terça-feira, 16 de junho de 2015

O anti-Jesus?

"O maior erro que Rui Vitória podia cometer na sua afirmação como treinador do Benfica seria surgir como o anti-Jesus, alguém que se pretendia afirmar renegando o modelo que foi consolidado nos últimos anos. Por muito que um treinador tenha uma ideia de jogo que deseja imprimir, esta não se pode traduzir numa ruptura radical. Principalmente quando pega numa equipa que vem de campanhas vitoriosas.
Num dos poucos momentos em que foi convidado a falar sobre futebol ontem, Rui Vitória disse isso mesmo. Entre perguntas sobre contratações, confiança, renovações e aposta em jovens, o novo treinador do Benfica lá conseguiu dizer alguma coisa sobre o que pretende fazer futebolisticamente. Na entrevista à Benfica TV sublinhou que não ia 'cortar com o passado', nem 'estragar nada', mas acrescentou uma ideia diferenciadora: 'Vamos trabalhar para ter solução para as diversas competições' e desenvolver 'alternativas tácticas', que tornem o Benfica 'mais versátil'.
Para bom entendedor, estas palavras bastam. Jorge Jesus tem muitas qualidades como treinador, mas o Benfica dos últimos anos tinha também uma debilidade, arriscaria dizer, estrutural. Era uma equipa com um sistema de jogo quase único, com pouca versatilidade táctica: ou apresentava um carrossel atacante estonteante ou sofria a bom sofrer para controlar as partidas. Não por acaso que, contra equipas do seu nível, o Benfica ficou aquém das suas possibilidades (na Champions, mas, também, nos jogos com os principais rivais).
Se Vitória conseguir manter-se fiel a um modelo de jogo de clube grande, atacante e de posse, mas for capaz de acrescentar uma versatilidade táctica que Jesus, de facto, nunca imprimiu, concretizará o que prometeu. Continuará o trabalho feito até aqui, mas juntará uma dimensão que faltou nos últimos anos. Versatilidade é a palavra-chave para continuar o percurso ganhador já iniciado."

Falamos pelo Natal

"Até Mano Menezes, antigo seleccionador do Brasil, em declarações à RTP Informação, estranhou a campanha desajustada, na forma e no tempo, que, num ápice, se generalizou acerca da mudança de Rui Vitória, de Guimarães para a Luz, como se não houvesse vida e clube além de Jesus e renegando-se a carreira relevante, apesar de curta, de quem foi escolhido para o substituir: levou o Paços de Ferreira à final da Taça da Liga e ao serviço do Vitória Sport Clube, em quadro complexo, chegou em duas ocasiões à Liga Europa e conquistou uma Taça de Portugal, feito único na história do emblema vimaranense, em 2013, a 26 de maio, ao vencer o Benfica, por 2-1, em jogo traumatizante para os benfiquistas e que só não determinou o despedimento de Jesus porque Vieira foi capaz de resistir à tentação de decidir por impulso, como deixou entender na cerimónia de apresentação do novo treinador dos encarnados.
Se Vieira tivesse optado pela não prorrogação contratual, como se esperava, muito provavelmente Jesus não passaria de um actor vulgar, daqueles que não conseguem agarrar as oportunidades, pois, à data, no quarto ano de contrato, só apresentava um Campeonato no currículo, precisamente na época de estreia, com uma equipazinha que tinha Aimar, Saviola, Di María, Ramires, David Luiz, Javi García e por aí fora. Na seguinte, ficou a 21 pontos do FC Porto, que festejou na Luz o título, e em 2012 e 2013 quem se divertiu foi Vítor Pereira, o adjunto de Villas Boas, que em dois anos foi por duas vezes campeão nacional: eficácia total.
Prudência, portanto, na avaliação de méritos porque o futebol é assim, imprevisível e... traiçoeiro. O Jesus actual pode valer o peso em ouro e terá sido por isso que Bruno de Carvalho apostou nele, mas há dois anos a sua cotação andava pelas ruas da amargura, motivo por que alguma comparação que se pretenda estabelecer, por uma questão de coerência, deva cingir-se ao ponto de partida e não propor medições de conveniência, em que se extrai de um dos lados o que dá jeito para embaciar a imagem do outro que, como se percebe, nada tem para contrapor...
Creio que a herança de Rui Vitória é muito menos pesada do que se apregoa. Como Luís Filipe Vieira destacou na sua intervenção ontem, findou um ciclo, que lhe mereceu palavras de agradecimento e inicia-se outro com o firme propósito de abraçar o futuro e de pôr todo o edifício futebolístico da águia a falar a uma só voz, tendo recordado que o Benfica alcançou conquistas importantes nos últimos tempos, mas uma há que se destaca de todas as outras, a da união...
Não vale a pena alimentar mais discussões no sentido de tentar adivinhar o que poderá reservar o próximo campeonato. Sugiro que se espere pelo Natal para mais rigoroso exame em função das classificações e por, nessa altura, ser possível avaliar a saúde dos clubes portugueses nas competições da UEFA.
Bruno de Carvalho é o que ficou com a encomenda mais difícil de desembrulhar. Porquê? Jesus, com o contrato milionário que o Sporting lhe ofereceu e as garantias de recebimento que deve ter acautelado, sente-se tranquilo por ser o primeiro ano em Alvalade (adaptação à casa nova) e por não aceitar que lhe exijam títulos sem jogadores com qualidade para tal; e sabe-se como ele é caprichoso nessa matéria. Se correr bem, os aplausos vão para o treinador; se correr mal, o problema passa a ser do presidente, com perigo de colapso da estrutura...
Pinto da Costa, por seu lado, carrega o estigma de fracassar há duas temporadas e pode pagar pela teimosia em manter Lopetegui no comando técnico do FC Porto. A verdade, porém, é que o treinador basco, mau feitio à parte, revelou personalidade e conhecimentos que justificam segunda apreciação.
Luís Filipe Vieira, dos três, é o mais despreocupado: o Benfica é campeão de futebol, domina no universo do desporto português (basquetebol, atletismo, futsal, hóquei em patins e voleibol; apenas lhe escapou o andebol) e, como referiu, «com estratégia, organização e competência, de certeza que os resultados aparecem». Por isso, Jesus é passado e Vitória é presente que vai ligar ao futuro..."

Fernando Guerra, in A Bola

Vitória com os pés no chão

"Tranquilo, confiante e obviamente bem-disposto. O primeiro retrato de Rui Vitória como treinador do Benfica acentuou os traços da sua personalidade e que o fizeram encarar o momento solene da apresentação com evidente naturalidade mas também com enorme sentido de responsabilidade. 'Se há coisa que não sou é tonto', afirmou, a dado passo, durante a conferência de imprensa, e se a frase foi dita num determinado contexto (no caso, respondendo a uma questão sobre as oportunidades a dar aos jovens) a verdade é que se aplica muito bem a Vitória.
Das respostas do treinador, ficam vários (e bons) 'sound bites', sendo incontornável aquele que abriu noticiários e perdurou nas primeiras páginas dos 'sites': 'Darei a vida por este clube.' Rui Vitória preparou-se uma carreira inteira para chegar à sua cadeira de sonho e, portanto, não está minimamente inseguro em relação ao desafio que tem pela frente. O desafio é enorme? É. Mas se o Benfica pode deixar Vitória nas nuvens, a verdade é que o treinador não tirou os pés do chão neste primeiro dia de águia ao peito.
Sem medo do passado e muito menos do futuro, Vitória assumiu a herança de Jesus com vontade de a enriquecer. Marcou, contudo, diferenças nalguns aspectos: não prometeu títulos; abriu a porta aos produtos da formação; admitiu um Benfica mais versátil do ponto de vista táctico e falou quase sempre na terceira pessoa do plural.
Objectivos também ficaram traçados: conquistar o tri e fazer melhor na Champions. Aí, a palavra dada por Vieira terá peso determinante. Tratando publicamente o treinador por tu, o líder encarnado garantiu que Vitória terá equipa competitiva. Virão por certo mais reforços."

Vitória & Vitória

"O Romário, o Romário que nasceu na miséria da favela do Jacarezinho e agora é senador, não é só a memória na relva daquele encanto que o Galeano pôs em poesia:
- Vindo sabe-se lá de que região do ar, o tigre aparecia, desferia o golpe com as garras abertas e esfumava-se e o guarda-redes, apanhado na sua jaula, não tinha nem tempo de pestanejar...
é também o frasista tão notável como o tigre que era - e que uma vez disse:
- Treinador bom é treinador que não atrapalha!
Porém, ainda melhor frasista é o Valdano - que contou que perguntando a um técnico esperto e experimentado o que é que os dirigentes querem quando contratam um treinador, recebeu dele, em resposta, fulminante e cínico:
- Querem que lhes mintam!
Não, nem todos os dirigentes (ou nem sempre...) querem que o treinador lhes minta, lhes dê só o sonho de acreditarem que o futuro pode ser o paraíso num castelo de ilusões. Luís Filipe Vieira não quis - e fez o que fez, sem ceder à tentação emocional dum impulso ao jeito de olho por olho, dente por dente o Marco Silva...
E fê-lo bem. Porque Rui Vitória não é só treinador bom por ser dos que não atrapalham, é treinador bom por não ser dos treinadores que são bons a atiçar delírios - é bom por outras coisas. Por juntar na mesma personalidade a inteligência, a esperteza, a criatividade e o destemor - e ter bons fígados e melhor carácter. Por viver interessado em aprender para além do que sabe - e saber que no futebol o pior cego é o que só vê a bola ou a táctica. Por não ser colérico e irritadiço - e não ter medo de riscos ou fantasmas. Por ser sensível a emoções e lealdades - mais do que a si próprio e a caprichos. Por não se perder na petulância de ter na cabeça um deus em nome próprio - e não se preocupar mais como seu ego do que com o resto. Por tudo isso é que no paradigma deste novo Benfica melhor do que ele era impossível e sendo o Vitória o treinador a vitória é de Vieira- cada vez mais à Pinto da Costa..."

António Simões, in A Bola

PS: Esta coluna termina com um suposto a Vieira!!! Comparando-o 'positivamente' com o Pintinho... Está gente não aprende, continua a confundir a xico-espertice do trafulha, com competência...!!!

Cultura de exigência

"É dos mais novos treinadores a ser campeão de futsal em Portugal. Joel Rocha, aos 33 anos, encheu de alegria milhares de benfiquistas com a conquista do título, fazendo uma abordagem diferente quando contextualiza as suas ideias sobre a modalidade em Portugal. A nova vaga de treinadores portugueses, a que se junta Nuno Dias, do Sporting, acrescenta um discurso interessante, bem sustentado, equilibrado e que soa bem ao ouvido.
A cultura de exigência não foi adquirida no Benfica. Quando o ano passado estava à frente do Fundão, levando o clube à conquista da Taça de Portugal, Joel Rocha encheu o coração dos jogadores da Beira Interior. 'Todos os jogos são do nosso campeonato', repetiu várias vezes o técnico. Frases que fizeram todo o sentido e que tiveram o efeito prático com a envolvência da equipa a ser um quebra-cabeças quando defrontava os chamados grandes.
Não demorou muito tempo a que o Benfica fizesse uma proposta tentadora. Sem qualquer tipo de receio, o desafio era muito maior que a zona de conforto. E para quem nunca foi um praticante de excelência, a paixão pelo treino e por todo o envolvimento das suas componentes pedagógicas falou mais alto. A experiência que teve como técnico de uma equipa feminina de futsal e o facto de ter sido professor de educação física numa escola referenciada numa zona bastante problemática em Lisboa terão ajudado a construir as paredes mestras como formador de jovens.
A cultura de exigência preconizada pelo Benfica - e que tem sido consolidada nos últimos anos - também tem possibilitado novas experiências para os seus responsáveis técnicos. Já lá vai o tempo em que os dirigentes aprovavam contratações avulsas, mas nessa altura não havia sequer o devido enquadramento técnico. Agora, as responsabilidades são outras e este conceito também se aplica tanto ao Sporting como ao FC Porto. O problema é saber chegar ao sucesso reduzindo a margem de erro. E para que isso seja uma realidade os clubes têm de falar a mesma linguagem nos mais diversos escalões. No fundo, quem tiver mais dinheiro está mais perto de ter sucesso, mas se o treinador não conseguir gerir os egos ao longo da temporada arrisca-se a não fazer parte da história."

A nova fronteira de Rui Vitória

"Rui Vitória foi, enfim, oficialmente apresentado como treinador do Benfica. Cerimónia curta e simples, embora digna, como seria aconselhável para um evento que não trazia impacto pela novidade. Importante assinalar o discurso responsável e pleno de maturidade do novo treinador. Satisfação sem euforias, optimismo sem promessas vãs, afirmação de uma linha de aproveitamento de jogadores jovens, mas sem fundamentalismos.
Não menos importante e interessante o discurso de Luís Filipe Vieira. Pelo lado quase intimista que procurou usar, numa mensagem de «bom regresso a casa» a um treinador que já trabalhou nos escalões jovens do clube e, acima de tudo, pela dimensão elevada e pela dignidade como agradeceu a Jorge Jesus os méritos na ajuda ao crescimento dos últimos seis anos do Benfica.
Pode pois dizer-se que a apresentação de Rui Vitória foi injustificadamente tardia, mas teve a compensação de declarações inteligentes e bem ponderadas dos principais protagonistas. A partir de agora, Rui Vitória entrará numa nova e especial fase da sua prometedora carreira. Na geração dos jovens treinadores portugueses, Vitória será um dos que têm tido resultados de sucesso mais consistente, sem nunca ter mostrado qualquer ambição mediática. O Vitória de Guimarães, onde fez, de facto, um trabalho notável, trouxe-lhe um patamar de clube médio, mas exigente. Surge, agora, o Benfica e Rui Vitória sabe que isso significa que a fasquia sobe muito, sobretudo ao nível da pressão do dia a dia. É a fronteira que todos os grandes treinadores têm de saber passar."

Vítor Serpa, in A Bola

... ainda o Futsal !!!

A ESPN Brasil esteve em Lisboa para fazer umas reportagens sobre o Benfica e Sporting. Vejamos como são vistos Benfica e Sporting pelos olhos brasileiros.

Posted by Jarbas on Terça-feira, 16 de Junho de 2015