terça-feira, 19 de abril de 2016

O alegre romance dos golos

"O «derby» (e como tem história essa palavra «derby») entre Benfica e Sporting é escrito a golos. Uns mais importantes; outros menos. Mas muitos. Alguns arrastam consigo episódios inesquecíveis...

O romance dos Benfica-Sporting é um romance de golos. De golos, golos e mais golos. Repare-se.
No período curto de um ano e um mês, de 20 de Janeiro de 1946 e 16 de Fevereiro de 1947, em apenas seis jogos marcaram-se 36 golos.
Foi um exemplo. Como outro qualquer.
Mas dentro desse período curto de um ano e um mês, Benfica e Sporting defrontaram-se três vezes para o Campeonato Nacional, marcando 23 golos.
O romance dos golos.
Sporting, 4 - Benfica, 3
Benfica, 7 - Sporting, 2
Sporting, 6 - Benfica, 1
Golos e golos e golos.
Nove-golos-nove: é como o máximo atingido num Benfica-Sporting. Em qualquer um deles, seja para que competição for, mesmo nos amigáveis.
Houve um 5-4 para o Campeonato Nacional, em 1944.
Houve esse dos 7-2, também para o Campeonato Nacional, em 1946.
Houve outro de 5-4, para a Taça de Portugal, em 1952.
Houve o dos 6-3 para o Campeonato Nacional, em 1994.
Foi de golos que se fizeram os Benficas-Sportings e não de infames zero-a-zero.
No jogo dos 6-3, em Alvalade, no dia 14 de Maio de 1994, João Pinto, ainda no Benfica, assinou um dos mais fantásticos hat-trick que se registaram num Benfica-Sporting.
Hat-trick o truque do chapéu.
Parece que era hábito, na Câmara dos Lordes da velha Inglaterra deixar o chapéu no assento para demonstrar a presença na câmara mesmo apesar da ausência.
Era esse o hat-trick.
Os ingleses transpuseram a expressão primeiro para o Cricket, depois para o Futebol.
Hat-trick: de início não era preciso que se tratasse de três golos. Podiam até ser cinco. Ou apenas um, extraordinário, de meio-campo, ou de pontapé de bicicleta. Enfim, um truque do chapéu.
Depois estabeleceu-se que eram três golos num jogo. Assim ficou.

Nomes a letras douradas...
Os Benficas-Sportings não estão cheios de hat-tricks. Pelo contrário. Quem os assinou, merece ter aqui o nome escrito a letras douradas. E palavra de honra que tê-lo-ia, se tal fosse possível.
O primeiro foi de Espírito Santo, nuns 5-0 do Benfica ao Sporting, no dia 3 de Dezembro de 1939, para o Campeonato de Lisboa.
No ano seguinte, também nas Amoreiras, no dia 3 de Março, o inevitável Peyroteo faz os três golos do Sporting da vitória por 3-1 no campo do rival.
Quem diria? Seria preciso esperar 37 anos para vermos um jogador do Sporting fazer outro hat-trick num derby.
Em 1 de Novembro de 1942, já no Estádio do Campo Grande, era vez de Francisco Pires cometer a proeza na vitória encarnada por 4-1 para o Campeonato de Lisboa.
Mas, a 28 de Abril de 1946, a proeza foi a dobrar. O Benfica recebeu o Sporting no Campo Grande e venceu por 7-2.
Pois sabem vocês qual era o resultado ao intervalo? Zero-a-zero!
Isso mesmo. Zero-a-zero. E, depois, em 39 minutos, explodiu o dique dos golos: nove. Hat-tricks houve dois. De Arsénio e Mário Rui.
E porque foram logo dois, só em 1970, voltaríamos a ter um jogador capaz de fazer três golos num Benfica-Sporting. Vitória por 5-1, na Luz, para o Campeonato Nacional. O homem do truque do chapéu foi Artur Jorge.
Dois anos depois, em Junho de 1972, Eusébio não quis deixar de figurar nesta lista, com os três golos da vitória por 3-2 da final da Taça de Portugal - faria outros três num jogo particular.
Finalmente, gente da camisola às riscas.
Manoel, naquela eliminatória da Taça de Portugal, em Março de 1977, na qual ganhou o nome de MANOOOEL, com uma vitória por 3-0 toda à sua conta, e Jordão, que já fora do Benfica mas, em 1982, vestia a camisola do Sporting e seria o responsável máximo por uma vitória por 3-1 para o Campeonato Nacional, em Alvalade, num jogo que também ficou para os anais pela agressão de Bento a Manuel Fernandes quando tinha a bola agarrada em plena grande-área.
Jordão: poucos terão sido assim grandes com qualquer uma das camisolas.
Durante cinco anos consecutivos melhor marcador do Sporting em todas as competições.
Em 1975/1976 vence «A Bola de Prata» pelo Benfica. Marca 30 golos. Nené marca 29. Os dois marcam mais golos do que toda a equipa do Sporting nesse campeonato (54).
Golos e golos.
O romance dos golos.
Neste caso dos três-golos-três."

Afonso de Melo, in O Benfica

7 comentários:

  1. Respostas
    1. Pois pensei no mesmo!
      Provavelmente vamos ter a 'continuação' na próxima Crónica do Afonso!

      Abraços

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  2. Excelentes, as crónicas do Afonso de Melo que aqui publícas! Leitura obrigatória para quem se interessa pela História do nosso Benfica!
    Esta, ou muito me engano, contém um pequeno erro...os 3 golos que o Manoel nos marcou foram na 1ª jornada do campeonato de 76/77, em Alvalade, num jogo que começou com um grande atraso porque havia espectadores até às linhas do relvado, literalmente!! Foi o ano em que apareceu o Chalana e fomos tri-campeões depois de termos um atraso de 7 ou 8 pontos, numa altura que as vitórias valiam 2 pontos.
    Tinha uma revista da época que contava a história desse campeonato, mas infelizmente já a perdi há mais de 20 anos.
    Abraço

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  3. Excelentes, as crónicas do Afonso de Melo que aqui publícas! Leitura obrigatória para quem se interessa pela História do nosso Benfica!
    Esta, ou muito me engano, contém um pequeno erro...os 3 golos que o Manoel nos marcou foram na 1ª jornada do campeonato de 76/77, em Alvalade, num jogo que começou com um grande atraso porque havia espectadores até às linhas do relvado, literalmente!! Foi o ano em que apareceu o Chalana e fomos tri-campeões depois de termos um atraso de 7 ou 8 pontos, numa altura que as vitórias valiam 2 pontos.
    Tinha uma revista da época que contava a história desse campeonato, mas infelizmente já a perdi há mais de 20 anos.
    Abraço

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    1. Fui verificar, e de facto o Benfica perdeu para o Sporting na 1.ª jornada de 76/77 por 3-0, mas os marcadores foram o Manuel Fernandes, Camilo e Baltasar.

      O Afonso está correcto, nos Oitavos-de-final da Taça 76/77 voltámos a perder por 3-0, com os tais golos do Manoel...

      Mas no final da época, fomos Tricampeões!!!

      Abraços

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    2. Lembrava-me desse jogo da 1ª jornada, mas pensava que era o jogo do Manoel. Não me lembrava que tinha havido jogo de Taça nesse ano e daí a minha confusão.
      Obrigado pela correção e desculpas ao Afonso!

      Por falar em Tricampeões, está na hora de matar esse borrego, já que esse foi o nosso último TRI!!!

      Abraços

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