quarta-feira, 8 de junho de 2016

Apresento-vos o Europeu da minha vida


"Figo, Poborsky, Van Basten, Panenka, Suker: tenho espaço para vocês todos. E quero mais...
O Europeu da minha vida começa no pé direito de Luís Figo. Tantas boas histórias começam assim. Vai com ele até à baliza de Seaman e volta no tempo, até outro pé direito, de Van Basten, lá ao fundo, no impossível. Olho para ele como Dasayev: espantado. Vemos o mesmo, nenhum de nós faz nada.
O Europeu da minha vida prossegue a dois toques. Esquerdo, direito, golo. Gascoigne assina. E volta a voar. Descola a prumo, cai a pique, maldito, na baliza de Baía. Culpa tua Karel, culpa tua.
Como em tudo, há o bom e o mau. Que sentido teria um filme que não tem amargura para dobrar? Arranjo no Europeu da minha vida espaço para o cattenaccio de 68, que até a moeda controlou, e para o catenaccio de 2004, que Charisteas coroou.
Há o que vi e o que os livros de história me disseram. Há Yashin, Schmeichel e Casillas a pedir para parar o massacre. Há Beckenbauer, Rijkaard, Sammer, Gullit. Há o pé direito de Jordão, o esquerdo de Chalana, a cabeça de Costinha e a mão de Abel Xavier.
Da minha praia saio para dominar, como a Dinamarca. Da minha defesa não saio por nada e ganho na mesma, como a Grécia. Sobrevivo e ganho com um golo que vale mais. Que vale ouro. Como Alemanha e França.
No Europeu da minha vida apaixono-me pela República Checa de 2004. Até Dellas. E pela Holanda de 2008. Até Arshavin. Marco no fim como a Turquia. Choro com Ronaldo e tento agarrar Platini para que não marque aos 119. Bebo uma Erdinger com Sérgio Conceição, mostro o peito a Balotelli e corro ao lado de Schmeichel para evitar que Suker humilhe. Nada feito. Acerto em Toldo como qualquer holandês que se preze.
E se for a penáltis, se não tiver Ricardo de mãos despidas, que apareça Panenka a mostrar ao mundo como se entra para a história. Ou Postiga, pode ser. Seja de que forma for, é certo que Inglaterra vai perder. 
Misturo tudo, baralho e volto a dar. Sexta-feira continuo a história, com mais atores do que nunca. 
Confesso: estou ansioso por escrever mais umas linhas. Com Ronaldo, Iniesta, Muller, Bale, Pogba ou até pelas calças de Király. Mas também com aqueles que, agora, pouco conheço e espero que França me apresente.
Que role a bola, então, e que as páginas do Europeu da minha vida tenham mais letras de júbilo, arte e lágrimas.
Se puder ser em português, tanto melhor. Mas, acima de tudo, que se escreva futebol."

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