sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Na minha casa mando eu

"Há um louco na minha rua. Mudou-se há pouco tempo e começou a dar nas vistas no dia em que chegou. Parece que fez logo uma queixa em tribunal contra os antigos donos do T0 onde agora vive.
Como se isso não bastasse, na primeira reunião de condomínio, fez-se administrador e começou a fazer a vida negra aos restantes habitantes do prédio. Passa o dia a vir à janela gritar coisas que ninguém percebe. Diz cobras e lagartos do Sr. Manel da mercearia, acusa a D. Maria do café de o querer envenenar e foi visto, numa noite destas, com os seus amigos pouco recomendáveis, a roubar as moedas ao arrumador. 
Nos últimos tempos a coisa piorou. O tal ser pouco recomendável passou a insultar-me também. E aos meus familiares e amigos. Deu-lhe para aquilo... Queixa-se que fazemos demasiadas festas cá em casa, que andamos sempre na rua a abrir garrafas de champanhe, que todas as semanas temos a casa cheia de gente. 
Tudo lhe serve para dizer mal de nós e do nosso triplex com vistas desafogadas para o futuro. Parece que não convive bem com a felicidade dos outros e anda a espalhar pelo bairro que o nosso sucesso só acontece porque no outro dia pagámos um café ao Abílio, o chefe da esquadra. Coitado...
A minha mulher já me disse para não lhe dar importância, que qualquer dia ele deixa de pagar a hipoteca ao banco e é posto na rua, mas a verdade é que o tenho visto a rondar o nosso prédio. Ele que não esteja com ideias. Na minha casa só entra quem eu quero. É reservado o direito de admissão a quem se apresente com distúrbios psíquicos, com visíveis sinais de embriaguez ou a quem tenha sido insultuoso comigo ou com os meus.
E o louco do outro lado da rua inclui-se em pelo menos um destes cenários."

Ricardo Santos, in O Benfica

2 comentários:

  1. Sim senhor ! ..
    está fantastico este texto ,assim até da vontade de ler e gracejar

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  2. LOL ESSE LOUCO PARECE ME FAMILIAR.

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