"Não se chama Sebastião, nem sequer é rei, mas mostra habilidade na oratória este presidente do União que, num fim de tarde de nevoeiro, se aproveitou do espaço de antena que lhe foi dispensado para verberar o adiamento do jogo com o Benfica que minutos antes havia sido decidido por quem detinha poderes para tal, como se tivesse sido praticado pecado sem perdão.
Em primeiro lugar, o referido presidente, porventura deslumbrado por tamanha deferência mediática, entendeu espalhar críticas em várias direcções, começando, é bom que se assinale, por rotular de parvos quantos naquele instante seguiam a transmissão da Sport TV, os quais, com o mínimo de atenção, puderam verificar que em termos de condições climatéricas as imagens foram mais fortes do que as palavras, contrariando o que o dirigente ousou afirmar sobre a matéria. É claro que o jogo poderia ter-se iniciado naquele intervalo que jornalista e comentador da estação assinalaram com oportuno sentido de reportagem mas apenas isso. Tratou-se apenas de uma aberta que depressa se diluiu na espessa neblina que, por informações recolhidas, assentou arraiais desde manhã e não mais de lá saiu.
À parte o farrapo de argumentação utilizada com o suposto objectivo de, no essencial, dar uma bicada na posição assumida pelo Benfica, o presidente unionista endereçou bizarros reparos aos que contribuíram para dar uma «má imagem da região, de um clima que não é o seu»... Além de um rol de queixas, ao considerar o União «altamente prejudicado» e, entre outros arremessos, sugerir ao actual Governo Regional que fiscalize o contrato de cedência ao Marítimo do Estádio dos Barreiros.
O presidente unionista falou muito, mas esqueceu-se, ou talvez não, de abordar a questão que verdadeiramente interessa e que se prende com o facto de três clubes da mesma cidade (Funchal) competirem na principal Liga profissional (Marítimo, Nacional e União), o que só encontra paralelo na capital do país (Benfica, Sporting e Belenenses), aconselhando o bom senso, no entanto, que não se estabeleçam comparações entre as duas realidades por serem incomparáveis...
A introdução do União na Primeira Liga é, pois, a expressão de mais uma exuberância futebolística made in Madeira. Exuberância essa que vai gerar custos elevados que terão de ser pagos.
Já que se mostrou tão empenhado na proclamação de alguns valores, podia o presidente da SAD unionista ter aproveitado a ocasião de estar em rede de grande audiência para informar quanto recebe o seu clube do Governo da Região. Não se lembrou ou tal manifestação de transparência não coube no alinhamento da sua demorada intervenção. Não é segredo, mas, mesmo assim, ter-lhe-ia ficado bem essa declaração, em nome da verdade. Pois é... talvez não interesse despertar esse sentimento de concorrência desleal em relação aos clubes continentais, principalmente aos de menor dimensão, porque se todos pudessem beneficiar dos mesmos apoios financeiros, provavelmente, esta situação nem se colocaria...
Com todo o respeito pela história de um emblema centenário, carece de sentido a presença do União na Liga portuguesa. Pode não gostar-se dos estilos dos respectivos presidentes (Carlos Pereira e Rui Alves), mas é inquestionável que, cada qual com a sua linha de orientação, Marítimo e Nacional são notáveis representantes da Região, além de apresentarem obra.
O União depara-se-nos, pois, sobre a onda de um capricho político-social que os contribuintes não têm obrigação de continuar a suportar..."
Fernando Guerra, in A Bola
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