"A vontade de vencer cuidadosamente atada com cordel branco.
Depois de quatro anos de interregno, devido à II Guerra Mundial, a Volta de Portugal em Bicicleta voltou a realizar-se em 1946. No ano seguinte, coube ao Sport Lisboa e Benfica, através da Comissão Administrativa da Secretaria, organizar a prova.
Com partida e chegada em Lisboa, entre 24 de Agosto e 7 de Setembro de 1947, dezenas de ciclistas percorreram Portugal de norte a sul, perfazendo um total de 2264 quilómetros.
A equipa 'encarnada' era constituída pelos corredores José Martins, Júlio Mourão, Guilherme Jacinto e Manuel dos Santos Gonçalves. José Martins (1920-2011), pela primeira vez de 'águia ao peito', era um ciclista experiente e com grande aptidão física, que havia vencido a Volta no ano anterior, o que o colocava como favorito nesse ano. Palpite certo, como se viria a verificar. O próprio acreditava que poderia voltar a alcançar o pódio: na madrugada antes da etapa Setúbal-Loulé, a 25 de Agosto, José Martins 'entregou ao delegado do nosso Clube, Sr. José Tavares, um pequeno embrulho, cuidadosamente atado com cordel branco...'. O que continha? Não disse e fez, 'insistentemente, a recomendação de que ele só deveria ser aberto em Loulé', o que alimentou ainda mais a curiosidade em torno do embrulho. 'Dentro do pacote, encontrava-se, simplesmente, o boné amarelo que Martins usou na última volta, quando envergou a camisola da mesma cor...'. O ciclista acreditava que voltaria a envergar a camisola amarela no final da 3.ª etapa. Tinha razão! Foi o primeiro a chegar a Loulé. Na meta, aguardavam-no a camisola, o boné e a mãe: 'quando ganhei a etapa e a camisola, a minha mãe esperava-me... Não sei bem descrever-lhe o que sentiu.'
O pandã camisola-boné acompanhou-o até ao final da Volta, quando se consagrou vencedor. Para além da sua vitória individual, auxiliou o Benfica na sua quinta conquista colectiva na Volta a Portugal em Bicicleta. À equipa vencedora foram oferecidas várias taças, entre elas a Taça Jornal A Voz, em exposição na área 3. Orgulho ecléctico do Museu Benfica - Cosme Damião. José Martins, enquanto vencedor, levou para casa 'um leitão, oferta do restaurante Bairrada', 'um fato alfaiataria «Arcada da Moda»' e 'seis pares de sapatos de trazer por casa (...) oferta da Costa Gonçalves & Ferreira'.
Mafalda Esturrenho, in O Benfica
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