quarta-feira, 27 de maio de 2015

Centralizar os direitos televisivos no futebol é solução?

"Perdoem-me a eventual arrogância e o evidente cepticismo, mas, por vezes, dá-me a impressão que, em Portugal, se privilegia a busca por soluções miraculosas, ao invés de se investir tempo e dinheiro na definição e implementação de estratégias que corrijam os males que assolam o nosso país. No desporto, um sector caracterizado pela clubite e a emoção que a ela está associada, é onde mais claramente se nota esta postura na abordagem aos problemas. A miopia do curto prazo prevalece, sem que se tente medir as consequências de medidas avulsas e conjunturais. 'Quem vier atrás que feche a porta' parece ser a regra que norteia grande parte dos decisores.
Serve esta introdução para manifestar a minha perplexidade perante a discussão sobre a centralização da exploração dos direitos televisivos no futebol português. E já dou de barato que esta tenha surgido, coincidentemente, quando ficou demonstrado o sucesso da BTV - o que concede legítimas expectativas ao Porto Canal e Sporting TV, pondo em causa a situação, até então, relativamente monopolista da SportTV.
De repente, como se descobriu a pólvora e o actual modelo, em que os clubes negoceiam individualmente os direitos, é apontado como o constrangimento principal à sua viabilidade. Esta teoria, que conta com o apoio implícito de fazedores de opinião mais preocupados com a vaga de fundo que com o problema em si e com uma comunicação social especializada pouco propensa a ir até ao âmago das questões, peca por ser simplista e, se desacompanhada de alterações profundas nos alicerces que sustentam o sector, inócua ou, até, prejudicial.
Diz-se que o principal problema do futebol português é a falta de competitividade. Dito assim, e uma vez que os títulos são, invariavelmente, conquistados por apenas dois clubes, o SL Benfica e o FC Porto, parece fazer sentido. Afirma-se, também, que a redistribuição mais equitativa das receitas geradas pela venda dos direitos de transmissão televisiva contribuirá para um suposto aumento de competitividade. No papel, parece fazer sentido. E, como consequência, esse incremento tornará o produto mais apetecível, criando um efeito potenciador de mais receitas para os clubes devido a um suposto mais interesse do público e ao encanto 'instantâneo' que os mercados estrangeiros terão pelo nosso futebol. Parece tão evidente que custa a acreditar que não ocorra já... Discordo desta visão e julgo que é necessária alguma cautela na avaliação da existência, ou não, dos benefícios de uma alteração desta envergadura.
Em primeiro lugar, cumpre-me questionar o que é a tão referida falta de competitividade do futebol português. Nos países modelo, no que à centralização da exploração dos direitos televisivos diz respeito, a Alemanha e Inglaterra, é um erro julgar-se que há a tal competitividade nas suas ligas. Na Alemanha, o Bayern Munique conquistou 12 das últimas 19 edições da Bundesliga e, em Inglaterra, o Manchester United foi campeão em 13 das últimas 23 temporadas da Premier League. Por terras germânicas, o poderio da equipa bávara é, normalmente contestado pelo Borussia Dortmund e, na prova inglesa, só o investimento avultado de multimilionários provenientes do Leste Europeu e do Médio Oriente criou novos candidatos e vencedores para além dos tradicionais e populares Arsenal e Liverpool. Acresce que qualquer dos clubes campeões nestes países o conseguiram, a julgar pela distância pontual obtida e pelas jornadas por disputar no momento em que venceram o título, com relativa facilidade. Se alargarmos a incidência da análise a um contexto europeu, verificamos que Portugal conta com a presença de três clubes na Liga dos Campeões e de um total de seis nas provas europeias, o que, apesar da ausência habitual da fases decisivas da principal competição europeia, desmente a propalada falta de competitividade.
Desmontado o argumento da competitividade, parto para o da sustentabilidade. A simples comparação demográfica entre Portugal e os países referidos deita por terra qualquer relação que se sente estabelecer. O mesmo se aplica aos restantes países cujas ligas são, em diversos aspectos, melhores que a portuguesa: Espanha, França e Itália. Em suma, estes mercados são maiores que o português. E gozam de maior poder de compra. Além disso, beneficiam de um fenómeno inexistente em Portugal que dificilmente, salvo raras excepções ocorrerá no nosso país: os clubes cidade. O Vitória de Guimarães e, em menor medida, o SC Braga são, porventura, os únicos clubes portugueses que conseguem no presente, transferir o sentimento de pertença dos cidadãos à localidade onde residem para a preferência clubista, à semelhança do que a Académica e o Vitória de Setúbal alcançaram, no passado, em Coimbra e Setúbal, respectivamente.
Mas façamos um exercício especulativo: será que, se o campeonato português fosse 'competitivo', despertaria maior interesse em outros mercados? Olhemos para os campeonatos mais badalados, o espanhol, o inglês e o alemão... O que realmente importa para os fãs de futebol é saberem que, ao assistirem a uma partida entre a melhores equipas desses países, serão a oportunidade de ver o confronto entre alguns das melhores jogadores e treinadores do mundo. Com o devido respeito aos clubes referidos, ninguém dedica noventa minutos da sua atenção a jogos entre Villareal e Deportivo ou Newcastle a Crystal Palace. Preferem, e é compreensível que o façam, Barcelona, Real Madrid, Bayern, Manchester United, Chelsea, Arsenal e outros destes países, ocasionalmente, disponham de bons plantéis. E a medida que permite aferir da valia, a nível mundial, destas equipas é só uma: a performance nas competições europeias. Retirar capacidade de investimento a Benfica, Porto e Sporting é limitar as possibilidades destes clubes nos palcos internacionais e, consequentemente, tornar o futebol português ainda menos apetecível a outros mercados.
Mas falta referir o modelo da 'solução de todos os males do futebol português' que tem sido preconizado nos últimos tempos (há 15 anos eram as SAD que resolveriam tudo e mais alguma coisa...). Geralmente são criados pacotes de jogos que poderão ser vendidos a diferentes operadoras. As receitas obtidas são distribuídas respeitando os seguintes princípios: solidariedade (uma parte é destinada à formação, a clubes de divisões inferiores e a diversos stakeholders do sector, como a arbitragem, o sindicato dos jogadores, etc.); equitatividade (os clubes participantes obtêm um valor fixo); competência (montante entregue de acordo com a classificação); e popularidade (baseado, entre outros, na dimensão da massa adepta dos clubes, nas audiências e na população das cidades).
Crê-se, desta forma, que o bolo a dividir seja maior, nomeadamente porque se parte do princípio, por demonstrar, que haverá operadores estrangeiros a participar no leilão. Assim, por magia, julga-se que haverá rios de dinheiro a garantir, artificialmente, a subsistência de clubes sem adeptos e, consequentemente, sem capacidade para gerar a receitas que permitiriam a sua sustentabilidade. Mais grave ainda, continuar-se-á a ignorar os problemas estruturais que assolam o futebol português, alguns deles a montante das suas particularidades e que são ainda mais gravosos para os outros desportos que, contrariamente ao que acontece em Portugal, têm, noutros países, o seu espaço e constituem-se como verdadeiras indústrias. Esse será, provavelmente, o tema da minha próxima crónica."

João Tomaz, in Vida Económica

5 comentários:

  1. concordo muito com o artigo

    e também não percebo porque se esquecem os clubes médios e pequenos que sendo potencialmente mais prejudicados também detêm em conjunto metade dos jogos de Benfica, Porto e Sporting... não será necessário uma centralização total para terem uma posição de força... o problema é que alguns querem o que não lhes é devido...

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  2. PACTO SECRETO ENTRE VIEIRA E PINTO DA COSTA - TODA A VERDADE

    Vieira não quer deixar cair Pinto da Costa, e para que tal aconteça o Porto na próxima época terá de vencer o campeonato (3 épocas sem ganhar nada, seria o fim de Pinto da Costa). Só que essa estratégia esbarra em Jorge Jesus. O actual treinador do Benfica quer mais, sempre mais, quer vencer o Tri-campeonato e ser competitivo na europa, tendo ao seu dispor bons reforços.

    Manter Jorge Jesus no Benfica é um enorme risco para o "pacto secreto" entre vieira e pinto da costa. Esta época o Porto de Lopetegui com 50 milhões de euros em reforços, e com a saída de 8 titulares do Benfica, teve insucesso e o Benfica de Jorge Jesus ganhou na mesma o campeonato.

    A machadada final do "pacto secreto" foi a proposta de renovação a Jorge Jesus reduzindo o salário para metade, além de Vieira não disponibilizar grande orçamento para reforços, forçando a que o treinador do Benfica aceite uma das propostas que existem do estrangeiro (mesmo que não sejam de clubes de topo). Vieira já acertou a contratação de Rui Vitória para a próxima época.

    O que Vieira e Pinto da Costa não contavam era com o facto de Jorge Jesus estar a ponderar a proposta do Sporting.

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    1. Mercenagem em grande estilo! Eis a verdade de "Toda a Verdade"!

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    2. Mercenagem em grande estilo! Eis a verdade de "Toda a Verdade"!

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  3. É que se este 'tolda a verdade' ainda tivesse coragem para dar a cara.

    É impressionante o que esta gente faz para tentar fazer lavagens cerebrais às pessoas.

    Para que fique bem claro o acordo dos corruptos foi com os lagartos e disso existem provas, testemunhos e mais do que suficiente informação.

    Todos sabem, a história está aí para provar e não existe de forma de apagar porque nós benfiquistas nunca iremos deixar.

    O Sr. presidente Luis Filipe Vieira já deu provas suficientes do seu benfiquismo e da capacidade extraordinária que tem em guindar o glorioso a patamares inimagináveis à uns tempos atrás.

    Muito mais está para vir e gente como o 'tolda a verdade' só terá que tomar o comprimidinho para a azia.

    Viva o Glorioso,

    <3

    P.S.

    Este fica para exposição da baixeza dessa gente.

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