Lindelof dava, e de que maneira, conta do recado no lugar do capitão.

Por saber que é desejável que esta época Lindelof possa continuar a dupla com Jardel ou mesmo eventualmente Lisandro Lopez, talvez tenham os responsáveis do Benfica sido levados a precipitar a possibilidade de resolver o problema com a saída de Luisão.
O problema é que, pelo menos aparentemente, nem a solução - Wolverhampton, criada com a ajuda do agente Jorge Mendes, parece indicada para resolver o problema-Luisão, sobretudo se considerarmos a exigência financeira do internacional brasileiro, muito pesada, ao que parece, para as intenções do clube inglês.
Mas também porque desportivamente parece uma solução sem sentido.
Faria sentido que Luisão fosse ganhar ainda algum dinheiro que se visse para o futebol norte-americano ou chinês. Faria sentido embora sem a mesma recompensa financeira - uma solução que pudesse levar Luisão de regresso ao futebol brasileiro, onde a experiência dos seus 35 anos seria ainda importante mais-valia.
Ir para o Wolverhampton e para um campeonato secundário onde a exigência competitiva é, porém, tremenda, fará, seguramente, menos sentido a não ser que... muito bem paga. É, pelos vistos, o que Luisão pretende, esticando a corda o mais que pode, sabendo que está no último ano de contrato com o Benfica.
De fora, e bem à distância, parece-me que Luisão defende os legítimos interesses pessoais e parece-me que o Benfica se percipitou ao parecer dar como certa a saída do capitão e, sobretudo, ao deixar que se soltasse essa informação.
Não é fácil gerir o fim do ciclo de um jogador. E muito menos de um jogador como Luisão. Com o peso e a experiência de Luisão. E sobretudo com o conhecimento que Luisão tem do Benfica.
Exige cuidado e delicadeza. Exige elegância e esperteza. Exige sobretudo sensibilidade. E bom sendo. E sobretudo silêncio. Qualquer erro pode custar caro.
Às vezes, demasiado caro!"

João Bonzinho, in A Bola

Quem ganhou medalhas que atire a primeira pedra

"Somos um país que dá pouco e quer muito, mas mais grave do que isso não percebe o fenómeno.

De quatro em quatro anos há sempre esta discussão. Eterna. Não há medalhas, e os atletas queixam-se de falta de apoios.
De quatro em quatro anos, a pergunta mais importante fica sempre sem resposta.
Falta, para mim, olhar para o fenómeno na totalidade. Trata-se, primeiro, de uma questão de mentalidade. Olhamos realmente para o fenómeno desportivo pelo desporto? Ou melhor, será que temos um país que gosta mesmo de desporto e não se lembra disto apenas de quatro em quatro anos? 
A ligação às modalidades extra-futebol é cada vez mais instrumentalizada pelos clubes. O que interessa ao adepto é que o clube ganhe, e não se de facto gosta da modalidade em si. É paralelo ao que se passa no futebol: gosta-se do clube e muito pouco do jogo. É-se incapaz de apreciar os outros. Num patamar de atenção bem menor, os atletas – excepto os que convivem com eles, como família ou amigos – encontram-se sozinhos.
O erro – parece-me – estará nesta instrumentalização do desporto que, a justificar-se, começa demasiado cedo.
O desporto escolar é inexistente. O desporto universitário não tem uma dimensão competitiva real e abrangente. Logo, os clubes são chamados para saciar esta necessidade de crescimento.
O exemplo dos Estados Unidos é claro. Claro que não é só por isso, mas também o é. O país é maior e rico, certo, mas também mais capaz de potenciar recursos. É inequívoco.
Depois, claro, há a crise e o dinheiro. Ou melhor, há uma crise e não há dinheiro. O investimento e os apoios escasseiam e na vida de um atleta é óbvio que são importantíssimos. Tal como as condições de treino, que estão longe de ser equivalentes em todas regiões do país e, mesmo em Lisboa, parecem não reunir tudo o necessário.
Há um parêntesis: apesar disto tudo, temos grandes atletas, de excelência, e que conseguem com apoios menores conquistar títulos mundiais e europeus. E que, depois, infelizmente, não reagem à altura do momento e perdem-se nos Jogos Olímpicos. Não podemos, nem devemos, baixar o nível de exigência.
Telma Monteiro é de bronze, e a verdade é que Nélson Évora (melhor marca pessoal do ano e numa fase um pouco longe do melhor momento da carreira) e Patrícia Mamona (duas vezes ultrapassou o seu melhor registo, recorde nacional) fizeram provas muito interessantes no triplo-salto, tal como João Pereira no triatlo e Emanuel Silva e João Ribeiro na canoagem. Houve quem obviamente não tivesse estado tão bem.
No geral, os resultados continuam fracos. E mesmo que, a partir de agora, se continue a trabalhar na perfeição em tudo o que não tem funcionado, daqui a quatro anos continuaremos fracos. Tal como daqui a oito. Quanto mais tempo passar sem respondermos à pergunta fundamental para mais tarde fica.
- Por que não conseguimos nós, portugueses, gostar de desporto?
Somos um país que dá pouco e quer muito, mas mais grave do que isso não percebe o fenómeno. Desde o berço."