sexta-feira, 22 de julho de 2016

Evidências

"Para lá do saboroso triunfo português, o Europeu de França deixou ainda duas evidências difíceis de contrariar. Em primeiro lugar a de que o Futebol tem uma larga componente de aleatoriedade, tantas vezes negada pelos analistas (têm de ganhar a vida...), mas que define campeões. Há ciência na preparação dos atletas, na organização das equipas, e no estudo dos adversários, mas, entre conjuntos equilibrados, é muitas vezes a fortuna que decide. Por mais que nos seja agradável teorizar acerca da superior capacidade dos jogadores nacionais, a verdade é que se aquela bola, aos 91 minutos, se tem aconchegado um ou dois centímetros mais para dentro, estaríamos agora a lamentar nova desilusão portuguesa. Isto é válido para a final, para os penáltis com a Polónia, mas também para o Alemanha-França, para a fase de grupos, para a final da Champions, e para quase todas as grandes decisões futebolísitcas.
Outra evidência é a de que jogar bonito, jogar ao ataque, e empolgar plateias, não interessa nada. Para os puristas do jogo belo isto pode ser um drama. Mas, de entre as várias formas de ganhar finais, o realismo e a contenção parecem ser as preferidas das principais equipas do futebol internacional. É uma tendência que se nota desde 1982, mas talvez nunca como neste Europeu ela tenha estado tão patente.
Aliás, o desporto vive actualmente com um grave problema de falta de espectacularidade, que a médio prazo o poderá matar. Nota-se no Futebol, no Ciclismo, na Fórmula 1, no Ténis, e na generalidade das modalidades, onde o dinheiro abunda na mesma proporção em que o risco e a coragem escasseiam."

Luís Fialho, in O Benfica

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