sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Carta aberta a todos e a cada um dos sócios, adeptos e simpatizantes do Sport Lisboa e Benfica (ou a lição de Madrid, para sentir - ainda mais - o Benfica sem o prejudicar!)

"Os acontecimentos de Madrid ensombraram um dos mais relevantes momentos do Benfica europeu dos últimos anos

Caros sócios, adeptos e simpatizantes do Sport Lisboa e Benfica, caros amigos:
A grandiosidade, a universalidade e a mística do Benfica não advêm só das vitórias. O Benfica é o que é assumindo plenamente essa grandiosidade, essa mesma universalidade e essa mística construída por uma massa associativa incomparável (para citar Béla Guttmann) por causa desses mesmos adeptos. O Benfica é, por certo, maior que Portugal, porque, além de um clube de vitórias, é um clube de paixão e - passe a repetição de adeptos. É evidente que somos também - e não menos importante do que isso um clube de princípios e valores. Mas não se enganem, nem se deixem iludir: a diferença, a qualidade, a grandeza do Benfica vem dos adeptos e, só depois, dos dirigentes e dos atletas.
Os adeptos são aqueles que realmente representam o Benfica, sofrendo e apoiando em nome de uma realidade imaterial, muito superior à soma aritmética de todos nós. São eles que dão a verdadeira imagem da dimensão do clube e, em última instância, do espectáculo produzido, em cada jogo, em cada competição, em cada momento, por quem tem a responsabilidade mas, também, o orgulho de representar o Sport Lisboa e Benfica.
Se é assim, então, só poderemos concluir que não faz sentido haver um jogo do Benfica sem adeptos! Não raras vezes, nós, adeptos, fomos repreendidos, em jogos nacionais e internacionais, por uso (indevido) de material pirotécnico, sendo o clube alvo de aplicação de várias multas. A frequência desse tipo de acontecimentos, e maior gravidade de outros episódios, implicou uma consequência mais pesada. O Comité de Ética e Disciplina da UEFA, pelo sucedido no Vicente Calderón, no passado dia 30 de Setembro, sancionou o Benfica com um jogo à porta fechada, ainda que com pena suspensa.
Esses acontecimentos ensombraram um dos momentos mais relevantes do Benfica europeu, nos últimos anos.
Depois de Liverpool, em 2006, onde eliminamos o campeão europeu em título, voltamos a ser notícia, agora ao termos vencido o finalista de Lisboa, da Liga dos Campeões, em 2014.
Mas o que a Europa tentará recordar será o episódio das tochas.
Compete-nos fazer com que se lembrem, isso sim, da nossa vitória.
Dando razão à aplicação, agora, de uma mera pena suspensa.
Trata-se de uma decisão com bom senso, sentido de justiça, e adequação da pena aos incidentes em causa.
Ainda assim, quando todos os que não são do Benfica queriam que fossemos forte e exemplarmente castigados - seja por inveja, perseguição, ou até pequenez... -, sendo o mínimo que nos vaticinavam. O ódio e a inveja do Benfica - como sempre - turvaram-lhes a vista e a lucidez para nos desejarem tanto mal.
Não sejamos nós, agora - e adaptando a célebre frase de Thomas Hobbes «o Homem é o lobo do Homem» - os lobos de nós próprios...
Ser do Benfica é apoiar de forma incondicional e apaixonada o nosso clube, é sofrer e não desistir porque temos a certeza da vitória, é estar (sempre) presente, faça chuva ou sol, frio ou calor.
Essa forma desmedida de apoiar uma equipa faz com que, desde sempre, sejamos qualificados - nunca será de mais repeti-lo - como uma grande, incomparável e extraordinária massa associativa. 
Assim, e por maioria de razão, apoiar o Benfica não pode significar prejudicar o Benfica.
Até porque não há - entre adeptos do Benfica - destinos diferentes, sejam quais forem as razões da nossa diferenciação!
Ou, para usar uma frase bem conhecida: todos diferentes, todos iguais!
Encontremos, por isso, um caminho para apoiar e festejar, mas sem recurso a objectos que estragam o espectáculo de futebol, de forma a evitar incidentes como os recentemente ocorridos em Madrid. Apoiar não significa lançar tochas e petardos. Não queremos ser os maus da fita, nem queremos ser iguais aos outros. Não queremos, ainda, manchar os festejos das nossas vitórias, nem queremos, tão-pouco, ficar fora de jogo.
Os sócios que festejam dessa forma são tão sócios e tão do Benfica como eu. Confesso que não sei, sequer, se naquelas condições e naquele ambiente, eu não poderia vir a cometer o mesmo erro.
Mas com a distância de dirigente, e sobretudo com a legitimidade de 57 anos de idade e 57 anos de sócio, a sofrer, desde que me lembro de mim, pelo Benfica, acho que me sinto com o à-vontade para pedir que isso não se repita.
Por nós, mas, sobretudo, pelo Benfica!
A não ser assim, haverá alguém que, um dia destes, apenas para vingar na política, fará dos nossos adeptos uma arma de arremesso contra o futebol.
Será uma medida populista, de fácil concretização, mas será uma medida, aviso-vos, contra os que só querem o Benfica campeão. Ou seja, uma medida contra todos nós!
Não podemos, também por isso, fazer-lhes a vontade!
Não podemos dar-lhes razões para fazerem carreira política contra nós!
Não podemos, ainda, deixar mal e prejudicar o nosso grande amor, o Sport Lisboa e Benfica!
Porque ser grande é também dar o exemplo enquanto adepto!
Porque ser grande é evidenciar o adicional de alma, de paixão e de mística que, modéstia à parte, nos distingue.
Por isso, e partindo de um denominador comum - a paixão pelo Benfica - e dos valores que sempre nos transmitiram, de respeito e de solidariedade, mas sempre num ambiente de grande alegria, vamos apoiar de forma exemplar o nosso Benfica.
Se todos pensarmos e reflectirmos sobre isso, não será difícil continuarmos a ser os adeptos mais fervorosos e mais apaixonados, dando o exemplo que muitos teimam em achar que não somos capazes de dar.
Teremos de ser, à semelhança do próprio clube, adeptos lutadores, com fervor, emoção e mística... e sempre com um único fim em mente: ganhar... à Benfica.
Vamos começar já a sê-lo no próximo dia 25?
Pelo Benfica!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

2 comentários:

  1. Efectivamente assim é.
    Que a voz nunca lhe doa em defesa do nos Clube, independentemente dos ruídos circundantes sejam eles dos nossos adversãrios ou dos ditos benfiquistas (?) sempre maldizentes, tão típica característica lusitana.

    Obrigado

    Rui Arez

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  2. ....como sempre GENIAL.....parabéns DR RUI GOMES, mostra também a nobreza de caracter de UM GRANDE BENFIQUISTA...é uma lição também para os badochas desta vida, autênticos incendiários de multidões, e que não se ENCHERGAM ao espelho...ESTA É A DIFERENÇA DE SER BENFIQUISTA.....sabemos assumir os nossos erros....(Afonso

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