quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A velhice do Padre Eterno

"Bastou que o Porto perdesse para que logo viessem falar das arbitragens. Eu sei que deve ter custado perder assim.

Nestes últimos dias (independentemente das polémicas, dos objectivos da obra original e do momento da sua publicação), veio-me à memória 'A velhice do Padre Eterno', de Guerra Junqueiro.
A história conta-se, como em todas as ligadas ao futebol, em poucas palavras, porque, normalmente, por aqui há mais acções (não confundir com boas acções) que pensamentos.
Recentemente, a propósito de um jogo do Benfica, em que não participava nenhum dos clubes da velha aliança, um presidente, com o sarcasmo (e a impunidade) a que há muito nos habituou, afirmou que «arbitragem vai ser discutida sempre que o Benfica não ganhar».
Sabem o que aconteceu, no fim de semana seguinte, com a derrota do seu clube, com lances polémicos em seu claro prejuízo.
Com a sem vergonha a que nos habituou, por dizer tudo e o seu contrário, sem ninguém ter coragem de o questionar sobre tanta incoerência, o tal presidente lá mandou arrasar a arbitragem, apesar de o Benfica ter ganho.
Uma semana foi o tempo que mediou entre essa declaração e a quebra dessa convicção!
Bastou que o Porto perdesse para que logo viessem falar de arbitragem.
Eu sei que deve ter custado perder assim!
Como a mim me custa perder (ou empatar, como foi o caso da jornada anterior) com erros gritantes dos árbitros.
Mas quem, na época passada afirmava que o Sporting é que devia ser campeão, não pode estranhar, agora, que julguem que a declaração ainda estará em vigor.
O ódio ao Benfica turva-lhes o pensamento.
E as vitórias, que «não soem já como soíam» (o Camões dá sem jeito para responder a um intelectual que se julga superior num mundo pouco dado a essas coisas) agravam-lhes a hipocrisia.
Eu devo preocupá-los muito.
Porque de uma previsão (iguais às deles, mas sem a disfarçar com posturas pensativas, para esconderem os risos alarves do desejo das nossas derrotas) fazem um caso de lesa majestade.
E porque sabem que os lambe botas do costume, os que precisam deles para sobreviver, lhes servirão fatias de subserviência disfarçadas de solidariedade.
Estou tranquilo quanto sem medo de os voltar a desafiar.
Tentarão uma e outra e outra vez a minha saída dos lugares que ocupo, na comunicação social, na estrutura do Benfica, em tudo quanto a minha imagem e as minhas posições os possam ameaçar, com a conivência dos que estão sempre dispostos a fazer-lhes a vontade.
Aprendi, lá dentro, em muita conversa, mas com muitos factos, tudo o que sei hoje sobre esta realidade (e, já agora, que não conhecia em 2004, quando era Ministro, como alguns gostam de relembrar).
Por isso recordei, perante tanta virgem ofendida e tanta hipocrisia, 'A velhice do Padre Eterno', de Guerra Junqueiro.
Reli, citando o autor, a suspeita de que «o velhote dança e sabe assobiar».
Ao toque desse assobio, lá vieram os do costume com a solidariedade bacoca e provinciana, mesmo que alguns sejam da capital (que não a de Eça).
Guerra Junqueiro alude ao pisar do «dragão pecado», com um «sorriso divino» e um leão.
Por mim, nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Bem sei que as pessoas, talvez com a idade, tenham menos percepção da inconsequência e da incontinência verbal em que, não raras vezes, incorrem.
Sei, também, que o que defendem hoje nada têm a ver com o que disseram anteriormente.
Talvez porque julguem - e bem - que o futebol é a área da vida onde mais vemos aplicados os ensinamentos de Nicolau Maquiavel: «os fins justificam os meios».
Bem sei que a falta de carácter potencia a inteligência, e por isso não me preocupo com o que vão dizendo e fazendo.
Excepto quando, sob a capa da «graçola e da parolice», passam os dias a dizer reiteradamente mal do meu clube.
Durante a época passada foram sucessivos os ataques, semana após semana, para tentar desestabilizar o Benfica, para evitarem o tricampeonato.
Este ano vão pelo mesmo caminho.
Por isso, poderão continuar os ataques cerrados que me fazem.
Poderão, até continuar a aprovar leis na Liga contra mim, por iniciativa de clubes que só querem que o Benfica perca, fazendo tábua rasa da liberdade de expressão e correndo o risco de serem publicamente envergonhados - se a aplicarem - quando virem anulada a iniciativa por um tribunal, por manifesta inconstitucionalidade.
Até porque ao julgador se exige um juízo prévio de conformidade da norma com as que lhe são superiores. Ou não será?
Já agora (e para ver se eu tenho mesmo medo) porque não sancionar a minha presença no 'Dia Seguinte', na SIC, com a pena de morte?
Era tão inconstitucional como a norma que aprovaram e resolviam o problema que têm comigo de vez.
Por mim, e se o não fizerem (vontade e ameaças nesse sentido, nas redes sociais, não faltam), cá continuarei e lutar e a defender, de forma intransigente, os interesses do Sport Lisboa e Benfica.

A velha aliança
Na época passada,«ambos os dois» (o futebolês não me sai da cabeça) decidiram adoptar uma estratégia de comunicação em que reinava a maledicência e a insinuação, com várias manobras de desestabilização do Benfica.
Sabemos, hoje, que essa estratégia não chegou para nos derrotar.
Esta época não será diferente, com os meios a serem os mesmos, já que o importante será atingir os fins: que o Benfica não ganhe.
Nós continuaremos a querer ganhar, apenas e só.
Não obstante, e depois do primeiro confronto da época entre os membros da velha aliança, será que a estratégia - e, por maioria de razão, velha aliança - cedeu perante o resultado?
Em circunstâncias normais, diria que tudo cede perante o resultado, porque, como diria José Mourinho, «o resultado é que faz o espectáculo».
Terá sido assim, no domingo passado?
Em Alvalade, como todos suspeitávamos venceu o elogio recente o desesperado.
Confesso que, durante o jogo, temi que o tempo em que a equipa do Porto corria atrás dos árbitros quando se sentia prejudicada voltasse.
Velhos tempos (sem qualquer graça à velhice do padre eterno) que, afinal, não voltaram.
Uma certeza apenas: a não perder as cenas dos próximos capítulos.
Até porque ainda vamos ver uns a queixarem-se de as reuniões de pais de uma equipa de um escalão de formação dos outros se confundir com uma cimeira da arbitragem portuguesa.
Mas, como isso não se passa no Benfica, «ditosa pátria, que tais filhos tem»!

Filhos e enteados
desconfiávamos. Os outros presidentes, podem dizer tudo o que quiserem, contra o árbitro e tudo à volta. Vale tudo e tudo lhes é permitido.
Quem não pode - sequer - desabafar, depois de um jogo em que o árbitro prejudicou (como já o havia feito anteriormente, em 2 jogos da época passada) o Benfica, é Luís Filipe Vieira.
Uns são corruptos, outros são invejosos, outros são obedientes por não terem cabeça para mais, mas todos eles coincidem num só objectivo: vale tudo, mesmo tudo, para o Benfica não ganhar!
Ele há filhos e enteados!
E depois querem que me cale???"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

3 comentários:

  1. Emocionante!
    O melhor texto que eu já li do Nosso Vice Presidente RGS.
    Obrigado, Companheiro RGS. Muito Obrigado.

    Viva o Benfica!
    (José Albuquerque)

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  2. Gostei dessa da reunião de pais de um clube convertido em cimeira de arbitragem. Inspirado.

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  3. Ah, grande RGS! É assim que se fala! Era assim que eu me atiraria a eles se estivesse no seu lugar. Sem meias palavras, sem renhohós nem medos.

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