"Sei de uma equipa que jogava um futebol desgarrado, feito de cruzamentos sem nexo e de remates com pouco critério. Nos idos de Outubro, para essa equipa, tudo parecia perdido. Até que chegou um puto, 18 anos acabados de fazer, pegou na bola, levou-a em cavalgadas emocionantes meio-campo acima e o que não fazia sentido adquiriu uma coerência que poucos vislumbravam. Em maio, arrastada pela energia contagiante desse número 8, essa equipa sagrava-se campeã, contra todas as expectativas. A equipa era o Benfica e o jogador, Renato Sanches.
Talvez poucas coisas definam de forma tão exacta a ambição desmedida de Renato como uma declaração que li de um ex-treinador seu nas camadas jovens do Benfica. Tendo encontrado o Bulo no Seixal, ainda antes de se estrear na equipa A, perguntou-lhe: "Renato, quando é que vais jogar?" A resposta saiu pronta: "Mister, não sei quando é que vou jogar, mas quando jogar, não saio mais."
Avancemos no tempo. Euro'2016, a Selecção arrasta-se em campo, empata, amarrada a um jogo burocrático. Depois, entra o Renato, e com a inconsciência que o caracteriza, contagia os colegas e a Selecção quase parece outra. O Renato que assume um penálti logo a seguir ao Cristiano, mas, também, o Renato que, como o Cristiano, está sempre de braço erguido a pedir a bola. Ao ponto de, no fabuloso golo contra a Polónia, ter escolhido rematar, em lugar de passar ao Cristiano que, de braço no ar, pedia a bola.
Entrou e não mais vai sair. De tal forma que, hoje, se pode dizer que a Selecção é o Ronaldo, o Renato e mais nove. O melhor que podia ter acontecido a Portugal."
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