"O Comité Olímpico Internacional concedeu ao cheerleading estatuto olímpico provisório, o que significa que este está mais próximo de ser modalidade olímpica. Parece-me, à falta de termo técnico talvez mais adequado, uma estupidez.
Compreendo parte do argumento do COI, segundo o qual há milhões de jovens a praticar cheerleading; também compreenderia com facilidade as associações da prática a modalidades de ginástica. De qualquer forma, mesmo mantendo elasticidade no conceito de desporto - e ressalvando que é uma actividade física e que se organiza em competição -, a razão que me leva a desacreditar o cheerleading como tal tem a ver com o facto de não poder ser praticado por feios. Desde os anos 50, quando começou a sério nos EUA, que os critérios de admissão são a habilidade para dançar e o sex appeal; não conheço nenhum outro desporto que seja só para bonitos. Há desportos nos quais os lindos beneficiam, é verdade; mas não é o mesmo.
Estarei a exagerar? Possivelmente. Exagerar é coisa que me acontece bastante. O que procuro dizer é que subjacente à cultura escolar americana do cheerleading há critérios que não são desportivos e são discriminatórios. Ainda em Abril deste ano a Universidade de Washington publicou lista de exigências para as candidatas: bronzeado de praia, pestanas falsas, ausências de tatuagens, batom (de cor discreta) e vestuário que mostre a barriga. É uma coisificação, uma redução a valor material, a objecto.
Nada tenho contra, faz parte da vida, não serei seguramente eu a mudar o Mundo. O Mundo é que me muda. Agora, parece-me inegável que um desporto olímpico que se preze tem de admitir rostos pálidos, atletas que não pintem os olhos nem usem pestanas falsas, malta tatuada e, inclusivamente, gordinhas. O desporto é bonito de mais para ser perfeito."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
Para além de todos os pontos apontados (passe a redundância) pelo autor, a coisa reveste-se de especial estupidez, por tentar transformar em desporto, uma actividade que tem por essência, ser um grupo de pessoas que estão, de fora, a dar apoio a uma equipa de um determinado desporto.
ResponderEliminarDiria que é, assim, como... haver uma nova categoria, para dar um Oscar ao melhor crítico de cinema do ano...