"FC Porto-Benfica foi um razoável jogo, sem jogos florais antes e depois. Estiveram bem os dirigentes dos dois clubes, não poluindo o ambiente. O futebol precisa de acalmia e tal estado de espírito tem que começar por cima. Perdeu o meu clube, apesar de ter jogado melhor do que há um ano em que venceu 2-0. E, de novo, houve os últimos e fatídicos minutos, que parecem já ser uma tradição maldita para o Benfica no Dragão.
Maxi Pereira voltou a jogar mais um clássico. Desta vez, do lado oposto. Como sempre jogou com alma, intensidade e ganas que, ao longo dos anos, têm disfarçado e compensado as suas relativas insuficiências. No jogo, foi-lhe poupada uma expulsão logo no início da segunda parte, que o árbitro não teve coragem de punir naquele ambiente.
No entanto, não é tanto disso que quero aqui escrever. Tem mais a ver com o que, já há tempos, referi: a ingratidão. Maxi Pereira, como excelente profissional, fez o seu jogo. Escusava era de, no final, ter exultado, de uma maneira tão expressiva, com a vitória do seu novo clube e a derrota do seu antigo clube. Afinal sempre foram 8 anos no Benfica. Não sei mesmo se, sem esses 8 anos, o uruguaio teria tido agora a oportunidade de melhorar substancialmente a sua retribuição num novo clube ou se estaria esquecido numa qualquer equipa secundária. Por isso, não questionando o direito-dever de dar o máximo pela nova equipa e de ficar satisfeito com a vitória, não lhe ficaria mal um certo período de nojo na transição. Período que outros jogadores respeitam com galhardia, gratidão e moderação. E até com o silêncio que ele não foi capaz de assegurar."
Bagão Félix, in A Bola