"Sempre gostei de túneis. Fascina-me, desde criança, estar na escuridão com a certeza ed que lá ao fundo, mesmo que muito lá ao fundo, há sempre uma luzinha que brilha e nos trará de volta a realidade que, por instantes, nos surgira transformada num vazio, por vezes tão silencioso, muitas outras ruidoso.
Durante toda a minha infância na linha de Sintra, e porque lá em casa não havia automóveis, ir a Lisboa significava atravessar o túnel do Rossio. Assistir àquele espectáculo de luzes intermitentes, a humidade a escorregar das paredes envelhecidas, o perigo sempre constante (pelo menos na imaginação de uma criança) de que tudo aquilo que vivia por cima de estrutura poderia a qualquer instante ruir e esmagar-nos. Sempre com aquela luzinha lá no fundo, o Rossio.
Como nas longas viagens rumo a Trás-os-Montes, primeiro na linha do Norte, entre Santa Apolónia e Campanhã, madrugada fora, quando os túneis se diferenciam da noite pelo som único que produzem; e depois até ao início da tarde, entre São Bento e o Pocinho, ali já perto do final da magnífica linha do Douro, o rio mágico e serpenteante que corta montanhas e rochas. E que, de quando em vez, desaparecia do nosso olhar, substituído pela escuridão, para logo depois nos surgir, de novo, resplandecente.
São esses os túneis mágicos que, desde sempre, me fascinam. Os outros, os que nos últimos tempos ganharam notoriedade pelos piores motivos, onde perante câmaras de segurança se cometem crimes sem castigo, esses apenas enjoam. São lixo. Do mais reles e putrefacto. E, portanto, o lugar deles não pode ser no mais belo jogo do mundo nas antes na lixeira ou numa qualquer incineradora que os deixe feitos em pó. Castigue-se, pois, e sem clemência, quem tem de ser castigado. Para que, lá ao fundo, volte a ver-se, enfim, alguma luz."
João Pimpim, in A Bola
Sim...senta-te e espera pelos castigos exemplares!!!!
ResponderEliminar