terça-feira, 16 de junho de 2015

Falamos pelo Natal

"Até Mano Menezes, antigo seleccionador do Brasil, em declarações à RTP Informação, estranhou a campanha desajustada, na forma e no tempo, que, num ápice, se generalizou acerca da mudança de Rui Vitória, de Guimarães para a Luz, como se não houvesse vida e clube além de Jesus e renegando-se a carreira relevante, apesar de curta, de quem foi escolhido para o substituir: levou o Paços de Ferreira à final da Taça da Liga e ao serviço do Vitória Sport Clube, em quadro complexo, chegou em duas ocasiões à Liga Europa e conquistou uma Taça de Portugal, feito único na história do emblema vimaranense, em 2013, a 26 de maio, ao vencer o Benfica, por 2-1, em jogo traumatizante para os benfiquistas e que só não determinou o despedimento de Jesus porque Vieira foi capaz de resistir à tentação de decidir por impulso, como deixou entender na cerimónia de apresentação do novo treinador dos encarnados.
Se Vieira tivesse optado pela não prorrogação contratual, como se esperava, muito provavelmente Jesus não passaria de um actor vulgar, daqueles que não conseguem agarrar as oportunidades, pois, à data, no quarto ano de contrato, só apresentava um Campeonato no currículo, precisamente na época de estreia, com uma equipazinha que tinha Aimar, Saviola, Di María, Ramires, David Luiz, Javi García e por aí fora. Na seguinte, ficou a 21 pontos do FC Porto, que festejou na Luz o título, e em 2012 e 2013 quem se divertiu foi Vítor Pereira, o adjunto de Villas Boas, que em dois anos foi por duas vezes campeão nacional: eficácia total.
Prudência, portanto, na avaliação de méritos porque o futebol é assim, imprevisível e... traiçoeiro. O Jesus actual pode valer o peso em ouro e terá sido por isso que Bruno de Carvalho apostou nele, mas há dois anos a sua cotação andava pelas ruas da amargura, motivo por que alguma comparação que se pretenda estabelecer, por uma questão de coerência, deva cingir-se ao ponto de partida e não propor medições de conveniência, em que se extrai de um dos lados o que dá jeito para embaciar a imagem do outro que, como se percebe, nada tem para contrapor...
Creio que a herança de Rui Vitória é muito menos pesada do que se apregoa. Como Luís Filipe Vieira destacou na sua intervenção ontem, findou um ciclo, que lhe mereceu palavras de agradecimento e inicia-se outro com o firme propósito de abraçar o futuro e de pôr todo o edifício futebolístico da águia a falar a uma só voz, tendo recordado que o Benfica alcançou conquistas importantes nos últimos tempos, mas uma há que se destaca de todas as outras, a da união...
Não vale a pena alimentar mais discussões no sentido de tentar adivinhar o que poderá reservar o próximo campeonato. Sugiro que se espere pelo Natal para mais rigoroso exame em função das classificações e por, nessa altura, ser possível avaliar a saúde dos clubes portugueses nas competições da UEFA.
Bruno de Carvalho é o que ficou com a encomenda mais difícil de desembrulhar. Porquê? Jesus, com o contrato milionário que o Sporting lhe ofereceu e as garantias de recebimento que deve ter acautelado, sente-se tranquilo por ser o primeiro ano em Alvalade (adaptação à casa nova) e por não aceitar que lhe exijam títulos sem jogadores com qualidade para tal; e sabe-se como ele é caprichoso nessa matéria. Se correr bem, os aplausos vão para o treinador; se correr mal, o problema passa a ser do presidente, com perigo de colapso da estrutura...
Pinto da Costa, por seu lado, carrega o estigma de fracassar há duas temporadas e pode pagar pela teimosia em manter Lopetegui no comando técnico do FC Porto. A verdade, porém, é que o treinador basco, mau feitio à parte, revelou personalidade e conhecimentos que justificam segunda apreciação.
Luís Filipe Vieira, dos três, é o mais despreocupado: o Benfica é campeão de futebol, domina no universo do desporto português (basquetebol, atletismo, futsal, hóquei em patins e voleibol; apenas lhe escapou o andebol) e, como referiu, «com estratégia, organização e competência, de certeza que os resultados aparecem». Por isso, Jesus é passado e Vitória é presente que vai ligar ao futuro..."

Fernando Guerra, in A Bola

1 comentário:

  1. Olha, o Fernando Guerra a dizer bem do Vieira. Não estava nada à espera...

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