"Tenho um amigo, tão sportinguista como eu sou benfiquista. Brincamos com as graças e desgraças dos nossos clubes, há longos anos. Mas, tal não me impediu de usar camisolas e gravatas verdes e até de já ter tido um carro verdoengo. Ele, por sua vez, mais ousado do que eu, usa, amiúde, roupa em tons de vermelho, tem uma linda canela purpúrea (que bem ficaria na minha colecção) e um belo Alfa encarnado.
Depois das orientações leoninas para que, entre os seus jogadores e não só, nada haja de encarnado pelas bandas de Alvalade e Alcochete, tive reunião de emergência com este meu amigo e decidimos, sem polémica, que:
1. Deixarei de comer feijão verde e ele não voltará à sopa de feijão encarnado;
2. Ainda que raramente o faça, se beber vinho só tinto e nunca verde, ao invés precisamente dele;
3. Vou deixar de usar a Via Verde nas auto-estradas, ao passo que o meu amigo me jurou que não voltará a passar com semáforo vermelho, ainda que esteja com pressa;
4. Felizmente acabaram os recibos verdes em papel, o que o meu amigo lamenta, dizendo que o mesmo deveria acontecer aos cartões vermelhos (do Sporting, claro);
5. Jurei nunca mais pronunciar a frase «há, mas são verdes» e ele logo retorquiu prometendo que nunca mais ficaria «vermelho que nem um tomate», mesmo com o Tondela e o Nacional;
6. Só verei os jogos da selecção com equipamento da cor mais representada na nossa bandeira (vermelho), ao contrário dele que só a verá trajada de verde, ainda que esquálido;
7. Quanto a melancias, estamos de acordo: são falsas e manhosas. prefiro oferecer-lhe um bom melão.
E pronto. Amigos como dantes..."
Bagão Félix, in A Bola
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