terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Caminhado na chuva...

"Em 1972, o Benfica defrontou o Derby County no Basebol Ground e perdeu sem apelo nem agravo por 0-3, apesar da qualidade única da equipa de então. No seu livro «Walking on Water», o treinador dos ingleses explicou um dos truques para vencer os 'encarnados'.

Tal como o homem nem só de pão vive, também as grandes equipas não vivem só de vitórias.
Hoje recordarei uma derrota. Com requintes de malvadez.
Brian Clough: foi um dos mais extraordinários treinadores da história do Futebol. Capaz de fazer do pequeno Nottingham Forest campeão de Inglaterra e depois duas vezes vencedor da Taça dos Campeões Europeus.
Em 1972, Brian Clough treinava o Derby County.
Derby: nasceu nas margens do rio Dervent no condado do Derbyshire e tem cerca de 150 mil habitantes. É a cidade da Rolls Royce.
Derby County FC: conhecidos pelo nome de «The Rams» («Os Carneiros»), foi transportado por Brian Clough aos píncaros do Futebol inglês. Esteve em Derby entre 1967 e 1972. Em 1969 conquistou um lugar na primeira divisão de Inglaterra. Em 1971/72 foi campeão!
Agora entre o Benfica na equação.
25 de Outubro de 1972: os 'encarnados' estão em Derby. Vão defrontar o Derby County na primeira mão da segunda eliminatória da Taça dos Campeões. Nem imaginavam o que os espera.
Na sua biografia, «Walking on Water», Brian Clough conta: «Gostávamos de jogar em terrenos macios. Para mim, o relvado não estava suficientemente macio na véspera de recebemos Eusébio e os seus companheiros do Benfica. Sabia que precisávamos de obter todas as vantagens possíveis no jogo em nossa casa. Nunca Brian Clough esteve perto da tanta água! Costumava molhar a relva mais vezes do que era a vontade do nosso tratador. Ninguém sabia disso porque eu trabalhava esse aspecto durante a noite. Tinha todas as chaves do Basebol Ground. Se necessitava de verificar a qualidade da molha ligava os holofotes, mas na noite anterior ao jogo com o Benfica nem sequer foi preciso. Fiz tudo às escuras. Possuíamos dois grandes tanques de água iguais aos que usam os bombeiros. Geralmente despejava-os sobre a relva durante cerca de vinte minutos porque era o que o relvado suportava. Infeliz ou felizmente, nessa noite não foi assim. O representante da UEFA veio questionar-nos como era possível o terreno ter centímetros de lama em certos pontos quando ele não sentira chover durante a noite. Respondi-lhe que era usual caírem grandes tempestades sobre o campo, mesmo que não caíssem sobre o resto da cidade. Era uma das maravilhas da natureza. O truque funcionou. Eu sabia que o Benfica não iria aguentar o ambiente hostil, o estado do relvado e o nosso estilo de jogo. Na segunda mão já não precisámos de tanques de água, apesar do aperto que levámos».
A bruta derrota de Derby
Como diria qualquer cavalheiro inglês, mesmo dado a truques baratos, parecia que tinham chovido gatos e cães sobre o Basebal Ground nessa noite: o Benfica perdeu feio - 0-3 - e não foi além de um 0-0 na segunda mão, no Estádio da Luz.
«O Benfica foi derrotado, sem apelo nem agravo, por um Derby que em anos seguidos saltou da terceira para a primeira divisão: na noite de ontem, em ambiente eufórico mas tremendamente correcto, recebeu pela primeira vez na sua história um grande senhor do Futebol europeu. O Derby, digamos desde já, mostrou fibra e talento de campeão: o seu êxito não sofre, portanto, a menor beliscadura», escrevia o enviado-especial Joaquim Letria.
Eram tempos em que o Benfica de Jimmy Hagan e Eusébio, de José Henrique e Humberto Coelho, de Jaime Graça, Toni, Jordão, Simões, Vítor Baptista e por aí a fora, não se sujeitava a derrotas tão claras.
Nessa noite  Derby não teve contemplações. Deixou os 'encarnados' fora da Europa. Seriam em seguida eliminados pela Juventus com muitas queixas de Brian Clough: «Sempre os mesmos italianos bastardos e batoteiros».
Mas isso foi depois.
Falávamos do Derby County-Benfica afirmou: «Fomos ao Estádio da Luz, um dos lendários palcos do Futebol, e sobrevivemos muito por causa do meu trabalho nocturno»...
No final do encontro Jimmy Hagan entregava-se à desilusão: «Bem sei que o Benfica, certa vez, contra o Celtic, virou um resultado de 0-3, mas considero demasiado difícil neutralizar esta vantagem».
Já Clough estava nas suas sete quintas: «Gostei! Gostei imenso! Para mim, foi o jogo mais educativo a que assisti em toda a minha vida! Extremamente correcto, com uma arbitragem perfeita e sem erros. Passaremos esta eliminatória mesmo que sejamos derrotados por 0-1 ou por 0-2. Se o Benfica não tiver muito cuidado e só se preocupar em atacar até pode perder o jogo em Lisboa».
Não perdeu. Limitou-se a empatar de forma sensaborona.
Brian Clough aliara-se à água para derrotar a águia. Viria a morrer em 20 de Setembro de 2004, com 69 anos.
Há quem diga que nunca gostou de água. Pelo menos como bebida..."

Afonso de Melo, in O Benfica

2 comentários:

  1. Boa noite!

    Passem pelo meu blogue e leiam o meu artigo sobre Renato Sanches e porque o considero a fibra do meio-campo encarnado

    http://davidjosepereira.blogspot.pt/2016/02/renato-sanches-fibra-do-meio-campo.html

    Depois deixem o vosso feedback, é importante para um debate saudável sobre o tema.


    Abraço

    ResponderEliminar

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!