sábado, 17 de dezembro de 2016

No limiar da tromperia

"Numa aula da 1.ª classe havia um menino muito rabugento, que fazia inúmeras tropelias e maldades, mas que tinha o engenho de chutar tudo para cima dos outros. Assim, divertia-se a ver os sérios a serem castigados, enquanto ele, que tanta porcaria fazia, nunca era punido.
Esse pastorzinho levava sempre o seu rebanho para a serra a pastar. Como estava sozinho durante todo o dia, aborrecia-se muito. Então pensou numa maneira de ter companhia e de se divertir um pouco. O Facebook não chegava! Voltou-se na direcção da aldeia e gritou:
- Lobo! Lobo!
Os camponeses correram em seu auxílio. Não gostaram da graça, mas alguns deles acabaram por ficar ali junto do pastor por algum tempo. O rapaz ficou tão contente, que repetiu várias vezes a façanha. Até trocou de bicicleta!
Alguns dias depois, um lobo saiu da floresta e atacou o rebanho. O rapaz pediu ajuda, gritando ainda mais alto do que costumava fazer.
- Lobo! Lobo!
Como os camponeses já tinham sido enganados várias vezes, pensaram que era mais uma brincadeira e não o foram ajudar. O lobo pôde encher a barriga à vontade porque ninguém o impediu.
Quando regressou à aldeia, o rapaz queixou-se amargamente, mas o homem mais velho e sábio da aldeia respondeu-lhe:
- Na boca do mentiroso, o certo é duvidoso.
(...)"


Pragal Colaço, in O Benfica

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