quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

'Black' ('out') e outras cores ('in')

"Está confuso o mundo de cores no futebol. Não falo dos equipamentos alternativos que, para se diferenciarem das cores estatutárias, desfiguram a própria tradição. Escrevo, antes, sobre cores 'activistas' ou 'dirigistas': as que enquadram acções, omissões ou decisões fora dos relvados.
A primeira cor tem a ver com a usada e abusada, expressão blackout. É uma espécie de silêncio, com ruído. De irresponsabilidade, com despeito. De não capacidade de argumentação, com o incómodo do escrutínio. De ingratidão de fechar a boca para quem, de seguida, vai mendigar a 'notícia do dia'. Sobretudo na chamada yellow press (imprensa sensacionalista).
É claro que o efeito do blackout é tanto maior quanto for out of the blue (expressão idiomática inglesa que significa inesperadamente). Até se faz gala nisso, em estilo peitudo e raçudo. Ou seja, num ambiente que se quer red hot (quentíssimo).
Para accionar um qualquer blackout não há nada melhor que uma simples white lie (uma mentirinha insignificante), para simular combater um qualquer imaginário white elephant.
Ah, já agora: o blackout tem muitas vezes associada uma outra expressão de raiz black: black list. Observando tantos blackout que se sucedem no futebol, a expectativa é maior quando quem o decide is too green (inexperiente) nesta prática, seja em estilo black tie ou blue jeans. Claro está os blackout são bem mais divertidos, caso o twitter, o facebook ou o instagram a ele não aderirem...
Desculpem-me este jogo de cores em inglês, mas é a única maneira séria que tenho de olhar para estes caleidoscópios de disparates."

Bagão Félix, in A Bola

Chefe de orquestra

"Quando o Benfica contratou Pizzi, observei-o com uma curiosidade que cedo se transformou em decepção. Jogava a extremo-direito e era um jogador banal.
Sem surpresa, foi emprestado a um clube espanhol, onde não se destacou. Estranhei, por isso, o seu regresso à Luz - e nos poucos minutos em que jogou revelou a mesma ausência de qualidade que lhe conhecia.
Eis senão quando...
Eis senão quando, no último jogo da Liga dos Campeões, onde já nada se decidia, Pizzi entrou a jogar na linha média - e foi uma revelação. O homem sabia segurar a bola, variar o flanco, temporizar, fazer passes de ruptura - apresentado-se como o sucessor de Enzo Pérez, que mais dia menos dia deixaria o clube. Até fisicamente Pizzi fazia lembrar Enzo - baixo de estatura e jogando curvado sobre a bola. E tendo chegado ao Benfica, tal como o outro, a jogar a extremo.
Mas Jesus, que o descobrira para esta posição, não ficou convencido. Quando Enzo saiu, meteu Talisca no seu lugar. E não funcionou: Talisca não gosta de segurar a bola, virar-se, solicitar os companheiros. Gosta de correr com a bola e chutar à baliza.
No domingo, porém, Jesus deu o passo que eu esperava: meteu Pizzi a titular - e o resultado foi o que se viu. Ele mostrou-se um verdadeiro chefe de orquestra, fazendo mexer todo o conjunto. Passou, rodou, fez passes de ruptura sobrevoando metade do campo e isolando companheiros. Pizzi foi a referência que faltava à equipa.
Talvez não tenha a 'raça' que sobrava a Enzo Pérez: a capacidade de sacrifício para lutar pela bola, pressionar o adversário, meter o pé. Mas para mim o sucessor de Enzo está encontrado."

Empate concedido...!!!

Madeira SAD 20 - 20 Benfica

Empate frustrante, num jogo onde tivemos sempre na liderança, chegámos mesmo a ter uma boa vantagem (num jogo com poucos golos), e permitimos o empate nos últimos segundos...
Quando estes resultados negativos aparecem, é impossível fugir à tentação em criticar a excessiva rotação do plantel... mesmo sabendo que tivemos dois jogos fisicamente duros no último fim-de-semana.
Falta uma jornada, vamos jogar com os Corruptos, o nosso adversário na 1.ª ronda do play-off será provavelmente o Águas Santas, equipa que até temos tido bons resultados e boas exibições esta época, mas se quisermos chegar às Meias-finais, temos que melhorar...

Derrota na Serra...

Sp. Covilhã 3 - 0 Benfica B

Depois do bom resultado e boa exibição do fim-de-semana, mais um mau resultado, numa partida realizada fora... Sofremos o 1.º golo num penalty duvidoso (mão na bola ou bola mão?!), e logo a seguir surgiu o 2-0, tudo nos últimos minutos da 1.ª parte...
No 2.º tempo beneficiamos de um penalty, mas desperdiçamos (estranha a escolha do Lindelof para marcar as penalidades!!!), nos últimos minutos da partida voltámos a sofrer um golo...
Não é fácil jogar na Covilhã: o campo, a altitude, mas... como já disse aqui várias vezes, a equipa está em reconstrução, depois de muitas saídas, e com muitos Juniores nas opções (ainda por cima sem o Renato Sanches, que se vinha afirmando como o 'patrão' da equipa...), portanto os resultados negativos não devem ser surpresa, temos que esperar por melhores dias...

Na próxima semana vamos ter jogo da UEFA Youth League, no Seixal com o Liverpool. Espero que os Juniores que têm sido opção na equipa B (alguns mal têm saído do banco), sejam opção para o Tralhão...

Varela; Semedo, Lystcov, Valente, Alfaiate (Gonçalves, 60'); Lindelof, Dawidowicz; Teixeira, Santos (Flávio Silva, 73'), Andrade; Sarkic (Carvalho, 80').

Tribalismo

"Aquilo que o actual presidente leonino tem para apresentar, e é muito, já lá estava, por iniciativa e esforço de outros. Bruno de Carvalho não fez nada, Filipe Vieira fez tudo.

BRUNO DE CARVALHO interrompeu o blackout antes do jogo com o Estoril por ter percebido que se corresse mal a família sportinguista não se indignaria com o treinador, por não enxergar motivo para tal, mas existia o perigo de apontar ao presidente o dedo acusador, responsabilizando-o pelo ambiente de tensão gerado em redor de Marco Silva. Na véspera de receber o Benfica, em Alvalade, decidiu abolir a lei da rolha e na terça-feira seguinte, em comunicado, o conselho directivo leonino cortou relações institucionais com o Benfica, na sequência de idêntico procedimento que havia tomado com o FC Porto e com a Liga de Clubes.
Não vou tomar partido sobre nenhuma das partes, mas por dever de ofício compete-me expressar a minha opinião, a qual não pode ser favorável ao presidente sportinguista, que me parece ter-se enredado nas teias que criou.
Rompeu com a Liga por não apoiar a escolha de Luís Duque, sem alguma vez ter enfrentado os restantes parceiros em sede própria.
Cortou com o FC Porto sem se incomodar com a deselegância nas referências a Pinto da Costa, uma personalidade complexa, que se admira e odeia, mas que vai deixar um legado notável quando resolver passar a pasta a outro.
Provocou, agora, outro conflito, desta vez com o Benfica, traduzindo em medida avulsa e sem substância e mais uma vez caracterizada por linguagem que viola as fronteiras do razoável. Refugiando-se nas chamadas redes sociais, em que o despudor se espraia com estranha impunidade, utilizou termos raiam o insulto, através de insinuações poucos claras e despropositadas entre pessoas que lideram instituições cuja honorabilidade não deve ver-se despromovida a banais questiúnculas de bairro.

BRUNO DE CARVALHO ainda não enxergou essa destrinça e por isso enfrenta nítida dificuldade em comportar-se como primeira figura de um clube grande e respeitado como é o Sporting, tal como deve entender-se o desempenho institucional do cargo, em vez de manifestar-se como simples chefe de tribo, com especial preocupação pelos ecos que lhe chegam dos grupos de pressão, ou claques organizadas, como se queira designá-los. Dá a ideia de confundir tribalismo com rivalidade, o que não só é perigoso, como despiciendo. Nada me move contra BdC, obviamente, mas julgo que a estratégia turbulenta por ele seguida não o beneficia, nem ao clube. Pelo contrário, as mudanças que repetidamente proclama (ou proclamou) no futebol português só terão sucesso pela razão e não pela confrontação.

ALÉM de se zangar com quantos o contrariam, que mais fez Bruno de carvalho nestes quase dois anos de consulado? Contestou os fundos quando na primeira tentativa presidencial ele mesmo agitou como bandeira o apoio financeiro de um fundo russo. Aliviou a despesa com a redução de pessoal sem olhar a nomes e provocando mal entendidos dispensáveis e desagradáveis. Interveio na área da formação, tirando e pondo gente com as consequências que o futuro revelará. Pactuou na encenação de despedimento de Marco Silva, sabe-se lá com que intenção. Comunicou em assembleia geral a construção de um pavilhão até final do próximo ano (!) e, em simultâneo, anunciou a entrada de 18 milhões de euros sem divulgar, no entanto, a sua origem devido a uma cláusula de confidencialidade. Ou seja, em concreto, BdC prometeu muito, mas concretizou pouco e... quanto a obra visível, nada, ao contrário de Luís Filipe Vieira que construiu um estádio emblemático, ergueu um complexo desportivo fantástico e apresenta um museu de referência e um centro de treinos ao nível dos melhores do mundo, além de ter em projecto a Casa do Jogador, sinal inequívoco de que um presidente não deve limitar-se a contar os troféus e se calhar, por isso, as ditas claques o têm incomodado...
Aquilo que o actual presidente leonino tem para apresentar, e é muito, já lá estava, por iniciativa e esforço de outros. Bruno de Carvalho não fez nada, Filipe Vieira fez tudo: eis a diferença entre ambos. São incomparáveis!"

Fernando Guerra, in A Bola

Damas e Eusébio

"Meu caro Bruno de Carvalho:
Estava 1973 a caminho do fim, houve um Benfica-Sporting - e no regresso ao Porto, o árbitro despistou-se a alta velocidade e morreu. Porém, do que lhe quero falar é de outra coisa. Aos 54 minutos, Fernando Leite assinalara livre contra o Sporting, Artur deu toque subtil para o lado e... não foi um remate, foi um morteiro. A bola bateu no suporte da rede - e voltou em carambola para fora da baliza. Damas, convencido (mas convencido mesmo...) de que fora na barra que batera, agarrou-se e pô-la em jogo:
- Como era livre a 30 metros da baliza, não quis barreira. Deu no remate fulminante, como eu nunca vira. Deixou-me atarantado, sem sequer perceber se tinha sido golo. Eu e mais gente. Aliás, o primeiro a perceber foi ele, o Eusébio. A festa que fez é que levou à festa do Terceiro Anel. No fundo, esse lance mostrou que o Eusébio via sempre primeiro e mais longe do que qualquer um de nós, era um génio, um daqueles raros jogadores que jogariam em qualquer equipa 100 anos antes ou 100 anos depois...
Nunca me esqueço: sempre que esse lance lhe saltava à memória de uma cavaqueira, Eusébio deixava-se ir numa espécie de contracorrente à fascinação:
- Toda a gente fala desse golo, mas eu dou mais valor a outro que marquei ao Damas, um em que fui do meio-campo à baliza a driblar, houve gajos que eu passei duas vezes... Aliás, mesmo nesse jogo do golo do livre, o segundo golo é que foi um espectáculo e para mim o melhor prémio foi o que o Damas fez depois...
Foi um golpe de cabeça, de costas para a baliza, na sequência de canto do Vítor Baptista. Tão assombroso que Damas se desembrulhou das redes e correu a tirar o Eusébio de magote onde estavam Artur, Toni e Nené em euforia para o abraçar, dar-lhe parabéns. Era, era disso que lhe queria falar. Para lhe dizer, na força da metáfora, que o resto em que você tem andado nos últimos dias, não é futebol, nem sequer folclore - é uma vergonha, para o futebol. (Mas, sim: muito pior é a tarja, foi a tarja do Very Lught 1996 - que nem sei como qualificar...)"

António Simões, in A Bola