domingo, 4 de setembro de 2016

Revolução e vírus

"Vivemos, agora sim, os dias do denominado vírus da FIFA. Um período que acompanha os últimos dias do mercado e que tudo agita.

1. Internet e futebol são hoje em dias realidades universais. Se em 1960 já estava no ar a ideia de uma rede global de computadores só no arranque do século XXI sentimos o carácter genérico da Internet. E foi nesse inicio de século que a FIFA, já realidade bem universal, levou, em conjunto, ao Japão e à Coreia do Sul um Mundial de futebol. E ao mesmo tempo em múltiplos estados a difusão da internet provocou revoluções, como as denominadas, e por vezes arrepiantes pelas suas consequências, revoluções árabes.

Agora já vivemos o tempo da chamada internet contingente. O seu futuro está nas mãos da indústria, dos utilizadores, da comunidade científica e dos estados. E estes podem provocar muitos e diferentes vírus. E tendo consciência que ela foi e é uma imensa e intensa revolução!


2. Daqui a dois dias, na Suíça de muitas línguas e com milhares de empenhados e dedicados portugueses, começa a nossa ambição pela presença no Mundial de 2018, pela presença no Mundial da Rússia. Será, acredito, a quinta presença consecutiva da selecção das quinas num Mundial de futebol. Desde aquele Mundial do Japão e da Coreia do Sul em 2002 marcamos presença sistemática na grande festa do futebol universal. Na Alemanha, na África do Sul e no Brasil. E sabendo com Christian Bomberger que o «futebol é o único e verdadeiro idioma universal» - a par da Net! - e antecipando que a República Popular da China tudo está a fazer para organizar,e dignamente disputar, o Mundial de 2030! E tendo consciência que Catar - 2022 é, ainda, um imenso desafio! Daqui a dois dias começa um sonho que se concretiza daqui a dois anos. Dois dias são um instante. Dois anos uns momentos. Bem curtos. Sabendo igualmente que quase não damos conta que o nosso neto mais novo, o João Maria, já caminha sozinho ou que o mais velho já chegou, de verdade, à idade da imagem. E que o do meio adora o meio ambiente e vibra com natureza. Mas sendo certo que com eles, com os mais velhos, aprendemos, num instante e naquele momento, que o «teu computador está com vírus»!

3. Vivemos, agora sim, os dias do denominado vírus FIFA. É um vírus novo e diferente. É o vírus derivado de convocatória de um número significativo de jogadores internacionais pertencentes ao mesmo clube. Este, o clube, também sociedade desportiva, cotada ou não na bolsa, investiu verbas significativas em grandes nomes e, num momento, vê que eles são chamados para os compromissos das respectivas selecções nacionais. Ausentam-se, sem muitos custos para as selecções, por dez ou mais dias. E este vírus é particularmente sentido neste primeiro período de calendário para as selecções que ocorre entre o final de Agosto e o princípio de Setembro. É o período que acompanha os dias derradeiros do mercado de transferências e que antecede os primeiros jogos das competições europeias. Os treinadores vão conhecer alguns dos seus novos jogadores - mesmo que, em certos casos, velhos conhecidos - quase que na antevéspera dos jogos da respectiva liga nacional e do primeiro confronto da Liga dos Campeões e da Liga Europa. E pedindo a todos os deuses que nenhum se lesione ao serviço de qualquer selecção nacional. Seja europeia, americana ou africana. Ou, até, asiática! E, entretanto, alguns jovens jogadores vivem dias felizes. São chamados para treinar com os grandes nomes - os não convocados - do plantel principal do seu clube do coração. Sabendo todos com Nelson Rodrigues que «o futebol é a pátria das chuteiras»!

4. Na passada quinta-feira, na cidade italiana de Bari, ocorreu uma verdadeira revolução no futebol mundial. Pela primeira vez na história do futebol, e no âmbito de um relevante jogo oficial - o Itália-França - foi efectivamente utilizado o vídeo-árbitro! O novo presidente da FIFA, Gianni Infantino, acompanhou este momento revolucionário, que foi logo utilizado aos quatro minutos da partida e permitiu esclarecer que, em razão de uma falta grave, o cartão a exibir justamente deveria ser o amarelo e não o encarnado. Foi quando Djibril Sibidé cometeu uma falta dura sobre o italiano De Rossi. Arrancou, assim, a fase experimental de dois anos aprovada, em Março passado, pelo International Board. Para que a avaliação seja feita a tempo da sua plena utilização no Mundial da Rússia.

Sabemos que a nossa Federação - e bem - a par das da Austrália, Brasil, Alemanha, Holanda e EUA será uma das que vai realizar experiências concretas acerca de uma situação que levou o Presidente da FIFA a dizer não só que «passámos das palavras aos actos» como também que «escrevemos uma página na história do futebol». Mas quase ao mesmo tempo, a milhares de quilómetros de distância, o Japão perdeu por duas bolas a uma frente à Selecção dos Emirados Árabes Unidos sabendo que, nos instantes finais do encontro, um remate do japonês Takuma Asano ultrapassou a linha de balzia mas não foi validado pelo árbitro. Se houvesse vídeo-árbitro teria alcançado o empate. Conquistado um ponto. E a polémica no Japão não seria intensa. Em Novembro, no confronto entre a Itália e a Alemanha, o vídeo-árbitro vai regressar aos bastidores dos relvados. E, entretanto, a partir de 1 de Outubro começará a ser utilizado, em certos lances, em três partidas de cada jornada da Série A da Liga italiana! Que revolução!


5. Neste período final da intermediação global de verão - e depois lá virá a de inverno em Janeiro - e tendo consciência da sua importância - incluindo os inúmeros postos de trabalho que dela já dependem - recordei uma parte de um interessante texto que li de uma grande jornalista brasileiro, Armando Nogueira: «Os dirigentes pecam por acção, por omissão e por confissão». E,acreditem, recordei esta frase tão só ao somar os larguíssimos milhões que os diferentes clubes europeus gastaram neste período estival. Dos mais de mil milhões ingleses às largas centenas de italianos, espanhóis, alemães, turcos russos ou franceses. Sem esquecermos as compras e vendas de Benfica, Sporting e Porto. E, também, as vendas relevantes de outros emblemas nacionais que, em certos casos, e sem nos apercebemos, significaram um terço ou um quarto do seu orçamento para a presente época desportiva. Um verdadeiro presente! Uma revolução de e na intermediação!"

Fernando Seara, in A Bola

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