terça-feira, 17 de maio de 2016

Um dérbi à Hollywood!

"No Verão de 1972, o primeiro Benfica-Sporting em solo americano teve de tudo: acção, comédia, suspense e um final feliz!

Quem entrasse desprevenido no Schaefer Stadium, em Foxborough, poderia julgar que estava em território português: dois clubes lisboetas - Benfica e Sporting - e uma comunidade portuguesa em peso, que não quis perder este momento histórico e matar saudades da 'nossa santa terrinha'. Só o estádio denunciava que se estava num campo destinado ao futebol americano, com uma relva sintética que trouxe muita apreensão aos clubes por ser considerada demasiado fofa e que, aquecida pelo sol, queimava como fogo no atrito com os pés e nas quedas. Mas o mais pitoresco é que, por pouco, não ia tendo balizas! 'Se já ali estão duas bandeirinhas, para que são precisas as balizas?', perguntou, estupefacto, um dos organizadores.
Deu-se o sinal para o começo do jogo e os jogadores provaram que 'o bom bailarino é que faz o bom piso' e proporcionaram um grandioso espectáculo, mesmo lutando contra vários obstáculos, como o calor (43 graus à sombra!) e um árbitro que 'de futebol não percebia patavina'. O encontro terminou empatado a duas bolas, um resultado que só aumentou a expectativa para o segundo jogo, agendado para dali a uma semana. Porém, o organizador que os tinha convidado estava relutante em realizá-lo, por motivos relacionados com 'dólares, dólares, dólares...', e deu o dito por não dito, levando-se ao seu cancelamento.
As malas já estavam aviadas, as passagens marcadas e os jogadores estavam prontos para partir de volta para casa quando, nesse momento, entre no hotel o organizador, arrependido ao pensar no interesse da numerosa comunidade lusa, e foi finalmente acordado o jogo-desforra.
De volta ao mesmo estádio, os jogadores deram tudo por tudo como forma de agradecimento à enorme hospitalidade que sentiram nas 'terras do tio Sam' e milhares de lusodescendentes puderam testemunhar uma entusiasmante exibição, que terminou com a vitória 'encarnada' por uns esclarecedores três tentos sem resposta, trazendo como recordação desta aventura americana o Troféu Oliveira Travel Agency.
Pode conhecer muito mais aventuras benfiquistas por este mundo fora na área 26. Benfica universal, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

Kostas...

Decisão esperada, Mitroglou assina pelo Benfica... Recordo que não é uma renovação, já que ele estava emprestado pelo Fulham!
O Mitro para mim é o ponta-de-lança 'ideal' para o Benfica! Tem algumas limitações é verdade, mas são essas limitações que o tornam ideal para o Benfica, já que sem essas limitações, não estaria no Benfica, mas sim nos Reais Madrid, Barça ou outro qualquer super-milionário!!! Acredito que nas próximas épocas o Mitro alcançará números parecidos com os do Cardozo...!!!
Este ano, mesmo com o super-Jonas ao lado, marcou 20 golos no Campeonato, e alguns deles decisivos, nos grandes jogos... isto após um início de temporada algo tímido, fora do 'ritmo' da equipa, mas quando se 'sincronizou' esteve sempre a grande nível...

PS: Hoje também ficámos a saber que o Eliseu e o Renato vão ao Europeu de França. Nenhuma surpresa...
Eu não ligo muito às Selecções, mas é muito difícil entender como o André Almeida não é convocado para esta Selecção (tantas debilidades na defesa desta Selecção), além do Pizzi, que nesta ponta final do Campeonato esteve um pouco em baixo (numa altura onde foi Pai...!!!), mas enquanto nos Campeonatos os 'melhores' são recompensados, nas convocatórias das Selecções as máquinas de relações públicas acabam por 'fazer' carreiras...!!! Veja-se a não convocação do Tiago, o caceteiro refilão do Adrien depois de tanta choradeira, tinha que entrar à força...!!!
A ausência do Bernardo é uma enorme injustiça... é provavelmente o melhor desequilibrador que temos... usaram a lesão (que não é impeditiva), para o 'empurrar' para os Jogos Olímpicos!!!

Toni: "Vitória copiou? Quando Jesus iniciou a carreira também foi ver Cruyff treinar"

"Toni era o capitão da equipa que conquistou pela última vez o tricampeonato há 39 anos. Elogia as apostas do presidente Luís Filipe Vieira para esta época e destaca Rui Vitória, um dos responsáveis pelo sucesso, vincando a capacidade de liderança, humildade e carácter do treinador

Como viveu a festa do tricampeonato conquistado pelo Benfica?
Quando se chegou à última jornada a depender apenas de si, tudo se conjugava para o Benfica conquistar o tricampeonato. Acabou por ser a equipa mais regular e por isso venceu o campeonato. Os adeptos foram, como sempre, muito importantes, mas este ano ainda mais, pois foram determinantes na comunhão e na cumplicidade com a equipa.

É então um campeão justo?
O campeão é sempre justo e neste caso há vários fatores que o sustentam. Houve um começo de época que representou o pior momento e que potenciou o surgimento dos mais céticos, mas era ainda o primeiro terço do campeonato e havia espaço para recuperar, mas não há que esconder que foi um início desastroso, sobretudo com as derrotas com o rival. É o jogo de Braga que começa a inverter toda a situação e lança a equipa para uma recuperação notável, durante a qual há só o empate com o U. Madeira e a derrota com o FC Porto, naquele que poderá ter sido o melhor jogo da época. Não podemos apenas olhar para os últimos jogos, nos quais o Benfica não apresentou tanta qualidade, mas exibiu o crer, a raça e a vontade que ajudaram a chegar ao título. O Benfica não ganhou só pela sorte por ter havido exibições cinzentas e vitórias tangenciais nos últimos jogos. Era injusto não olhar para a época toda e para os bons jogos que a equipa fez.

Quem é o responsável por essa recuperação?
O Rui Vitória, sem precisar de se pôr em bicos de pés, tem um grande quinhão na forma como chega ao título. Ele recebeu uma equipa bicampeã, com um trabalho desenvolvido nos últimos anos e depois deu o seu cunho pessoal, que demorou algum tempo, como é normal. Além disso, mostrou uma grande capacidade de liderança, humildade e carácter que foram transmitidos aos jogadores.

Mas Jorge Jesus, após o jogo de Braga, deu a entender que Rui Vitória copiou o seu trabalho no Benfica. Concorda?
Olhe, em relação a isso, o Rui Vitória deu uma grande resposta após o jogo. O que eu sei é que houve várias trocas de palavras dos intervenientes e declarações desse género de Jorge Jesus e de outras pessoas, e foram várias ao longo da época. Mas isso fez que os jogadores do Benfica se unissem ainda mais para alcançarem o tricampeonato. Agora, tenho a certeza de que a classe dos treinadores não partilha daquilo que foram as palavras de Jesus. E é após o jogo do Sporting em Setúbal, respondendo a uma pergunta mal formulada, que Jesus acaba por descer a patamares muito baixos. Mas atenção, a qualidade técnica de Jorge Jesus é inquestionável, mas os outros também mostram qualidade e dão o seu cunho pessoal. Ele chega ao Sporting e apanha já trabalho feito por Jesualdo Ferreira, que devido às circunstâncias apostou nos miúdos, e também por Leonardo Jardim e Marco Silva. Todos desenvolveram trabalhos de qualidade, que depois Jesus deu o seu cunho. E tanto assim foi que em Janeiro refez o sector defensivo.

O trabalho de Rui Vitória não é, então, uma cópia?
Aos poucos, Rui Vitória foi introduzindo as suas ideias. Claro que não é uma cópia, senão andava muita gente a plagiar-se uns aos outros, pois todos os treinadores conhecem bem os princípios básicos para os cinco momentos do jogo e, hoje em dia, existem meios e ferramentas para todos melhorarem cada vez mais. Até nos distritais, apesar das limitações de meios, existe qualidade no treino. Quando Jorge Jesus começou a sua carreira também foi ver o Johan Cruyff treinar, andou pela Europa para ver como se trabalhava. Eu tenho uma boa relação com Jesus e estou grato pelo que deu ao Benfica, respeito a sua qualidade, mas isso não lhe dá o direito de amesquinhar os outros colegas de profissão. Sei que ele vive para o futebol 24 horas por dia, mas para muitos outros essa também é a forma de viver a profissão.

Deduzo que considera que Rui Vitória é o principal responsável pela conquista do título. É isso?
Há duas pessoas que ficam muito ligadas ao sucesso: o presidente Luís Filipe Vieira e o treinador Rui Vitória, fruto das decisões que tomaram. Se o Benfica tivesse perdido o campeonato, o presidente seria o principal responsável, pois iriam dizer que tinha feito as escolhas e as apostas erradas. O Rui Vitória diz que os jogadores foram os obreiros e distribuiu também os louros pelos adeptos, mas ele sabe bem qual foi o seu quinhão de responsabilidade no sucesso, como aliás todos os outros treinadores que foram campeões souberam e não sentiram necessidade de apregoá-lo.

E no campo, quem se destacou?
Se dissermos que é no golo que uma equipa se revela, Jonas e Mitroglou tiveram uma época fantástica, mas houve ainda Raúl Jiménez que, quando entrou, foi decisivo. Mas o olhar diferente do presidente e do treinador para a formação também merece destaque, pois foi um trabalho que trouxe à tona jogadores que revelaram a sua qualidade, como são os casos de Ederson Moraes, Renato Sanches, Lindelöf, Gonçalo Guedes e Nélson Semedo.

Neste campeonato houve luta até ao final, acha que foi o melhor dos últimos anos?
Tradicionalmente o campeonato é dominado pelos três grandes e as assimetrias continuam enormes em relação aos outros clubes. E o número de pontos conquistados pelos dois primeiros não indica grande equilíbrio. É verdade que há algum tempo não havia um duelo entre Benfica e Sporting até final, mas há algum tempo até se adivinhava uma luta a três, só que o FC Porto foi arredado prematuramente da discussão. Na descida houve emoção até final e a luta pela Europa foi também até à última. Nesse aspecto da emoção foi um bom campeonato o que, com as limitações financeiras dos clubes portugueses, a competição até teve um nível bastante aceitável para um país de 10 milhões de habitantes e sem os recursos de outros campeonatos.

Em 2016-17, o grande desafio do Benfica é chegar ao tetracampeonato, algo que nunca conseguiu. Acredita que é possível?
Eu, como jogador, estive duas vezes à porta do tetra, mas naquele tempo em ano de Campeonato do Mundo não conseguíamos ganhar. Primeiro foi para o Sporting e depois para o FC Porto. Este será mais um desafio para o Benfica, mas o FC Porto vai procurar maior estabilidade para regressar aos títulos, por isso acho que irá continuar a apostar forte, mas de forma mais racional para se juntar aos rivais. O Sporting, se não perder jogadores, estará mais forte e irá apresentar um futebol de qualidade. O Benfica já perdeu um jogador, o Renato Sanches, mas a aposta será sempre o campeonato. O que espero são intervenções verbais mais moderadas e a olhar para a promoção do futebol.

Mas acredita no tetra?
Acreditar faz parte dos adeptos. Será um campeonato tremendo, o caminho será longo e difícil. Além disso há que contar sempre com os adversários. Tenho a certeza de que o Benfica fará o seu trabalho de scouting para manter a qualidade do plantel e assim ter mais hipóteses de ganhar. O treinador Rui Vitória entrará na nova época com um melhor conhecimento dos jogadores e do clube e, por certo, alguns erros não voltarão a ser cometidos."

Aprendiz, 2-Génio, 1

"No princípio foi a Gazprom conluiada com a UEFA, derivado do seu estatuto de patrocinador oficial da Liga dos Campeões, o orientar do trabalho do árbitro checo no sentido de proteger os interesses russos do CSKA e prejudicar os do Sporting para desespero de BC, que bem chorou os milhões com que contaria para o necessário equilíbrio financeiro do clube: 18, segundo os cálculos que fez. Nenhum embaraço, porém. Como fora definido, o objectivo desportivo da época era o Campeonato e esse estava incólume. Depois veio a Liga Europa e o interesse do treinador leonino pela prova, como é público, nunca se tornou notado. Mais jogos, o cansaço que provocam, as viagens e os aborrecimentos emergentes. Na sua esclarecida perspectiva técnica, importante era treinar muito e jogar só o oficial na perseguição do objectivo chamado Campeonato, o único em cima da mesa. Razão, por isso, de uma presença titubeante, cujo ponto baixo correspondeu a um falhanço humilhante na Albânia e que colocou o Sporting na história do desconhecido Skenderbeu, enquanto o mais alto coincidiu com a vitória sobre o Besiktas e a entrada nos dezasseis avos de final. Palmas? Não, outra chatice, na opinião do treinador, por lhe retirar o tempo de que ele precisava para se concentrar no único ponto em que estava focado: o Campeonato.

A seguir, foi-se a Taça de Portugal e aqui começaram as dores, mas a eliminação com o Braga quase se transformou em derrota triunfal e pouco faltou para JJ sair em ombros da Pedreira. Entretanto, o projecto garantia solidez e o grande objectivo esperava, de braços de abertos.
Para não tornar o assunto enfastioso, salto a Taça da Liga e chego ao Campeonato que anteontem terminou, com o Benfica campeão e o Sporting segundo classificado. O objectivo tão entusiasticamente prometido não foi alcançado. Falhou este e falharam os outros. Em termos de títulos conquistados, o retrato da época, desenhado em estilo que Jesus aprecia, pode resumir-se a nadinha, nadinha... Bom, também não é rigorosamente assim, a Supertaça conta, mas se foi Jesus quem a ganhou, deve ter-se em consideração que foi Marco Silva quem a deu a ganhar.

Em 2012, na única vez que fez percurso na Champions, JJ foi eliminado pelo Chelsea, mas não reconheceu mérito ao adversário, tendo proclamado na altura que o Benfica tinha sido melhor, mas a verdade é que perdeu, como voltaria a perder no ano seguinte com o mesmo Chelsea na final da Liga Europa.
Apesar de o futebol dever ser visto como festa em todas as circunstâncias e o desporto como escola de valores e de referências para os jovens, alguém estaria à espera que JJ tivesse uma reacção diferente daquela que teve agora? Talvez, mas para mim ainda subsistem dúvidas sobre se ele queria mais ganhar pelo Sporting ou ganhar contra o Benfica, porque não sabendo como esconder-se diante do malogro leonino foi veloz na colagem ao sucesso do rival e prodigioso na criatividade para a sustentar. O vencido felicitar o vencedor é normal e desejável. É assim na política, por exemplo, e deve ser assim no futebol, mas no mundo de Jesus é diferente, o fair play não vale tanto...

Jorge Jesus fracassou em toda a linha. Deu para agitar as massas, pelo menos, defendem adeptos mais optimistas. De acordo, mas o mais provável é voltar tudo à estaca zero em função da aposta de elevado risco que foi feita sem se enxergar a indispensável contrapartida desportiva e financeira. E certo que podia ter resultado, mas falhou.
Não consigo prever o futuro, mas alguma coisa vai mudar, não me sendo possível, no entanto, avaliar a extensão e a profundidade dessa mudança e as suas consequências. O presidente leonino terá sobrevalorizado as capacidades do treinador que resolveu contratar, ao não se dar conta que levava para casa um profissional que é bom só para consumo interno. Quando o surripiou ao vizinho da Segunda Circular, em vez de criar um problema ao presidente do Benfica ajudou-o a tomar a decisão que tinha em mente.
Em conclusão, o aprendiz ficou em primeiro e o génio em segundo, o que, neste momento, coloca o resultado entre ambos em dois-a-um a favor do primeiro: Vitória ganhou o Campeonato a Jesus e já o tinha derrotado na final da Taça de Portugal em 2013. Pormenores, ou mais do que isso..."

Fernando Guerra, in A Bola

Diferente

"Sabemos bem onde estávamos no verão passado, quando o planeamento da temporada parecia um equívoco e a equipa teimava em não ter uma ideia de jogo. Mas também não me esqueço de que, logo no primeiro jogo em casa, Rui Vitória lembrava que sabia o que era ser adepto, pois vinha ao Estádio da Luz desde os 5 anos.
Bem sei que o tempo não está de feição para visões românticas do futebol, até porque se o Benfica ganha hoje (também nas modalidades) é por ter uma estrutura profissional, que substituiu o amadorismo que imperou durante anos. Mas, apesar disso, talvez seja bom recordar a diferença que faz vencer um campeonato com um grande treinador - benfiquista como nós e que não se coloca no centro do mundo -, quando comparado com vencer campeonatos com um grande treinador, que só perde com a bazófia que não consegue refrear.
Tenho memória de muitos campeonatos conquistados, mas este teve um sabor especial porque a temporada se iniciou sob o espectro do desinvestimento; por termos ressuscitado depois de dados tomo mortos e enterrados; pela forma como os adeptos estiveram com a equipa e só se libertaram verdadeiramente nos festejos incontidos de domingo; acima de tudo, pelo modo como Rui Vitória soube inventar jogadores quando tudo parecia perdido, manter o grupo unido e motivado face a uma ofensiva que raiou o delirante, e porque é completamente diferente ter um treinador que é um homem decente. Um critério que o deixa isolado, com todo o mérito, em primeiro. A grande distância, por exemplo, de um vendedor de pipocas."

Quem ganhou...

"Nem sequer a amêndoa presa na garganta, evitou que Jorge Jesus tirasse, em desconcerto, o murmúrio do seu ego a atormentar-se:
- Eu crio, outros copiam, por isso eu ganho...
Não, não me espantou - e a primeira coisa em que pensei foi em Bobby Robson, que, após uma derrota, afirmou:
- Nós não os subestimámos. Eles eram simplesmente muito melhores do que nós pensávamos...
Sim, se pensei em Bobby Robson foi para pensar que se esse ganho de Jesus não foi o ganho que podia ter sido - foi por ele ter feito o que fez: ter subestimado Rui Vitória, não ter percebido que Rui Vitória é muito melhor treinador do que ele pensa. Aliás, para mim; o Benfica só ganhou este campeonato por Rui Vitória ser o que é, como é. Quando não lhe bastava ganhar o jogo seguinte para não perder o futuro - soube sempre encontrar a melhor forma de ganhar o jogo seguinte e não perder o futuro. Mas não foi apenas por isso que ganhou o que ganhou. Bill Shankly, que descobriu que o futebol não é uma questão de vida ou de morte é muito mais do que isso, disse, uma vez:
- Todos os jogadores da minha equipa têm de jogar pela equipa e não por eles próprios...
Foi o que Rui Vitória conseguiu. E conseguiu mais: que os seus jogadores jogassem pelo seu carácter e a sua história e não contra a provocação ou a rezinga sem que ele alguma vez desse ares de se achar mais importante que a equipa. Por isso é que a equipa nunca foi pior do que podia ter sido e o treinador foi sendo melhor do que se imaginava que fosse - e ganhou. Ganhou ele e a equipa. E a equipa com ele. Ganharam com sorte? Talvez com a sorte que os chineses descobriram que é o ponto em que a vontade encontra a oportunidade. Mas mesmo que tenha sido essa a sorte que o Benfica teve bem maior foi a justiça do que ganhou. E sem mácula. Sim, dizer-se o contrário: que o Benfica só ganhou o que ganhou através de favor de árbitros, não é desculpa de mau perdedor - é muito pior..."

António Simões, in A Bola

A Vitória sobre Jesus

"Vitória ganhou o braço-de-ferro a Jorge Jesus porque um campeonato envolve um conjunto de múltiplas variáveis e não se decide só em função da sempre controversa exuberância do futebol apresentado. Até porque, como explicou há dias Claudio Ranieri, "o jogador perdoa muito mais facilmente o treinador por errar tacticamente do que humanamente". O técnico do Benfica não tem praticamente mais nenhum ponto comum com o inopinado campeão no Leicester, mas acabou também por beneficiar da sua benignidade e capacidade de agregação, contando para isso com o inestimável contributo dos responsáveis do Sporting, que terão sido os únicos a não perceber o quanto a sua pesporrência ajudou a aglutinar o balneário da Luz. Se dúvidas disso houvesse, bastaria atentar a boa parte das reacções dos benfiquistas anónimos, que mais do que ter ganho a Liga ao Sporting exultaram o brilharete que ofuscou Jesus. Mas os diversos momentos de festejo no relvado, no autocarro panorâmico e no Marquês confirmaram também que Vitória tinha o afecto e o respeito profundo dos seus jogadores, mesmo dos que jogaram pouco. Eles gostam da informalidade e da fleuma de um líder sem truques e que lhes indica o caminho em vez de lhes gritar ordens. "Não foram as palavras de Jorge Jesus que uniram o grupo - foram as de Rui Vitória", esclareceu Samaris, como que a confirmar que Jesus estava mesmo atrás do senhor das pipocas na lista de prioridades do treinador do Benfica. Vitória foi sempre magnânimo nas vitórias e quase sempre nobre nos desaires, mas quando teve de dar um murro na mesa não deixou de o fazer. Jesus gabou-se então de ter "tirado o coelho da toca", incapaz de perceber que ele é que estava a cair na sua própria emboscada.
Não é difícil concordar que o Sporting foi mais avassalador nos seus melhores momentos no campeonato - e este universo restrito deve ser relevado, porque Jesus falhou ou desistiu nas restantes provas. Mas a diferença não foi tão assinalável como ele e a sua entourage tentam fazer crer. As memórias mais recentes são sempre as mais impactantes, mas o Sporting também teve períodos menos fulgurantes, que, de resto, contribuíram para as escorregadelas nas recepções ao P. Ferreira, Tondela e Rio Ave e na visita ao Boavista. Pode queixar-se da falta de fortuna nalguns duelos, designadamente em Guimarães e na Madeira com o União, mas as estafadas queixas da arbitragem não passam de uma estratégia evasiva que esconde o essencial: o Benfica e o Sporting foram os mais beneficiados na Liga e se o campeão o foi de uma forma mais uniforme durante a época, o vizinho de Alvalade foi-o mais flagrantemente no primeiro terço. Se não foi capaz de gerir e rentabilizar os sete pontos de vantagem que chegou a ter sobre o Benfica no final da 13.ª jornada deve é começar por questionar a bondade de algumas das suas opções, entre as quais a venda a preços módicos de Montero e a revolução total na defesa em Janeiro, que acabou por gerar uma solução melhor, mas que, pelo caminho, teve custos de crescimento.
Rui Vitória teve uma paciência oriental, percebendo que as árvores de raízes mais fundas são sempre as que sobem mais alto. Começar por lidar com o fantasma e as taças do seu antecessor e com uma pré-época mal desenhada e desgaste. Teve de inventar soluções num plantel afectado por lesões e que a crítica considerava perder na comparação. Não se lhe ouviu um queixume. E, mesmo sem contar com as apostas regulares em Nélson Semedo e Gonçalo Guedes, seriam acusados de pascácios os que, em julho passado, tivessem arriscado dizer que Ederson, Lindelof e R. Sanches seriam determinantes no 'tri' que fugia há quase quatro décadas. Jesus acusa Vitória de copiar o que ele criou na Luz, como se isso não fosse um sinal de inteligência e como se ele próprio não tivesse usufruído da herança de Jardim e Marco Silva, designadamente no que respeita à maturação de Patrício, William, Adrien, João Mário e Slimani. O Benfica foi muitas vezes uma equipa demasiado dependente das individualidades, perdendo na comparação com o Sporting no processo ofensivo. Mas também teve outros méritos desde logo o de não precisar de muito para marcar golos. De facto o que decidiu esta Liga foi a superior eficácia finalizadora do Benfica, que a Jonas e a Mitroglou ainda acrescentou um Jiménez muitas vezes decisivo. Ao invés, a insistência em Gutiérrez como parceiro de Slimani só começou a dar frutos quando o Benfica já seguia à velocidade de cruzeiro. Foi isso que fez mais diferença. Mas rende sempre mais correligionários acusar os árbitros de bandidos..."

Como parar este 'Jogo Duplo'

"A recuperar do abalo causado pela 'Operação Matrioskas' o futebol português é confrontado com nova investida da criminalidade organizada. Desta vez, a investigação da Polícia Judiciária procura identificar os responsáveis pela adulteração de resultados desportivos em jogos da 2.ª Liga. O 'match fixing' é um flagelo à escala global. O futebol português não está imune e comporta factores de risco que devem ser cuidadosamente analisados.
Do lado dos jogadores, o incumprimento salarial e a falta de meios de subsistência aumenta a receptividade para a abordagem dos 'intermediários' destas organizações criminosas. Do lado dos clubes, as dificuldades financeiras e a dependência do investimento externo para a 'sobrevivência diária' propiciam a infiltração dos criminosos e o recurso à fraude desportiva.
O 'mercado negro' de jogo e apostas tem ditado as regras e controlado os esquemas fraudulentos, não havendo um modelo de controlo e fiscalização capaz de travar a investida. Definir e uniformizar regras de licenciamento dos clubes para competir e fiscalizar a sua actividade ao longo da época é dever dos agentes que regulam a actividade desportiva.
 Sem clarificação e uniformização das regras, 'ab initio', o futebol português continuará a saque. Tendo no horizonte a próxima época desportiva devem ser encorajadas as boas práticas desportivas, assim como deve ser implementado um modelo de boa governação que, aliado a regulamentação desportiva intransigente e a um sistema investigatório coordenado, permita acabar com o sentimento de impunidade existente.
A FIFA, a Interpol e a FIFPro têm colaborado com as instituições desportivas nacionais (o SJPF esteve presente numa acção de formação, que decorreu em Lisboa e envolveu 16 países, entre os dias 22 a 24 de Abril) para operacionalizar o 'modelo dos três R': Reconhecer, Resistir e Reportar o 'match fixing'. Esta política de 'tolerância zero' visa sinalizar práticas ilícitas e munir os agentes desportivos de ferramentas para resistir e punir exemplarmente os infractores, após denúncia. Cabe aos Estados e a cada uma das organizações com responsabilidade dar um passo em frente. O SJPF dará a sua resposta apostando na educação dos atletas, através do projecto 'Anti Match Fixing-Deixa-te de Joguinhos'."

A razão do elogio de Vieira

"A recepção à comitiva do Benfica na Câmara Municipal de Lisboa, poucas horas depois de conquistado o 35.º campeonato, talvez tenha sido o ponto mais alto, até hoje, nos 13 anos que Luís Filipe Vieira já leva na presidência do clube. O primeiro título é sempre especial e nunca se esquece. A primeira final europeia foi outro marco importante. As sucessivas vitórias eleitorais - com margem folgada - também serão sempre recordadas. Mas desta vez, nos Paços do Concelho, viveu-se um momento diferente de todos os outros. Foi o dia seguinte à conquista de um tricampeonato que as águias não alcançavam desde meados da década de 70. Esta era, pois, uma visita carregada de simbolismo e que acontecia no culminar de um campeonato escaldante, desgastante e quase sempre disputado no limite do combate emocional. Esperava-se uma posição responsável de Vieira e o mínimo que se deve dizer é que o presidente do Benfica não defraudou as expectativas.
Há muitos anos que no futebol português deixou de ser normal ouvir dirigentes e treinadores destacarem os méritos dos adversários. Dos rivais, então, nem se fala. Ora, Vieira teve a grandeza de reconhecer a extraordinária caminhada do Sporting neste frenético campeonato nacional e aproveitou a ocasião solene para endereçar, ali mesmo, os parabéns ao clube e aos seus adeptos. Excelente. O elogio ao trabalho dos leões é da mais elementar justiça e faz todo o sentido. É um reconhecimento, de resto, que engrandece ainda mais o título do Benfica. Luís Filipe Vieira cometeu muitos erros pelo caminho, uns mais graves do que outros, mas tem dado sucessivas provas de que aprendeu com as coisas que correram mal. E a mensagem que ontem quis deixar é a de que não existem campeões fortes contra adversários fracos. Acertou em cheio."

A óbvia justiça dos campeões

"Pode haver jogos com resultados injustos. Pode haver jogos com resultados marcados por uma má decisão de um árbitro, ou por simples desígnios da sorte. Mas não há campeões injustos em campeonatos de trinta e quatro jornadas.
Eu sei o que dizem muitos dos sportinguistas. Que o Sporting foi a equipa que melhor jogou futebol. A realidade é que o Sporting foi a equipa portuguesa que acabou a época a jogar melhor futebol, mas não foi sempre assim. E mesmo que assim tivesse sido, mesmo que o Sporting, à semelhança do que noutros tempos se dizia do grande Vitória de Setúbal de Pedroto e de Fernando Vaz, tivesse sido um campeão do melhor futebol, ou, na expressão antiga, um campeão do 'fio de jogo', a verdade é que não é o melhor futebol que define a lógica de um campeão, mas, muito simplesmente, a regularidade do sucesso. O Benfica foi a equipa mais regular do campeonato. Fez um total de 88 pontos em 34 jogos e marcou um golo por cada pontinho conquistado. Foi, de longe, a equipa mais goleadora e ficou apenas a um escasso golo do Sporting, para o igualar como equipa com menos golos sofridos.
Começou mal a época, é verdade, mas tornou-se pendular nas exibições e nos resultados. Os jogadores não se terão parecido muito com as estrelas do ballet Bolshoi, mas formaram uma equipa forte, coesa, solidária e,o mais importante, ganhadora. Os seus principais protagonistas foram fisicamente fortes, tecnicamente competentes, tanto mais que chegaram longe na Champions, e psicologicamente foram reconhecidamente consistentes. Nada lhes faltou, portanto, para o mérito."

Vítor Serpa, in A Bola

Carta aberta a um Senhor.

"Exmo. Senhor Rui Vitória.
Sim, SENHOR. Porque de um verdadeiro SENHOR, na correcta acepção da palavra, se trata. Antes de mais, tenho de te agradecer.
Tu estás já um degrau acima e quem está nessa posição não sai da toca. Não saíste da “toca” como o “outro” diz. Tu fizeste-nos foi a nós sair da “toca”. Não a mim, ou a outros milhares de Benfiquistas que sempre o acompanhamos. Mas a todos os outros, que comodamente vão ao Marquês quando o Benfica ganha e que apupam os seus treinadores, dirigentes e jogadores. Esses, sentindo o teu profissionalismo, dedicação, entrega, humildade e amor ao Benfica, fizeram algo inédito, saíram da toca em tua defesa.
Todos sofremos as tuas dores, tomando-as como nossas e unimo-nos. Como nunca vi. Creditamos-te isso. 
A ti e ao “cérebro”. E saímos da “toca” no momento mais improvável. Aos 71 minutos de jogo, quando depois de já termos perdido a Supertaça, perdíamos por 3-0 em plena Catedral e com o nosso eterno rival, ainda para mais com este Sporting, do arrogante Jesus, do insuportável Bruninho, do intratável Inácio, do não irascível Octávio, sim este Sporting que graças a este quarteto maravilha, deixou de ser nosso estimado adversário, nosso rival, para passar a ser quase nosso inimigo (não por nossa culpa ou vontade, mas pela “guerra” constante que nos declararam) e que, como disse, nos ganhava por 3-0, eis quando num assomo de Benfiquismo, todos, a uma só voz e num momento único de Benfiquismo, nos unimos à equipa, ao nosso treinador e nunca mais nos largámos. Nem um único minuto.
Mais do que nunca sentimo-nos o teu 12.º jogador. Por isso hoje, sabemos que também nós somos campeões. E devemo-lo a ti. A ti e ao nosso Presidente. Nunca vacilaram.
Nunca choraram a saída do Maxi Pereira, a lesão do Nelson Semedo que brilhantemente o substituía e que tu inventaste. Não chorámos a lesão do nosso Capitão. Incrível o nosso azar porque quando ficaste sem o nosso capitão, também brilhantemente substituído pelo nosso Lizandro Lopez, eis que também ele se lesiona. E pouco antes de um jogo decisivo da liga dos Campeões e antes dos jogos com os rivais. Também aí tu nos serenaste. A nós, tanto quanto aos jogadores. E isso foi fundamental. Tinhas mais uma carta na manga e acreditaste num miúdo. Deste-lhe a confiança necessária e nós confiámos em ti e esse miúdo Lindelof nunca mais saiu da equipa. Foi o nosso esteio. Como foram Luisão e Lizandro. Como foi Jardel. 
Como foi Eliseu. O nosso “Patinho Feio” que tu resgataste. Mostraste ao “Cérebro” como se aproveita um jogador. Contigo, ele deixou de ser o nosso “patinho feio” e foi um dos heróis de Alvalade.
Mas o que para outros seria um tremendo azar, tu soubeste criar. Sim, tu criaste. Tu deste a confiança e nunca vacilaste.
Quem resistiria a perder o nosso “Imperador” no dia do jogo do título e de um jogo decisivo da Liga dos campeões. Quem no início da época acreditaria que ganharíamos em Alvalade sem Júlio César, Maxi Pereira, Luisão e Lizandro Lopez? Quem, senão tu, no início da época acreditaria que com dois jogadores jovens, um deles um Guarda-Redes – Ederson – ambos inexperientes nestas andanças, mais o André Almeida que também aproveitaste muito melhor do que o “cérebro” que te antecedeu e o Eliseu e apenas com o Jardel ao nível da época passada, mas agora como “patrão da defesa”, acreditaria que com essa defesa a equipa ganharia em Alvalade, onde o ano passado só por sorte empatou no último minuto?
E que iria ganhar ao milionário Zenit, que veio ganhar à Luz o ano passado, quando éramos treinados pelo maior de todos os tempos? Nós. Só nós. Os famosos seis milhões que nunca vos largámos. Nem vocês a nós. Fomos Et Pluribus Unum.
E a aposta na formação? E Renato Sanches? Lançado na hora H, sem vacilar, sem quaisquer espinhas. Fazendo com um jogador da formação provavelmente o maior encaixe financeiro de um clube Português. Depois de vermos o nosso Bernardo Silva desaproveitado e quase humilhado quando cá jogava. De vermos um André Gomes, claramente subaproveitado, que bem que nos soube ver a tua aposta em jovens como Gonçalo Guedes, Nelson Semedo e todos os outros que já referi. Todas apostas ganhas. Provaste que sabes ganhar títulos (bateste o record de pontos da Liga – imagino se tivesses unhas para o Ferrari), dignificar o nome do clube na Europa, com pontos, milhões de euros ganhos (um record), sem excessos, sem arrogâncias como no passado e com uma postura que não nos envergonha, como nos envergonharam com o Tottenham por exemplo, no ano passado.
E a classe? E a pressão a que estiveste sujeito e nunca vacilaste? E a resposta que deste? Benfiquistas, está na hora de seguirmos o exemplo do nosso treinador – sim, o teu exemplo, e pararmos de falar no passado. No outro que nem soube perder. Que ainda se julga o criador. De quê? Do Renato Sanches? Do Lindelof? Do Ederson? Do Mitroglou que ele disse que não fazia falta na sua equipa e que epicamente marcou o golo que lhe tirou o título? Do Pizzi que contigo foi brilhante e determinante e com ele foi apenas razoável? De que fala ele?
Se dúvidas houvesse quanto à forma exemplar como geres os recursos humanos e porque os jogadores (todos) te respeitam e deixam a pele em campo por ti, temos o que fizeste ao nosso guarda-redes Paulo Lopes, ao contrário do que aconteceu na época passada, na qual, sob o comando do cérebro criativo, o guardião luso não saiu do banco de suplentes durante toda a época, mesmo tendo jogado a última jornada com o campeonato nacional.
Sim, está na hora de nos preocuparmos connosco, nossa família, amigos, nosso clube, com os professores dos nossos filhos, com um qualquer motorista de táxi, com o arrumador de carros, com o tipo das pipocas e, sim, depois, lembrarmo-nos que um dia tivemos um treinador, que antes de vestir o manto sagrado não era ninguém e que agora é apenas um treinador com algo engasgado na garganta.
Também Maxi Pereira deve estar a pensar que agora é só um jogador.
Lamento por eles… Nós continuaremos no nosso caminho. Felizes com as nossas opções. Uma palavra apenas: OBRIGADO por tudo.
De (mais um) admirador do teu trabalho, postura, profissionalismo e benfiquismo."