quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O radicalismo, doença infantil...

"Também no futebol, aqueles que desenham a sua estratégia com base em discursos populistas acabam sempre por ser desmascarados.

Movimentos radicais e antissistémicos, tanto na política...
Dos anos do associativismo académico e das leituras dos anos 70, voltamos a recordar o livro de Lenine A doença infantil do comunismo: o radicalismo de esquerda.
De facto, na política - e para além da tese leninista de combate a quem, então, queria ser mais papista que o Papa - existe uma realidade a que poderemos chamar de movimentos anti sistémicos, que se caracteriza pela sua posição dissidente e subversiva face ao sistema que, em dado momento, impera, tendo por objectivo a imposição de uma ideologia contrária aos princípios instituídos.
Já longe da realidade que preocupava Vladimir Ilitch Ulianov, tais movimentos encontram-se, hoje, alicerçados na conjugação de forças de diferentes grupos políticos, cívicos, associativos, ou de qualquer outra área da sociedade, que convergem no entanto, quanto à sua finalidade: o desejo e a busca pela confrontação ou a mudança face às instituições estabelecidas, o que fazem, ou pelo menos tentam fazer, através de acções ou manifestações de protesto, por forma a conseguirem alcançar alguma notoriedade e posicionamento.
Mas não só: para evitar a marginalização e a falta de relevância política, estes grupos ou movimentos, são levados pela tentação de enveredar por posições radicais.
Por seu turno, à frente de tais movimentos dissidentes, encontram-se pessoas que possuem uma enorme ânsia de poder, cujo grande desiderato é ascender a cargos que lhes concedam o protagonismo que tanto ambicionam.
Contudo, quando finalmente o conseguem, percebem que a posição a que ascenderam (e que tanto ambicionaram) não lhes permite assumir, afinal, tanta relevância.

...como no futebol
Ora, este raciocínio poderá ser transportado, também, para o futebol. É verdade que, para muitos dos que vibram com o desporto-rei, em particular com os clubes que apoiam, esta modalidade desportiva não passa de uma mera paixão, alheada da razão.
Mas o futebol é muito mais que isso. De facto, o futebol também é política. Por essa razão, também no futebol podemos falar em movimentos antissistémicos, dissidentes, que tentam romper com a ordem natural. 
Fazem-no numa tentativa desesperada de trazer para si o protagonismo e à custa de manobras que, para os mais desatentos, podem parecer legítimas e plenas de razão.
No entanto, para quem cá anda há muitos anos, é perceptível que todo o alarido provocado por quem pretende tal protagonismo, mais não é do que uma tentativa de demonstração de uma aparência de poder que tentam ver reconhecida, com recurso a discursos e atitudes populistas e radicais.
Por vezes, quando se percebe que, afinal, não se é tão bom como se pensava, ou quando o sucesso parece cada vez mais difícil de alcançar, é comum surgir um tipo de discurso mais inflamado, de confrontação contra tudo e contra todos, que apenas se poderá explicar pelo receio e pelo sentimento de que a sua própria liderança se encontrará em perigo.
E no futebol (que é o que aqui nos interessa) é possível identificar tais fenómenos quando, por exemplo, a contestação sobe, jogo após jogo, em relação à prestação das equipas de arbitragem - que erram, inevitavelmente, e têm o direito de errar por serem compostas por seres humanos.
Mas não sejamos hipócritas.
Mais uma vez, aqueles que andam atentos facilmente concluem, de uma forma objectiva - sem necessidade de ser grande entendido na matéria - que, com raras excepções (lá nos vem à cabeça o Apito Dourado) as equipas que, de facto, são melhores e conseguem praticar bom futebol de um modo consistente, acabam por ganhar.
E não é porque o árbitro A, B, ou C no jogo X, Y ou Z, marcou ou deixou de marcar aquele penalty ou aquele fora-de-jogo.
E isso, só não vê quem não quer. E se não quer ver, significa que é tão deslumbrado quanto aqueles que o querem fazer acreditar nessa realidade.
Mas não espanta que o façam.
Porque no fundo, o que está em causa é alcançar o sucesso a todo e qualquer custo.
Não importa por que meios, apenas interessa o fim.
Trata-se de um caso de vida ou morte, porque se no final a vitória não for alcançada, então tudo desmoronará num ápice.
Lideranças destas são facilmente desacreditadas quando aquilo que se promete, aos demais seguidores que as sustentam, afinal, não puder ser cumprido.

Cenas dos próximos capítulos
Na verdade, já todos sabemos qual será o próximo capítulo desta história. Citando o ditado popular que diz, e bem, que «tudo que é de mais enjoa», quando já não for coerente, até para aqueles mais deslumbrados, colocar as culpas do insucesso nas exibições do árbitro, então assistiremos, com normalidade, à culpabilização dos que, em tempos, lutaram ao seu lado nesta cruzada contra ao sistema. Refiro-me, obviamente, à estrutura, começando pelos vice-presidentes, continuando pelos directores, depois pelos assessores, até aos treinadores e aos jogadores.
Aliás, nos últimos dias pudemos constatar que alguns já foram apelidados de ingratos e até acusados de, propositadamente, terem causado sérios prejuízos económicos.
Não deverá faltar muito para que as armas sejam apontadas aos que lá estão. Com certeza, serão os próximos visados.
Quem sabe se não serão acusados de falta de brio ou de profissionalismo. No limite, não espantaria ser-lhes atribuído o rótulo de infiltrados e lá colocados por terceiros, com o objectivo de destabilizar e garantir que o tão desejado sucesso desportivo não seja alcançado.
Será por isso que alguns já estarão a preparar o seu futuro, quando em entrevistas a revistas internacionais mostram abertura em abraçar novos projectos?
Acredito que sim.
Até porque os protagonistas dessas entrevistas nunca o fizeram anteriormente. Pelo menos, durante os últimos seis anos...

Há 15 meses
Mas se esses andam por lá há pouco tempo, mesmo para os menos avisados tudo se tornou evidente no início de Novembro de 2014, quando depois de uma derrota pesada, o Facebook se vingou na equipa e começou o processo de intenções contra o então treinador.
Tudo ficou mais claro, num processo sempre em crescendo.
De declaração em declaração, de provocação em provocação, não percebendo que, nestas como noutras coisas,... pela boca morre o peixe!
Há cerca de um ano, lemos declarações que são elucidativas desta nova realidade a que se assiste no futebol português e que representam o tipo de discurso característico de quem se apresenta como a voz da mudança contra o sistema, sem saber que sistema quer ou sequer que isso lhe importe, desde que ganhe... o que é bem mais difícil.
Por ocasião de uma entrevista a um jornal desportivo, quando se falava a propósito de um jogador (que curiosamente, à data da referida entrevista era um dos principais artífices das boas exibições e resultados alcançados, e considerado um pilar da equipa), com contrato até ao final desta época, foi dada a certeza que, caso não se chegasse a acordo para renovar o contrato do jogador em causa, este não sairia... «de borla».
Ora, conforme se poderá constatar pelos mais recentes desenvolvimentos do mercado de transferências que agora encerrou, o tempo é o melhor remédio contra a demagogia.
A promessa em tempos feita por alguém que dizia que o mesmo jogador (que, afinal, acabou mesmo por sair de borla) valerá ouro, como jogará mais e melhor, afinal vai ser cumprida... mas não por quem o prometeu.
Aqui chegados, torna-se inevitável concluir que, tanto no futebol como na política, aqueles que desenham a sua estratégia com base em discursos populistas acabam sempre por ser desmascarados. E quase sempre através dos seus próprios actos ou declarações.
Para que não digam que não estavam avisados!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

3 comentários:

  1. O futebol é vida ou morte... quem não pensa assim tá a mais no apoio e é um tanso do caralho.

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    1. Já eu acho que quem pensa assim está a mais na sociedade.
      Que vá viver para uma gruta.

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    2. Tu lês este artigo e é essa a conclusão que tiras?

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