quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O Benfica-Sporting em família

"Há um dia em que o ruído de fundo, por mais desagradável que seja, é inevitavelmente abafado pela voz do povo no estádio. Domingo é esse dia. Na Luz, a rebentar pelas costuras, vamos finalmente recentrar a questão entre os velhos rivais no local onde ela faz mais sentido: no relvado. Gosto muito de derbies e já vi suficientes por esse Mundo fora para poder dizer, sem receio de ser corrigido, que o de Lisboa é um dos mais intensos e picantes. Está ao nível de um Milan-Inter, um Real Madrid-Atletico, um Celtic-Rangers, um Liverpool-Everton, um Boca-River, um Fla-Flu. O Benfica-Sporting ou Sporting-Benfica mexe com a cidade, com as pessoas e com o país, dada a dimensão social dos dois - enorme - e a eterna actualidade do seu antagonismo. O meu velho amigo Afonso Melo publicou um tratado quando o derby fez cem anos e acertou em cheio na apresentação do mesmo: «100 anos, 1907-2007... Benfica-Sporting, Sporting-Benfica... pior do que inimigos, eram irmãos!», escreveu ele. É isso. A génese dos dois clubes explica muita coisa e ajuda a perceber por que razão o campeonato particular - melhor: a contabilidade particular - que quase todos os lisboetas trazem escondida no coração, muitas vezes acaba por ser a recordação mais prazenteira da época. Perguntem a um sportinguista e a um benfiquista da minha geração que memória guardam da época de 1986-87. O benfiquista lembrará o título de campeão «apenas com uma derrota». O sportinguista lembrará essa derrota: «o» 7-1 de Alvalade. E dirá que esse resultado valeu bem um título. 
Sempre apreciei a picardia que anda associada ao derby lisboeta e que se transmite de bairro em bairro, de família em família, de geração em geração. Certas coisas nunca mudam. É uma rivalidade malandra, pícara e colorida como poucas, não fossemos nós, portugueses, verdadeiros especialistas em anedotas, provocações, chistes, pilhérias e maledicência. Pertenço a uma família numerosa que adora futebol e onde convivem cordialmente adeptos dos três grandes e (todos) do SC Braga. Em minha casa vivemos o derby com grande desportivismo e temos por hábito consolar (com alguma malícia, reconheço), os que (consoante o resultado) ficam de penca murcha. Dos nossos cinco filhos, três torcem pelo Sporting e dois pelo Benfica. A única guerra que fazem é a dos cachecóis pendurados na televisão antes do jogo. Mas assim que ele começa, o ecrã fica limpo - e assim que ele acaba o ambiente continua limpo. Que há coisas bem mais importantes que a bola. Na minha família e entre os meus amigos felizmente ninguém se revê no feio espectáculo dos últimos dias. O derby institucional em versão rasteira a tal rivalidade pícara e colorida a resvalar para a vulgaridade, para a ordinarice, até para a boçalidade. Muita asneira se fez e muito disparate se disse nestes últimos dias. Uns mais às claras, dando a cara nas televisões e nas rádios; outros mais pela calada, escondidos no recato dos gabinetes e no conveniente anonimato da rede. Mas tenho esperança que a coisa fique por aqui. É que cheira mal. E o fedor cola-se aos dois. Pode haver quem pense, sugestionado pelo disparates dos últimos dias, que o derby é mesmo uma guerra. Eu tenho memória e sei o que senti no estádio do Jamor quando o very light matou o adepto Rui Mendes que tinha vindo da Mealhada para assistir ao derby. Nenhuma pessoa normal esquece isso. Jamais. O Benfica-Sporting não é, nem pode ser, uma guerra entre inimigos; mas uma infindável picardia entre irmãos mais ou menos casmurros, como dizia o Afonso. Ao jogo, meus senhores, ao jogo. Haja juízo."

André Pipa, in A Bola

3 comentários:

  1. Deveríamos todos olhar para o futebol desta maneira, seria muito mais agradável e divertido. O futebol é diversão não uma guerra. Não me parece que hajam santinhos a mandar, não ligo muito a esses intervenientes (que não o são). Gosto mais de falar dos treinadores e dos jogadores esses sim os nossos "ídolos", aqueles que nos fazem gritar e saltar da cadeira. Carrega Benfica mas também um força Sporting (é mais fixe com uma boa luta) ;).

    Vamos vencer por 3-1

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  2. Deveríamos todos olhar para o futebol desta maneira, seria muito mais agradável e divertido. O futebol é diversão não uma guerra. Não me parece que hajam santinhos a mandar, não ligo muito a esses intervenientes (que não o são). Gosto mais de falar dos treinadores e dos jogadores esses sim os nossos "ídolos", aqueles que nos fazem gritar e saltar da cadeira. Carrega Benfica mas também um força Sporting (é mais fixe com uma boa luta) ;).

    Vamos vencer por 3-1

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  3. quero é que o sport se lixe!
    não respondo a ódio com abraços
    não sou cristo
    este pipa é um lagartão a tentar conversinha para boi dormir

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