Desta vez Jesus foi longe de mais

"Nunca apreciei demasiado as guerras verbais entre treinadores, mas sempre as entendi como integrando o processo psicológico que também faz parte do jogo. Porém, quando as coisas extravasam para o âmbito pessoal, deixam de ser aceitáveis. Depois do jogo de Setúbal, Jorge Jesus foi para lá do razoável ao afirmar que não considerava que Rui Vitória fosse um treinador, dizendo ainda que lhe faltavam determinados requisitos para ter esse estatuto. Conhecendo o ego de Jesus, antecipo já a sua aversão a dar o braço a torcer; mas tenho para mim - e aqui partilho essa convicção - que o treinador do Sporting ter-se-á arrependido do que disse. Rui Vitória, que chegou à Luz com um currículo melhor do que o de Jorge Jesus quando foi contratado pelo Benfica, não merece ver a sua honorabilidade profissional posta em causa desta forma. Nem Vitória, nem qualquer treinador devidamente habilitado...

Jorge Jesus é um óptimo técnico, fez no Benfica um trabalho que será recordado por muitos anos e está a construir, no Sporting, uma equipa forte, bem orientada e de perfil ganhador. Mas nada disto lhe confere o direito de rebaixar um colega de profissão, a quem deve estar grato pela forma elegante e cavalheiresca como o defendeu depois da final da Taça de Portugal em que o Vitória de Guimarães derrotou o Benfica e a popularidade de Jesus (perdeu tudo, nessa época) junto dos adeptos encarnados andava pelas ruas da amargura. Ficava bem a Jorge Jesus (e aqueles que o admiram, como é o meu caso, apreciariam bastante que o fizesse) aproveitar a conferência de imprensa de amanhã para rectificar o que disse a mais no Bonfim."

José Manuel Delgado, in A Bola