terça-feira, 20 de setembro de 2016

Irrecuperável

"Mais de dezena e meia de títulos internacionais foram assinados por treinadores portugueses nos últimos 55 anos, não constante da lista Jesus

José Maria Pedroto foi o primeiro treinador português a dar ao País um título internacional: em 8 de Abril de 1961, a Selecção de Juniores sagrou-se campeã da Europa, ao derrotar a Polónia (4-0), na final do torneio, com quatro golos de Serafim. Proeza que a FPF teve o cuidado de assinalar no ano do seu cinquentenário, com uma homenagem a jogadores, técnicos, elementos do staff e ao seleccionador David Sequerra no intervalo do jogo com a Noruega (apuramento para o Euro-2012), que se realizou no Estádio da Luz.
Três anos mais tarde, em 1964, Anselmo Fernandes conquistou outro título europeu, quando o Sporting venceu a Taça dos Vencedores das Taças na finalíssima de Antuérpia, frente ao MTK de Budapeste, por 1-0, através do um canto directo apontado por Morais que deu origem a uma música que depressa de celebrizou como O Cantinho de Morais. Além deste relevante feito, nessa mesma época, o Sporting humilhou o Manchester United, ao derrotá-lo, em Alvalade, por 5-0, e virando a eliminatória (o leão perdera em Old Trafford por 1-4)!
Em 1987, pela mão de Artur Jorge, o FC Porto ganhou a Taça dos Campeões Europeus na final de Viena (2-1 ao Bayern Munique).
Em 1989 e 1991, Carlos Queiroz estabeleceu um novo paradigma para o futebol luso, ao conseguir dois títulos mundiais no escalão de sub-20, na altura inimagináveis para o nosso ainda muito curto horizonte. Foi a partir deles que se desenhou a fronteira do futuro, podendo dizer-se que nada voltou a ser como antes, expressão justificada pela mudança profunda observada ao nível dos desempenhos da nossa Selecção principal, a qual desde 2000 não mais deixou de estar presente nas fases finais de Europeus e Mundiais.
Já este século, José Mourinho, treinador do FC Porto, surpreendeu ao conquistar a Taça UEFA (Sevilha, 20003) e a Liga dos Campeões (Gelsenkirchen, 2004). À parte a quantidade de outros troféus amealhados nos países por onda passa, Mourinho voltou a destacar-se internacionalmente ao vencer a sua segunda Liga dos Campeões Europeus, em 2010, então pelo Inter de Milão (2-1 ao Bayern, em Madrid).
André Vilas Boas, deu ao FC porto, em 2011, a vitória na Liga Europa (1-0, ao SC Braga), em Dublin, em final cem por cento portuguesa.
Noutro continente, Manuel José conquistou quatro Ligas dos Campeões Africanos (2001, 2005, 2006 e 2008) e duas Supertaças de África (2001 e 2006), sendo o treinador português com mais títulos internacionais no currículo.
Já neste ano de 2016, sob o comando técnico de Fernando Santos, Portugal chegou ao topo da hierarquia, ao ver a sua Selecção erguer em Paris o troféu correspondente ao título de campeão da Europa de nações.

Mais de dezena e meia de títulos internacionais foram assinados por treinadores portugueses nos últimos 55 anos, não constando dessa sublime lista o nome de Jorge Jesus, nem deverá constar algum dia, creio eu, ao contrário de outros mestres do mesmo ofício, mais jovens, mais cultos e mais bem preparados, os quais, espalhados um pouco por todos os continentes, vão granjeando respeito, essencialmente pela competência.
São em maior número do que se supõe, porque em Portugal as perspectivas de construir carreira enxergam-se mal. É preciso fazer pela vida em outros países, na Europa ou fora dela: Leonardo Jardim, Carlos Carvalhal, Paulo Fonseca, Paulo Sousa e Paulo Bento, só para citar os que preenchem a cabeça do pelotão.

Na arte de ganhar (muito) dinheiro, porém, Jesus tem-se revelado imbatível. É hábil a vender o produto e, nos últimos anos, em função da conjuntura favorável, o seu agente secreto ajudou-o a recolher importantes dividendos ao criar-lhe condições para se insinuar na má relação de vizinhança entre águias e leões. Se o que recebia antes era escandaloso, passou a ser ofensivo. Mas, lá está, se ganha o que ganha é porque arranja alguém que lhe paga...
No Benfica, durante os seis anos que lá esteve fez o que qualquer outro teria feito com as mesmas condições de trabalho e a mesma disponibilidade para satisfazer-lhe todas as vontades na aquisição de jogadores. Jesus ganhou três campeonatos que saíram caro aos encarnados.
Ao contratá-lo, o Sporting pensou ter adquirido um diamante ainda por lapidar e do qual poderia extrair riqueza e poder. Até agora tem sido só promessas e... pacotes de reforços a entrar rumo ao objectivo supremo, que é o título nacional. O limite, porque Jorge Jesus é um bom treinador... para consumo interno, como já se deve ter percebido.
Jesus só destaca os seus méritos, ocultando as suas limitações. Quais pesam mais, não sei. Até chegar à Luz, com 20 anos de carreira, títulos nem um, era igual a zero. Melhor, a zero vírgula qualquer coisa, pois tinha apurado para a UEFA através da Intertoto quando treinava o Braga.
O Benfica deu-lhe notoriedade, gerou um monstro e não conseguiu dominá-lo, porque, tendo gás, é incontrolável, no que diz e no que faz. Pior, como assumiu por estes dias, é irrecuperável: não muda. Ele está certo, o mundo é que está errado..."

Fernando Guerra, in A Bola

1 comentário:

  1. É mesmo isto. Não há muito mais a dizer. Como Benfiquista não tenho medo nenhum de perder este campeonato, apesar de duvidar que isso aconteça. Quero assistir sentadinho no sofá à saida dele do scp. Seja quando for e da maneira que for, tenho a certeza que vai ser "engraçadee".

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