quarta-feira, 27 de maio de 2015

E agora, Jorge Jesus?

"Numa breve recordatória não exaustiva, enumero dezasseis jogadores do Benfica que, durante estes 6 anos com Jorge Jesus, singraram na equipa e saíram por valores assinaláveis ou terminaram em grande as suas carreiras no clube: Fábio Coentrão, Di Maria, Ramires, David Luiz, Javi García, Saviola, Pablo Aimar, Witsel, Matic, Cardozo, Garay, André Gomes, Rodrigo, Siqueira, Oblak, Bernardo Silva e Enzo Pérez. É obra!
Se a estes juntarmos o Luisão 34 (anos) melhor que o Luisão 28, o Maxi Pereira 30 (anos) melhor que o Maxi Pereira, 24, o artista Gaitán, o novo e estável Jardel, a ressurreição futebolística de Jonas e Júlio César, o virtuoso Salvio, a capacidade de Lima (que não teve sequer um cartão amarelo esta época), a transformação (a prosseguir) de Talisca e Pizzi, a utilíssima polivalência de Rúben Amorim e de André Almeida, a adaptação de Samaris e a reabilitação de Fejsa, podemos ver uma parte significativa do que tem sido o trabalho de Jorge Jesus e sua equipa nestes 6 anos.
Claro que o presidente Luís Filipe Vieira lhe deu condições como nunca houve, num investimento criterioso e com elevado retorno desportivo e financeiro. Por isso, custa-me interpretar o mediatismo de 'Jorge sai, Jesus fica' ou vice-versa. Espero que, depois da final da Taça da Liga, haja fumo... encarnado. Jorge Jesus dificilmente terá um outro clube estrangeiro (por cá, só lérias) com o carisma e o sentimento e orgulho de pertença como o SLB. Quanto aos sempre tão falados quatro milhões, basta fazer a conta ao que o clube ganhou com a valorização de jogadores modelados por Jesus."

Bagão Félix, in A Bola

Treinador certo

No clube certo.
Leio sobre o braço de ferro entre o Benfica e Jorge Jesus por causa de um milhão de euros anuais, e posso percebê-lo: a boa gestão exige cuidado com cada cêntimo e os tempos que esperam o futebol português são um desafio como há muito ele não experimentava. Não obstante, há um momento de semear, um momento de colher e outro de semear de novo. Em nenhum outro ano a acção do treinador foi tão decisiva no êxito do Benfica de Vieira como neste. Foi Jesus quem ganhou este campeonato. Talvez Lopetegui o tenha perdido também. Mas não foi o presidente do Benfica, nem o director desportivo, nem o médico, nem o empresário X ou Y quem o ganhou: foi Jorge Jesus. Para além de Portugal, os treinadores portugueses foram este ano campeões na Suíça, em Inglaterra, na Rússia e na Grécia. Eu pergunto: com algum deles - a não ser talvez Mourinho, mas esse foi tocado pela Graça - o Benfica teria as mesmas garantias que tem, logo à partida, com Jesus? Não creio. Jesus é o treinador certo para o Benfica. E o Benfica é o clube certo para Jesus, porque não será fácil a Jesus trabalhar com sucesso em qualquer outro país com as suas limitações de expressão e as suas dificuldades de relacionamento social. É um par decidido no céu. Tolice será não continuar.

NORTE PARA SEMPRE
Um rali para recordar
É fantástico registar o triunfo do Rali de Portugal. De resto, está feito o diagnóstico diferencial: saia do Norte e voltará a ser apenas mais um."

Joel Neto, in O Jogo

Cheira a Lisboa, cheira a título

"Benfica favorito em Coimbra, Sporting favorito no Jamor: Lisboa pode açambarcar os quatro troféus da época em temporada alegre para o Belenenses. O futebol da capital recupera força.

A Lisboa do futebol vive dias felizes. O Benfica tem andado de festa em festa desde Maio do ano passado. O Sporting pode fazer uma grande festa no próximo Domingo. E o Belenenses também tem motivos para sorrir: no último sábado assegurou o regresso às competições europeias, onde não punha o pé há sete longos anos, que é precisamente o tempo do jejum de títulos que os sportinguistas esperam ver terminado no Jamor. Se a lógica prevalecer e os favoritos fizerem valer a lei do mais forte nas final da Taça da Liga (sexta) e da Taça de Portugal (domingo), é muito natural que Lisboa faça mais duas festas.
Depois de amanhã, o bicampeão joga a final da sua competição fétiche com o Marítimo. Em sete edições da Taça da Liga, os benfiquistas conquistaram cinco e chegam a Coimbra com um registo esmagador: 33 jogos consecutivos sem perder nesta prova (última e única derrota: 1-2 em Setúbal a 20 de Outubro 2007) e dez jogos seguidos (951 minutos) sem sofrer qualquer golo. Uma barbaridade. É este o tamanho da montanha que o Marítimo tem de escalar. Tudo parece jogar contra a equipa insular, desde a multidão encarnada no estádio Cidade de Coimbra contra a meia dúzia de adeptos maritimistas; sem esquecer a enorme diferença de potencial sugerida pela recente goleada na Luz (4-1 que era 5-1). Se o Benfica vencer o Marítimo conquista um sexto título consecutivo (por ordem, desde Maio de 2014: Campeonato, Taça da Liga, Taça de Portugal; Supertaça, Campeonato, Taça da Liga), melhorando uma sequência recorde que tem fim marcado para 18h 45 de Domingo no Jamor - quando Sporting ou SC Braga ganharem a Taça de Portugal. O FC Porto conquistou vários vezes quatro títulos seguidos (última ocasião: 2011), mas nunca passou daí. O Sporting ganhou quatro títulos consecutivos uma única vez, entre 1946 e 1949. O Benfica vai com cinco e pode chegar aos seis - mais um recorde para creditar na conta de Jesus.
O último título leonino remonta a Agosto de 2008 (quase sete anos) e a nação verde e branca espera que a final do Jamor seja a da retoma. Lembro-me bem, porque estive lá, da única final entre Sporting e Braga, em 1982, no Jamor. O impagável Malcolm Allison (inglês) era o treinador dos leões e Quinito, treinador bracarense, compareceu de smoking branco, todo catita. O Sporting arrasou (4-0) graças à qualidade do seu maravilhoso tridente ofensivo (Manuel Fernandes - Jordão - António Oliveira) e Allison haveria de contar-me muitos anos depois, numa entrevista que lhe fiz em Newcastle, que a coisa que lhe tinha mais trabalho (naquela equipa) foi compatibilizar os feitios - os egos... - de Jordão e Oliveira no quadro do tal tridente em prol do qual, reconheceu Allison, Manuel Fernandes (o mais fácil de lidar dos três e aquele que Big Mal mais admirava...) terá sido algumas vezes prejudicado.
Como o Benfica em Coimbra, o Sporting parte claramente favorito. Porque tem melhores jogadores que o Braga, porque deu banho de 18 pontos ao adversário no campeonato, porque venceu os confrontos directos, tanto na Pedreira (1-0) como, há dias, em Alvalade (4-1). Porque terá sensivelmente o dobro de adeptos a apoiá-lo no Jamor. Tudo isto é verdade mas, atenção!: se Sérgio Conceição conseguir enganar Marco Silva bem se pode dizer que o SC Braga será um mais que justíssimo vencedor da Taça de Portugal, tendo em conta a dificuldade de uma campanha que meteu vitórias sensacionais em Guimarães (2-1), na Luz (2-1) e uma goleada histórica ao Belenenses na Pedreira (7-1).
Se Benfica e Sporting ganharem as finais, Lisboa fecha o exercício em glória: açambarca os quatro títulos em disputa (Benfica: três; Sporting: um) na época em que o bom velho Belém volta à Europa. Mas só os que começaram a ver futebol na era portista podem pensar que esta é uma proeza inédita. Desenganem-se. O futebol lisboeta tem recordes imbatíveis. Por exemplo: entre Julho de 1940 e Maio de 1956 (16 anos, portanto) os três clubes de Lisboa ganharam todos os 29 títulos em disputa (Sporting: 14; Benfica: 13; Belenenses: 2). Até que o Porto de Dorival Yustrich (dobradinha) acabou com o massacre. Mais tarde, entre Maio de 1969 e Junho de 1975, Benfica (8) e Sporting (5) ganharam 13 títulos de enfiada, sequência interrompida pelo Boavistão de José Maria Pedroto em pleno Verão quente.
(...)"

João Bonzinho, in A Bola

Campeão?

"Discussão animada dos últimos dias: Jorge Jesus pecou ao não dar um só minuto na Liga a Paulo Lopes? Culpado - eis o veredicto do tribunal das redes sociais.
Objectivamente, aquilo a que pomposamente se chama agora gestão de recursos humanos foi deficiente. O treinador convocou três futebolistas para quem um segundo em campo representaria inscrição oficial no livro de campeões (Paulo Lopes, Sílvio e Mukhtar), num sinal claro de que contava premiá-los pelo trabalho feito ao longo do ano.
Ao intervalo, no entanto, assinou a sentença de morte do sonho de um deles, ao fazer entrar Talisca para o lugar de Pizzi. Como Sílvio entrou pouco depois, ficaram a aquecer Paulo Lopes e Mukhtar. Lopes seria, provavelmente, a escolha seguinte, mas a lesão de Salvio levou Jesus a mandar entrar o jovem Mukhtar, para desespero do veterano guarda-redes.
Se a vida fosse um filme, o da época de Paulo Lopes seria um filme francês. Por outras palavras, o oposto das produções de Hollywood em que tudo acaba bem. Para Paulo Lopes, as cenas finais foram de desespero. Um dia, os netos dirão: o meu avô também foi campeão em 2014/15 e os amigos irão aos livros e dirão que é mentira. Aqui chegados, olhemos para o paradoxo: um futebolista que faça uma só partida, que nesta a sua equipa perca graças a um autogolo seu e ainda seja expulso é, para a história, um campeão. Paulo Lopes, que todo o ano trabalhou com os campeões - e com o seu trabalho os terá ajudado a melhorar - não. Obviamente, é nonsense. Paulo Lopes é campeão, sim, mesmo que Jesus não o tenha deixado assinar o livro de honra.

PS: Um chefe não tem de ser simpático, apenas justo. Jesus foi insensível, mas também coerente. Quem o conhece sabe que jamais poria a felicidade de um jogador à frente de uma vitória. Mesmo que em jogo a feijões."

Nuno Perestrelo, in A Bola

Jesus tatuado

"Pinto da Costa nunca deixou que o perfil de um treinador se lhe colasse à pele. Vieira, pelo contrário, já tem tatuada em toda a sua história a silhueta de Jesus. Não é agora, seis anos depois, que Vieira poderá apagar as marcas de uma relação demasiado cerrada, para o bem ou para o mal. Este ano foi o bicampeonato. Pinto da Costa já saiu da toca do silêncio para defender o treinador que lhe assegura o acesso ao segundo mercado espanhol.
Da mesma forma que, no passado, apontei o erro de manter Jesus, pelo risco de deixar de se discernir onde acaba o mérito de uma estrutura eficaz e começam os milagres de um treinador a longo prazo, não posso deixar de sublinhar que seria um risco desnecessário deixar Jesus sair agora, por uma diferença absurda de algumas centenas de milhares de euros.
O deserto de vitórias deste ano, e a agonia da mística criada nas últimas décadas, deixaram o presidente do FC Porto à beira do abismo. Com um terceiro título consecutivo para o Benfica, Pinto da Costa dará o derradeiro passo em frente.
Irá Vieira pôr em risco essa oportunidade de ouro, em ano de eleições no clube da Luz?

P.S. - O Real Madrid despachou mais um treinador competente, depois de uma época em que nada ganhou. Desde há muito que este clube imperial acha que um punhado de estrelas faz uma equipa. Não faz. Felizmente para a metáfora que a vida faz do futebol. Quando a avidez exagera a carga de estrelas em campo, a constelação cria um buraco negro que suga a vontade colectiva de vitórias. Assim foi quando Beckham tornou exagerada a sorte de ter Figo e Zidane. Assim é quando uma equipa de futebol gira em torno de uma alma de tenista, que habita Cristiano Ronaldo."

Vieira-Jesus a dupla de êxitos

"Ressurreição do futebol benfiquista - 2 títulos consecutivos, 3 nos 6 anos da era Jorge Jesus - significa forte travagem à vincadíssima hegemonia do FC Porto ao longo de três décadas. Nem menos nem mais. Primeiro pilar: Luís Filipe Vieira. Na sequência da coragem, roçando 'heroísmo', de Manuel Vilarinho para enfrentar hecatombe Vale e Azevedo e pôr-lhe fim - e da lucidez que Vilarinho também exibiu no tempo e no modo de passar testemunho -, Luís Filipe Vieira e a equipa de dirigentes que foi moldando sem esquecer profissionalismo reergueram o Benfica dos escombros de tremenda catástrofe. Hoje, o Benfica vence no futebol e em várias modalidades. Gigantesca diferença!
Vieira soube ir aprendendo com os seus erros no futebol. Fortes exemplos: desmedido, precipitadíssimo, entusiasmo face ao título com Trapattoni ao leme (na época em que o FC Porto tombou no suicídio de ter 4 treinadores...); e cedência a altas pressões, despedindo Fernando Santos à 1.ª jornada! Pés no chão, Camacho e Quique Flores para trás, Vieira acertou em cheio quando decidiu sozinho, ou quase...: Jorge Jesus. Deu-lhe superiores meios, teve enorme retorno. Mau grado 'descalçá-lo' com súbitas vendas no início de campeonato (Javi García-Witsel), ou a meio dele (David Luiz, Matic, Enzo Pérez). Fundamental: foi Vieira, sozinho contra ventos e marés, quem, há 2 anos, manteve Jorge Jesus ao leme...
O futebol do Benfica não estaria onde está sem Jorge Jesus. Sobretudo nesta época, após perder 8 campeões!... Síntese da dupla Vieira-Jesus: 3 títulos e outros 3 discutidos taco a taco = firme consistência competitiva. Há 30 anos que isso não existia no Benfica...
Falta ver se a dupla do sucesso irá, ou não, romper-se."

Santos Neves, in A Bola

Centralizar os direitos televisivos no futebol é solução?

"Perdoem-me a eventual arrogância e o evidente cepticismo, mas, por vezes, dá-me a impressão que, em Portugal, se privilegia a busca por soluções miraculosas, ao invés de se investir tempo e dinheiro na definição e implementação de estratégias que corrijam os males que assolam o nosso país. No desporto, um sector caracterizado pela clubite e a emoção que a ela está associada, é onde mais claramente se nota esta postura na abordagem aos problemas. A miopia do curto prazo prevalece, sem que se tente medir as consequências de medidas avulsas e conjunturais. 'Quem vier atrás que feche a porta' parece ser a regra que norteia grande parte dos decisores.
Serve esta introdução para manifestar a minha perplexidade perante a discussão sobre a centralização da exploração dos direitos televisivos no futebol português. E já dou de barato que esta tenha surgido, coincidentemente, quando ficou demonstrado o sucesso da BTV - o que concede legítimas expectativas ao Porto Canal e Sporting TV, pondo em causa a situação, até então, relativamente monopolista da SportTV.
De repente, como se descobriu a pólvora e o actual modelo, em que os clubes negoceiam individualmente os direitos, é apontado como o constrangimento principal à sua viabilidade. Esta teoria, que conta com o apoio implícito de fazedores de opinião mais preocupados com a vaga de fundo que com o problema em si e com uma comunicação social especializada pouco propensa a ir até ao âmago das questões, peca por ser simplista e, se desacompanhada de alterações profundas nos alicerces que sustentam o sector, inócua ou, até, prejudicial.
Diz-se que o principal problema do futebol português é a falta de competitividade. Dito assim, e uma vez que os títulos são, invariavelmente, conquistados por apenas dois clubes, o SL Benfica e o FC Porto, parece fazer sentido. Afirma-se, também, que a redistribuição mais equitativa das receitas geradas pela venda dos direitos de transmissão televisiva contribuirá para um suposto aumento de competitividade. No papel, parece fazer sentido. E, como consequência, esse incremento tornará o produto mais apetecível, criando um efeito potenciador de mais receitas para os clubes devido a um suposto mais interesse do público e ao encanto 'instantâneo' que os mercados estrangeiros terão pelo nosso futebol. Parece tão evidente que custa a acreditar que não ocorra já... Discordo desta visão e julgo que é necessária alguma cautela na avaliação da existência, ou não, dos benefícios de uma alteração desta envergadura.
Em primeiro lugar, cumpre-me questionar o que é a tão referida falta de competitividade do futebol português. Nos países modelo, no que à centralização da exploração dos direitos televisivos diz respeito, a Alemanha e Inglaterra, é um erro julgar-se que há a tal competitividade nas suas ligas. Na Alemanha, o Bayern Munique conquistou 12 das últimas 19 edições da Bundesliga e, em Inglaterra, o Manchester United foi campeão em 13 das últimas 23 temporadas da Premier League. Por terras germânicas, o poderio da equipa bávara é, normalmente contestado pelo Borussia Dortmund e, na prova inglesa, só o investimento avultado de multimilionários provenientes do Leste Europeu e do Médio Oriente criou novos candidatos e vencedores para além dos tradicionais e populares Arsenal e Liverpool. Acresce que qualquer dos clubes campeões nestes países o conseguiram, a julgar pela distância pontual obtida e pelas jornadas por disputar no momento em que venceram o título, com relativa facilidade. Se alargarmos a incidência da análise a um contexto europeu, verificamos que Portugal conta com a presença de três clubes na Liga dos Campeões e de um total de seis nas provas europeias, o que, apesar da ausência habitual da fases decisivas da principal competição europeia, desmente a propalada falta de competitividade.
Desmontado o argumento da competitividade, parto para o da sustentabilidade. A simples comparação demográfica entre Portugal e os países referidos deita por terra qualquer relação que se sente estabelecer. O mesmo se aplica aos restantes países cujas ligas são, em diversos aspectos, melhores que a portuguesa: Espanha, França e Itália. Em suma, estes mercados são maiores que o português. E gozam de maior poder de compra. Além disso, beneficiam de um fenómeno inexistente em Portugal que dificilmente, salvo raras excepções ocorrerá no nosso país: os clubes cidade. O Vitória de Guimarães e, em menor medida, o SC Braga são, porventura, os únicos clubes portugueses que conseguem no presente, transferir o sentimento de pertença dos cidadãos à localidade onde residem para a preferência clubista, à semelhança do que a Académica e o Vitória de Setúbal alcançaram, no passado, em Coimbra e Setúbal, respectivamente.
Mas façamos um exercício especulativo: será que, se o campeonato português fosse 'competitivo', despertaria maior interesse em outros mercados? Olhemos para os campeonatos mais badalados, o espanhol, o inglês e o alemão... O que realmente importa para os fãs de futebol é saberem que, ao assistirem a uma partida entre a melhores equipas desses países, serão a oportunidade de ver o confronto entre alguns das melhores jogadores e treinadores do mundo. Com o devido respeito aos clubes referidos, ninguém dedica noventa minutos da sua atenção a jogos entre Villareal e Deportivo ou Newcastle a Crystal Palace. Preferem, e é compreensível que o façam, Barcelona, Real Madrid, Bayern, Manchester United, Chelsea, Arsenal e outros destes países, ocasionalmente, disponham de bons plantéis. E a medida que permite aferir da valia, a nível mundial, destas equipas é só uma: a performance nas competições europeias. Retirar capacidade de investimento a Benfica, Porto e Sporting é limitar as possibilidades destes clubes nos palcos internacionais e, consequentemente, tornar o futebol português ainda menos apetecível a outros mercados.
Mas falta referir o modelo da 'solução de todos os males do futebol português' que tem sido preconizado nos últimos tempos (há 15 anos eram as SAD que resolveriam tudo e mais alguma coisa...). Geralmente são criados pacotes de jogos que poderão ser vendidos a diferentes operadoras. As receitas obtidas são distribuídas respeitando os seguintes princípios: solidariedade (uma parte é destinada à formação, a clubes de divisões inferiores e a diversos stakeholders do sector, como a arbitragem, o sindicato dos jogadores, etc.); equitatividade (os clubes participantes obtêm um valor fixo); competência (montante entregue de acordo com a classificação); e popularidade (baseado, entre outros, na dimensão da massa adepta dos clubes, nas audiências e na população das cidades).
Crê-se, desta forma, que o bolo a dividir seja maior, nomeadamente porque se parte do princípio, por demonstrar, que haverá operadores estrangeiros a participar no leilão. Assim, por magia, julga-se que haverá rios de dinheiro a garantir, artificialmente, a subsistência de clubes sem adeptos e, consequentemente, sem capacidade para gerar a receitas que permitiriam a sua sustentabilidade. Mais grave ainda, continuar-se-á a ignorar os problemas estruturais que assolam o futebol português, alguns deles a montante das suas particularidades e que são ainda mais gravosos para os outros desportos que, contrariamente ao que acontece em Portugal, têm, noutros países, o seu espaço e constituem-se como verdadeiras indústrias. Esse será, provavelmente, o tema da minha próxima crónica."

João Tomaz, in Vida Económica